domingo, 27 de junho de 2021

OS CHIFRES DO DIABO

 

Iniciei a postagem anterior (O Sexo dos Anjos e o Inferno Astral do Governo Federal) com uma breve remissão ao campo celestial. Inicio a de hoje relembrando o velho Juquinha: “A Igreja disse que o Diabo existe. E se ele existe, deve ser casado, já que tem chifres”.

Em outubro de 2010, quando o poste petralha derrotou o tucano José Serra por uma diferença de 12,1% dos votos válidos, eu publiquei:

Refletindo sobre o efeito do nada, me dei conta de que o Brasil é o único país do mundo governado por um alcoólatra que instituiu uma lei seca, um analfabeto que assinou uma reforma ortográfica, pai de um filho que, do nada, se tornou ‘gênio das finanças’, e que teve a cara de pau de pedir a Deus para dar INTELIGÊNCIA a Barack Obama (que é formado em Harvard). Depois disso, EU TINHA QUE MUDAR DE LADO. Resolvi ficar ao lado de Lula (afinal, se ficar atrás, ele caga, e se ficar na frente, ele fode) e esperar que tudo volte ao normal um dia, quando ARRUDA voltará a ser simplesmente uma plantinha que espanta mau-olhado; Genuíno,  algo verdadeiro; Genro, apenas o marido da filha; Severino, apenas o porteiro do prédio; Fraude, só uma corruptela do nome do Pai da Psicanálise; Lorenzetti, só uma marca de chuveiro; Greenhalgh, um almirante que entrou para a história; Dirceu, Palocci, Delúbio, Silvio Pereira, Berzoini, Gedimar, Valdebran, Bargas, Expedito Veloso, Gushiken e Renan, simples presidiários; e LULA, apenas um fruto do mar. Quando olho meu título de eleitor, velhinho, coitado, e penso no Lula aliado ao Collor e na defesa da vida ilibada da Famiglia Sarney, entendo o verdadeiro significado do “ZONA eleitoral” que está escrito nele!

Foi “histórica” a sessão da CPI do Genocídio desta sexta-feira, disseram quase em uníssono o presidente, o vice e o relator da Comissão. Foi emocionante o discurso da senadora Simone Tebet, que arrancou a fórceps do deputado Luis Miranda o nome que Bolsonaro mencionou ao ser informado pelo deputado e seu irmão, o servidor da Saúde Luis Ricardo, de que algo cheirava mal no reino da Covaxin). O depoente foi pressionado por diversos senadores, ao longo de toda a sessão, a dar nomes aos bois, mas insistia em dizer que não se lembrava.

Segundo o deputado, o presidente teria dito “É mais um rolo desse..., você sabe quem”, mas insistia em dizer que não se lembrava do nome (alguma coisa  no ar da sala onde as sessões da CPI são realizadas, ou na água que os garçons servem o tempo todo, causa essa curiosa amnésia nos depoentes). Até que o senador Alessandro Vieira levantou a bola ao chamar o depoente de “covarde”, e Tebet subiu e cortou: “Foi o Ricardo Barros que o presidente falou. Foi o Ricardo Barros”, repetiu o Luis Miranda, quase aos prantos. 

Eu sei o que vai acontecer comigo”, prosseguiu o deputado. A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou”. Simone Tebet insistiu:O senhor confirma?”. E Miranda, já em lágrimas: “Eu queria ter dito desde o primeiro momento, mas é que vocês não sabem o que eu vou passar. Apontar para o presidente da República que todo mundo defende como correto e honesto, que sabe que tem algo errado, sabe o nome, sabe quem é e não faz nada por medo da pressão que pode levar do outro lado. Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo o errado, quem desvia dinheiro?”. 

Sob o peso da denúncia, o presidente da CPI, senador Omar Aziz engrossou o coro de vários senadores que pediram reforço na segurança dos irmãos.  

Foram histéricas e patéticas, respectivamente, as tentativas dos senadores governistas Fernando Bezerra e Marcos Rogério de tumultuar os trabalhos da Comissão e constranger os depoentes. No afã de defender o indefensável, eles se perderam em alegações incoerentes, como um jogral mal ensaiado. Seja qual for a versão a ser construída pelo Planalto, ela não ficará em pé enquanto Bolsonaro não levantar o tapete que esconde a mão que colocou a vacina indiana e uma fatura esquisita de R$ 222 milhões na porta do cofre do Tesouro Nacional. 

