OS PIONEIROS SÃO RECONHECIDOS PELA FLECHA ESPETADA NO PEITO.
Se você não leu as duas postagens anteriores, sugiro que
o faça antes de prosseguir. Dito isso, vamos em frente.
Nada é eterno nesta vida. Nem a própria vida — que, aliás, a pandemia fez o favor de encurtar.
Não me refiro às mais de 512 mil vidas ceifadas nos últimos 16 meses pela ação conjunta de um vírus maldito e de um governo imprestável. Falo da estimativa de quantos anos uma determinada população nascida em um dado ano tende a viver, e que a pandemia fez retornar ao patamar de 2013, interrompendo um ciclo de crescimento que partiu de 45,5 anos, em 1945, e vinha aumentando 5 meses por ano-calendário até 2020.
O que isso tem a ver com o Windows11?
Nada. Ou tudo, conforme o ponto de vista.
Quando eu nasci, o refrigerador que havia em casa (cuja marca me foge à memória) já soprara sua décima velinha. Mas continuou prestando bons serviços até o final dos anos 1960. Depois de trocar a borracha de vedação da porta umas dez vezes e pintar a geladeira (era assim que a gente se referia ao troço) outras duas ou três, meu pai finalmente comprou um modelo de duas portas da Brastemp... que durou até a virada do século.
Naqueles tempos, as coisas eram feitas “para durar”,
contrapondo-se a uma tendência relativamente recente, abordada no
curta-metragem Obsolescência
Programada, que, em português do asfalto, pode ser resumida numa única frase: a obsolescência é um artifício
utilizado na produção para induzir ao consumo repetitivo.
A relação entre pessoas e artefatos teve início em tempos imemoriais, mas a história do consumo remonta à Idade Média, quando a aquisição de produtos que até então visavam atender às necessidades da família ganhou um viés, digamos, hedonista.
O consumo moderno resultou da evolução histórica da
sociedade e se iniciou na Europa da século XVI, quando os nobres passaram a
gastar com roupas, ornamentos e outros badulaques, criando uma competição
social cujo objetivo era ganhar a atenção da realeza e em troca de prestígio. Com
a Revolução
Industrial, diversos produtos antes manufaturados passaram a ser
produzidos em larga escala. Dito de outro modo: artefatos se transformaram em
produtos, estimulando um consumismo que, mais adiante, se tornaria parte
indissociável do comportamento humano.
Para estimular as “compras repetitivas”, os fabricantes lançam novas versões de seja o que for que eles fabricam em intervalos de tempo cada vez mais curtos e acompanhadas de campanhas de marketing que visam passar ao público-alvo a ideia de que as novas funcionalidades (que em muitos casos não passam de inutilidades) justificam a substituição de algo em perfeitas condições de conservação e funcionamento pelo modelo mais recente, que é supostamente “superior”. O diabo é que em economias terceiro-mundistas como a nossa o poder aquisitivo do povo raramente permite transformar em realidade o que se convencionou chamar de “sonho de consumo”.
Para contornar esse empecilho, a indústria gestou e pariu a “obsolescência programada” — ou por outra, reduziu a “vida útil” dos assim
chamados “bens duráveis” para antecipar o momento da troca por um modelo
estalando de novo.
Observação: Por “vida útil”, entenda-se
a durabilidade de um bem consumo, que é definida pelo período de
tempo que o produto perde a validade ou deixa de apresentar o desempenho
esperado; por “bem durável”, entenda-se produtos que só se deterioram ou
perdem a utilidade com o uso persistente ou após um largo período de tempo,
como é o caso dos automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e afins.
Alguns produtos parecem ser programados para deixar
de funcionar no dia seguinte ao prazo limite da garantia, e o conserto chega a custar quase tanto quanto a troca por uma versão nova, fazendo com que o molho saia mais caro que o peixe. Some-se a isso as “facilidades” oferecidas pelos comércio — como o pagamento do “preço à vista”
dividido em “n” parcelas — e os 12 meses de
garantia contra defeitos de fabricação (que os fabricantes não raro se escusam
de cobrir alegando mau uso ou outra desculpa esfarrapada qualquer) e... enfim, acho
que já deu para entender.
Passando ao mote desta postagem, a Microsoft não fabrica computadores, mas seu portfólio e focado nos usuários de computador, daí e gigante do software dar “uma mãozinha” à indústria do hardware. Discutir isso em detalhes seria interessante, mas vamos deixar para uma próxima oportunidade. De momento, interessa dizer que a gratuidade do Win11 é uma reedição da estratégia de marketing usada pela mãe da criança em 2015, quando lançou o Windows10 e adotou uma modalidade de distribuição conhecida como SaaS.
