Para surpresa de ninguém, o senador Ciro Nogueira
"aceitou o convite" do presidente Jair (já deveria ter ido) Bolsonaro
para chefiar
a Casa Civil. O
embarque do parlamentar piauiense é mais uma prova provada de que: 1) o
mundo gira e a Lusitana roda; 2) o desafeto de hoje
pode ser o aliado de amanhã (e vice-versa); 3) nada é tão ruim que
não possa piorar.
Caiu no colo do capo da camarilha política — por
exigência inegociável do bloco fisiológico — a cobiçada pasta que em outros
tempos e enredo abrigou o inefável José Dirceu, espécie de eminência
parda petista, de onde mandou e desmandou na tessitura do Mensalão.
Nogueira entra na vaga deixada pelo general Luiz
Eduardo Ramos, dispensado dos préstimos de ajudante de ordens do capitão-psicopata
que, quando candidato, pegou em lanças contra o Centrão,
condenou a "velha
política do toma-lá-dá-cá" e prometeu combater a corrupção; agora, na reta final do mandato, entrega o
controle da articulação política do governo ao bloco fisiologista e engole sem mastigar cada palavra do célebre "Se
gritar pega Centrão, não fica um meu irmão", cantarolado em tom de
superioridade pelo general Augusto Heleno na campanha de 2018.
Visando podar as arestas e justificar mais um
cavalo-de-pau para sua récua de apoiadores, Bolsonaro reconheceu ser "fruto
do Centrão" (contrariando sua falácia de palanque) e negou que as
marafonas do Congresso e a cafetina do lupanar (transmudada da noite para o
dia em "bolsonarista desde criancinha") sejam o câncer da
política tupiniquim. Mas toda araruta tem seu dica de mingau.
O novo "primeiro-ministro" responde a
dois inquéritos no STF — por suspeita de receber propina de empreiteiras e por tentativa
de atrapalhar a Lava-Jato — e o partido que ele preside (Progressistas)
está no centro das atenções da CPI, com o líder do governo na Câmara, Ricardo
Barros, enrolado no caso Covaxin e orbitando outras maracutaias protagonizadas
por Roberto
Dias (que recorreu ao STF para pedir a suspensão
dos efeitos de sua prisão na CPI).
Durante uma entrevista à TV piauiense Meio Norte em 2017, Nogueira não só desancou o então candidato Jair Bolsonaro como enalteceu seu principal adversário: “Eu tenho muita restrição a Bolsonaro porque ele é um fascista, ele tem um caráter fascista [...] Lula foi o melhor presidente da história deste país”.
Naquela
época, ninguém acreditava que o mau
militar e parlamentar
medíocre se tornaria o próximo inquilino do Palácio do Planalto, nem
que terminaria sua execrável gestão emparedado pela CPI do Genocídio, com
a filharada enrolada — somente a caçula (de 11 anos) não é alvo de
investigações; afora o célebre caso de Zero
Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério
Público investigam
Zero Dois, Zero Três e Zero Quatro por tráfico de influência,
contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de
manifestações antidemocráticas.
Observação: O próprio presidente está
enterrado até o pescoço no lamaçal da Covaxingate. Fosse esta
banânia um país sério, Bolsonaro já teria sido expelido do cargo — para
o qual jamais foi talhado, mas acabou sendo eleito graças à rejeição popular ao
lulopetismo corrupto.
Na bizarra aliança em assunto, fica evidente que a carniça precisa mais dos urubus que os urubus da carniça. O presidente foi forçado a dar os anéis — e o relógio, a pulseira, o cordão e a medalhinha — para não perder os dedos. A escumalha centrista aglutina cerca de 200 dos 513 deputados federais, o que pode lhe assegurar um mínimo de governabilidade e blindá-lo contra um impeachment ou inquérito no STF.
Com mais de 130 pedidos de impedimento na lomba — a
maior parte embasada em crimes de responsabilidade facilmente comprováveis —, o
capitão-sem-rumo se equilibra no cargo graças à benevolência alheia. Ao bravatear que só
Deus o tira da cadeira presidencial, parece
atribuir a condição de divindade ao deputado-réu
alagoano Arthur Lira — eleito presidente da Câmara com
as "benção$" do Planalto — e a Augusto Aras — o PGR
vassalo que lambe as botas do suserano na esperança de ser reconduzido ao cargo e continuar prestando a tal proteção legal de divina
providência a seu benfeitor.
A manobra de Bolsonaro é uma prova inequívoca de fragilidade do governo, mas pode definir o destino partidário do presidente, sem mencionar que a ida de um membro da Câmara Alta para a Esplanada é vista com simpatia pelos senadores da base aliada.
No que tange à CPI do Genocídio, os membros do G7 afirmam que tudo continuará como dantes no Quartel de Abrantes. Que os anjos digam amém.