Iniciei a postagem anterior (O
Sexo dos Anjos e o Inferno Astral do Governo Federal) com uma breve
remissão ao campo celestial. Inicio a de hoje relembrando o velho Juquinha: “A
Igreja disse que o Diabo existe. E se ele existe, deve ser casado, já que tem
chifres”.
Em outubro de 2010, quando o poste petralha derrotou o
tucano José Serra por uma diferença de 12,1% dos votos válidos, eu publiquei:
“Refletindo sobre o efeito do nada, me dei conta de
que o Brasil é o único país do mundo governado por um alcoólatra que instituiu
uma lei seca, um analfabeto que assinou uma reforma ortográfica, pai de um
filho que, do nada, se tornou ‘gênio das finanças’, e que teve a cara de
pau de pedir a Deus para dar INTELIGÊNCIA a Barack Obama (que é
formado em Harvard). Depois disso, EU TINHA QUE MUDAR DE LADO. Resolvi ficar ao lado de
Lula (afinal, se ficar atrás, ele caga, e se ficar na frente, ele fode) e
esperar que tudo volte ao normal um dia, quando ARRUDA voltará a ser
simplesmente uma plantinha que espanta mau-olhado; Genuíno, algo verdadeiro; Genro, apenas o marido da
filha; Severino, apenas o porteiro do prédio; Fraude, só uma corruptela do nome
do Pai da Psicanálise; Lorenzetti, só uma marca de chuveiro; Greenhalgh, um
almirante que entrou para a história; Dirceu, Palocci, Delúbio, Silvio
Pereira, Berzoini, Gedimar, Valdebran, Bargas, Expedito Veloso, Gushiken e
Renan, simples presidiários; e LULA, apenas um fruto do mar. Quando olho
meu título de eleitor, velhinho, coitado, e penso no Lula aliado ao Collor e na
defesa da vida ilibada da Famiglia Sarney, entendo o verdadeiro significado do “ZONA eleitoral” que
está escrito nele!
Foi “histórica” a sessão
da CPI do Genocídio desta sexta-feira, disseram quase em uníssono o
presidente, o vice e o relator da Comissão. Foi emocionante o discurso da
senadora Simone Tebet, que arrancou
a fórceps do deputado Luis Miranda o nome que Bolsonaro
mencionou ao ser informado pelo deputado e seu irmão, o servidor da Saúde Luis
Ricardo, de que algo cheirava mal no reino da Covaxin). O depoente
foi pressionado por diversos senadores, ao longo de toda a sessão, a dar nomes
aos bois, mas insistia em dizer que não se lembrava.
Segundo o deputado, o presidente teria dito “É mais um rolo desse..., você sabe quem”, mas insistia em dizer que não se lembrava do nome (alguma coisa no ar da sala onde as sessões da CPI são realizadas, ou na água que os garçons servem o tempo todo, causa essa curiosa amnésia nos depoentes). Até que o senador Alessandro Vieira levantou a bola ao chamar o depoente de “covarde”, e Tebet subiu e cortou: “Foi o Ricardo Barros que o presidente falou. Foi o Ricardo Barros”, repetiu o Luis Miranda, quase aos prantos.
“Eu sei o que vai acontecer comigo”, prosseguiu o deputado. A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou”. Simone Tebet insistiu: “O senhor confirma?”. E Miranda, já em lágrimas: “Eu queria ter dito desde o primeiro momento, mas é que vocês não sabem o que eu vou passar. Apontar para o presidente da República que todo mundo defende como correto e honesto, que sabe que tem algo errado, sabe o nome, sabe quem é e não faz nada por medo da pressão que pode levar do outro lado. Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo o errado, quem desvia dinheiro?”.
Sob o peso da denúncia, o presidente da CPI, senador Omar Aziz engrossou o coro de vários senadores que pediram reforço na segurança dos irmãos.
Foram histéricas e patéticas, respectivamente, as tentativas dos senadores governistas Fernando Bezerra e Marcos Rogério de tumultuar os trabalhos da Comissão e constranger os depoentes. No afã de defender o indefensável, eles se perderam em alegações incoerentes, como um jogral mal ensaiado. Seja qual for a versão a ser construída pelo Planalto, ela não ficará em pé enquanto Bolsonaro não levantar o tapete que esconde a mão que colocou a vacina indiana e uma fatura esquisita de R$ 222 milhões na porta do cofre do Tesouro Nacional.