O Software as a Service (programa como serviço, em tradução livre) se popularizou a reboque de serviços de streaming de vídeo (como Netflix), de música (como Spotify) e de armazenagem remota de conteúdo digital (como OneDrive, Dropbox e Google Drive, só para ficar nos mais populares). Para estimular a adoção do Win10, a Microsoft ofereceu a migração gratuita pelo período de um ano a usuários que rodassem o Win7, 8 e 8.1 em computadores compatíveis.
Observação: Oficialmente, o prazo para a migração gratuita terminou em meados de 2016; mas ainda é possível fazer a evolução sem custos, conforme eu mencionei nesta postagem).
O SaaS não é exatamente um modelo por assinatura — no qual o cliente contrata um pacote de serviços ou seleciona individualmente os recursos que deseja acessar e paga somente por aquilo que usar —, ainda que a empresa possa se valer dessa estratégia para obter receita recorrente.
O software como serviço pode ser gratuito (caso do Gmail, p.ex.) ou pago (caso do Windows 365, também p.ex.), e há opções voltadas tanto ao uso pessoal quanto ao corporativo. De modo geral, uma fez feita a aquisição, o programa pode ser acessado de qualquer lugar, a qualquer momento, através do desktop, notebook, tablet ou smartphone, p.ex., desde que o dispositivo tenha conexão com a Internet.
Deixando de lado os entretantos e passando aos finalmentes, segue um tutorial para burlar a exigência da TPM 2.0 (Trusted Plataform Module) que a Microsoft estabeleceu como condicionante para o update do Win10 para a versão 11. Cumpre salientar que eu não testei o tutorial, seja porque muita água vai rolar até a nova versão sistema começar a ser distribuída oficialmente para toda a base de usuários, e até lá a chiadeira geral pode fazer com que a empresa reveja os requisitos mínimos; seja porque os pioneiros são reconhecidos pela flecha espetada no peito; seja porque a ISO do Win11 vazada na Web ainda não instala a versão definitiva. Por essas e outras, tenha em mente que você estará por sua conta e risco se seguir roteiro abaixo. Dito isso, vamos ao que interessa.
Há duas maneiras de resolver o problema criado pela Microsoft ao vincular a nova versão do Windows à habilitação da TPM (ou PTT, ou fTPM, conforme o UEFI do seu computador). A primeria não envolve risco, na medida em que muitas máquinas vêm com esse firmware desabilitado por padrão, bastando, portanto, ativá-lo na tela do CMOS Setup (mais detalhes na postagem anterior). Assim que você fizer o ajuste, esse elemento de segurança passará a figurar no Gerenciador de Dispositivos do Windows (oriente-se pela ilustração).
Caso seu processador/placa-mãe não ofereça o recurso em questão, recorra ao plano B (por sua conta e risco), lembrando que, por se tratar de uma “gambiarra”, podem ocorrer instabilidades ou outros problemas de funcionamento do computador. Feita essa ressalva:
1) Baixe uma ISO do Win10 e a ISO vazada do Win11.
2) Abra a ISO do Win10 no Explorador de Arquivos (clicando com o botão direito do mouse e selecionando Montar).
3) Localize e copie o arquivo “appraiserres.dll” para a Area de Trabalho ou em outro local a partir do qual seja possível acessá-lo facilmente.
4) Abra a ISO vazada do Win11 usando um programa como o WinISO (que é pago) ou o AnyBurn (que é gratuito) e substitua o arquivo “appraiserres.dll” original pela versão copiada do Win10.
5) Feche todas as telas e reinicie o computador.
Se tudo sair como esperado, a instalação do Win11 vai transcorrer sem problemas. Mas note que “deve” não significa o mesmo que “vai”. Diz um velho ditado que se conselho fosse bom, ninguém dava de graça. Ainda assim, ouso sugerir ao leitor(a) que dê tempo ao tempo. E faço-o por pelo menos três razões:
1) Existe a possibilidade de a Microsoft voltar atrás no que concerne ao TPM 2.0 — é óbvio que o Win11 pode prescindir disso, como comprova a maracutaia descrita linhas atrás.
2) A empresa continuará oferecendo suporte ao Windows 10 Home e Pro — incluindo as versões Pro Education e Pro for Workstations — até 14 de outubro de 2025.
3) É bem possível que a obsolescência programada não demore a impor a troca do seu PC por um modelo novinho em folha, que certamente já virá com o Win11 pré-instalado de fábrica.