Por outro lado, ouvir do trio assombro (falo de Aziz, Rodrigues e Calheiros) que, uma vez comprovada a veracidade do testemunho dos Miranda, a permanência do capetão na Presidência se tornará insustentável foi como a visão de um oásis para um beduíno sedento. Resta saber se não se trata apenas de uma miragem.

A direção desta CPI analisará a possibilidade de comunicar ao STF a ocorrência desse crime para as devidas observâncias do que está disposto no art. 86 da Constituição da República”, disse o vice-presidente da Comissão. “Hoje foram apresentados aqui todos os elementos de um crime cometido pelo presidente da República. O senhor presidente recebeu a comunicação de um fato criminoso, não tomou a devida providência para instaurar inquérito, não tomou a devida providência para deter o continuado delito”, arrematou.

Observação: Prevaricação é um crime previsto no Código Penal, que consiste em “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

Ao empurrar a CPI para dentro do gabinete de Bolsonaro e adicionar à sua pauta a corrupção, os Miranda alargaram os horizontes da investigação legislativa e encurtaram a margem de manobra do capitão, que se dará por feliz se conseguir cumprir dois objetivos estratégicos: não cair e continuar dando a impressão de que comanda. Dias atrás, o deputado-réu que preside a Câmara e é correligionário de Ricardo Barros no PP e no Centrão afirmou em entrevista que “a CPI não trará efeito algum” pois “falta circunstância” para o impeachment. No comando de um gavetão onde há cerca de 130 pedidos de impedimento, Lira deu de ombros para o “Fora, Bolsonaro” que soara nos protestos de sábado passado. Menosprezara a ultrapassagem da marca de mais de 510 mil mortos por Covid.

No momento, há três coisas certas na vida dos brasileiros: as mortes por Covid, as crises do Bolsonaro e os imprevistos da CPI. Depois de se recusar a presidir o vírus, o capitão passou a ser presidido por ele. Bolsonaro gosta de dizer “minhas Forças Armadas”. Precisa começar a proclamar “meu Centrão”. A CPI dá à aliança do capitão com o centrão de Lira e Barros uma aparência de abraço de afogados. No momento, Bolsonaro dissimula sua falta de rumo fingindo que faz e acontece. Pode continuar até o final de 2022. Mas terá de fazer algo mais além de xingar jornalistas. O Centrão já caiu na água outras vezes. O problema é que não costuma ficar molhado por muito tempo

Por último, mas não menos importante: de passagem pelo Rio Grande do Norte em busca da popularidade perdida... Aqui cabe abrir um parêntese: a exemplo de um edifício construído pela milícia no Rio das Pedras, a popularidade do presidente desabou nos últimos meses. O “mito” está tão impopular que até a Pfizer desistiu de lhe manar emails. Especula-se que a próxima motociata via ser realizada em uma pista de kart no estacionamento de um shopping center. O ministro Fábio Faria (faria, mas não fez) recomendou a presidente que, em vez de máscara, só dê entrevista de focinheira. Se continuar com esses índices de rejeição, Bolsonaro não se elege nem para subsíndico do Vivendas da Barra. Fecho o parêntese.

Os adversários costumam dizer que Bolsonaro sofre de insanidade. Não é verdade. Ele aproveita cada segunda dela. Quando foi infectado pelo coronavírus, atingiu o platô da maluquice ao perseguir uma ema nos jardins do Alvorada, exibindo uma caixa de cloroquina para a ave. Numa evidência de que surfa uma nova onda de insânia, agora arranca máscaras de crianças que não dispõem da mesma agilidade exibida pela ema. Alguém precisa trocar o medicamento do presidente. Já se sabia que a cloroquina não tem serventia no tratamento da Covid. Agora sabe-se que a droga é inútil também para quem precisa restaurar as faculdades mentais. A boa notícia é que, embora a popularidade do Messias que não miracula esteja derretendo, seus índices de falta de absolutamente não aumentaram. Continuam nos mesmos 100%. A má notícia é que os pais das crianças que tiverem contato com o presidente terão de procurar psicólogos infantis.