Por outro lado, ouvir do trio assombro (falo de Aziz, Rodrigues e Calheiros) que, uma vez comprovada a veracidade do testemunho dos Miranda, a permanência do capetão na Presidência se tornará insustentável foi como a visão de um oásis para um beduíno sedento. Resta saber se não se trata apenas de uma miragem.
“A direção desta CPI analisará a possibilidade de
comunicar ao STF a ocorrência desse crime para as devidas
observâncias do que está disposto no art. 86 da Constituição da República”,
disse o vice-presidente da Comissão. “Hoje foram apresentados aqui todos
os elementos de um crime cometido pelo presidente da República. O senhor
presidente recebeu a comunicação de um
fato criminoso, não tomou a devida providência para instaurar inquérito,
não tomou a devida providência para deter o continuado delito”,
arrematou.
Observação: Prevaricação é um crime previsto no
Código Penal, que consiste em “retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal”.
Ao empurrar a CPI para dentro do gabinete de Bolsonaro
e adicionar à sua pauta a corrupção, os Miranda alargaram os horizontes
da investigação legislativa e encurtaram a margem de manobra do capitão, que se
dará por feliz se conseguir cumprir dois objetivos estratégicos: não cair e
continuar dando a impressão de que comanda. Dias atrás, o deputado-réu que
preside a Câmara e é correligionário de Ricardo Barros no PP e no
Centrão afirmou em entrevista que “a CPI não trará efeito algum”
pois “falta circunstância” para o impeachment. No comando de um gavetão
onde há cerca de 130 pedidos de impedimento, Lira deu de ombros para o “Fora,
Bolsonaro” que soara nos protestos de sábado passado. Menosprezara a
ultrapassagem da marca de mais de 510 mil mortos por Covid.
No momento, há três coisas certas na vida dos brasileiros:
as mortes por Covid, as crises do Bolsonaro e os imprevistos da CPI.
Depois de se recusar a presidir o vírus, o capitão passou a ser presidido por
ele. Bolsonaro gosta de dizer “minhas Forças Armadas”. Precisa
começar a proclamar “meu Centrão”. A CPI dá à aliança do capitão
com o centrão de Lira e Barros uma aparência de abraço de
afogados. No momento, Bolsonaro dissimula sua falta de rumo fingindo que
faz e acontece. Pode continuar até o final de 2022. Mas terá de fazer algo mais
além de xingar jornalistas. O Centrão já caiu na água outras vezes. O
problema é que não costuma ficar molhado por muito tempo
Por último, mas não menos importante: de passagem pelo Rio
Grande do Norte em busca da popularidade perdida... Aqui cabe abrir um parêntese:
a exemplo de um edifício construído pela milícia no Rio das Pedras, a
popularidade do presidente desabou nos últimos meses. O “mito” está tão
impopular que até a Pfizer desistiu de lhe manar emails. Especula-se que a
próxima motociata via ser realizada em uma pista de kart no estacionamento de
um shopping center. O ministro Fábio Faria (faria, mas não fez) recomendou
a presidente que, em vez de máscara, só dê entrevista de focinheira. Se
continuar com esses índices de rejeição, Bolsonaro não se elege nem para
subsíndico do Vivendas da Barra. Fecho o parêntese.
Os adversários costumam dizer que Bolsonaro sofre de
insanidade. Não é verdade. Ele aproveita cada segunda dela. Quando foi
infectado pelo coronavírus, atingiu o platô da maluquice ao perseguir uma ema
nos jardins do Alvorada, exibindo uma caixa de cloroquina para a ave. Numa
evidência de que surfa uma nova onda de insânia, agora arranca
máscaras de crianças que não dispõem da mesma agilidade exibida pela ema.
Alguém precisa trocar o medicamento do presidente. Já se sabia que a cloroquina
não tem serventia no tratamento da Covid. Agora sabe-se que a droga é
inútil também para quem precisa restaurar as faculdades mentais. A boa
notícia é que, embora a popularidade do Messias que não miracula esteja
derretendo, seus índices de falta de absolutamente não aumentaram. Continuam
nos mesmos 100%. A má notícia é que os pais das crianças que tiverem
contato com o presidente terão de procurar psicólogos infantis.