A CPI ouviu ontem o consultor técnico do Ministério da Saúde William Santana, que disse ter notado erros e pedido correções na invoice da Covaxin. Essas inconsistências já haviam sido apresentadas à Comissão e despertado suspeitas de irregularidades no contrato. A negociação, de R$ 1,6 bilhão, é alvo de investigações por parte da CPI, do MPF, da PF e do TCU, e o contrato foi suspenso pelo governo em razão dos indícios de irregularidades. Omar Aziz, presidente da Comissão, informou que a convocação de Onyx Lorenzoni ― que, segundo o relator, cometeu crime ao tentar confundir a investigação ― será votada na terça-feira, e que "está chegando a hora" de promover uma acareação entre Luis Miranda e Lorenzoni.
Por volta das 16h30, em resposta aos comentários de Bolsonaro
sobre o processo eleitoral brasileiro, o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, disse à imprensa que "o
Congresso não aceitará 'retrocesso' nem 'frustração das eleições'". Bolsonaro chamou o ministro do STF e presidente
do TSE de "idiota"
e "imbecil" e voltou a ameaçar a realização das eleições
de 2022. Barroso disse que não vai bater boca e que garante que vai haver eleição. Os ministros do STF
avaliam que está na hora de o
TSE dar uma resposta enfática a Bolsonaro. Ontem à tarde, por meio de nota, Barroso disse que qualquer atuação no sentido de impedir as eleições
viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade.
Sobre o imbróglio criado pela nota da alta cúpula militar, Renan disse que a Comissão "não
tem medo de quarteladas" e prosseguirá com a investigação, haja o que
houver. Na tentativa de apaziguar os ânimos, Braga Netto e Rodrigo Pacheco conversaram
por telefone e o senador publicou em suas redes sociais que "o
episódio foi um 'mal-entendido' e que o assunto estava 'encerrado'".
O relator também fez menção à
resposta de Bolsonaro à carta enviada pela cúpula da CPI. Na live da
última quinta-feira, com a finesse que lhe é peculiar, o presidente disse que
sua resposta ao ofício é: "caguei
para CPI". Na próxima terça-feira a Comissão deve ouvir Emanuela
Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos. Na quarta será
a vez do reverendo Amilton Gomes de Paula. Nos próximo dias devem ser ouvidos também o coronel Marcelo Blanco, ex-diretor-substituto de
Logística do Ministério da Saúde, e José Ricardo Santana, ex-diretor da Anvisa.
Sempre atribuí à récua de muares (leia-se “eleitorado”) a culpa pela desgraça nacional. Afinal, quem jejua de urna por 29 anos e, quando dispõe de candidatos como Mario Covas e Ulysses Guimarães, escala Collor e Lula para disputar o segundo turno tem mais que se enforcar num pé de cebola. Como não há nada tão ruim que não possa piorar (Murphy), ao caçador de marajás de araque sucederam um sociólogo emproado, um retirante analfabeto (mais tinhoso que o Cão), uma anta fantasiada de gerentona e — a cereja do bolo — o dublê de mau militar e parlamentar medíocre que superou minhas (piores) expectativas.
Dizia Jobim
que o Brasil não é para amadores e Churchill,
que a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras
e que a melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com
um eleitor mediano. Figueiredo
(que era um sábio e não sabia) sentenciou que um povo que não sabe sequer
escovar os dentes não está preparado para votar. Deu para entender ou eu
preciso desenhar?
Mas não seria justo culpar (somente) o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim por suas mazelas. Até porque, sem ajuda externa, essa matula não é capaz sequer de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna. E é aí que entra a polarização político-ideológica: sem o lulopetismo corrupto, o bolsonarismo boçal não existiria, já que ambas as facções se retroalimentam. Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca termine.
Somadas aos 530 milhões de mortes por Covid, as suspeitas de corrupção que pairam sobre um presidente que "acabou com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo" e sua total inadequação ao cargo para o qual foi eleito por absoluta falta de opção, fizeram o núcleo compacto do bolsonarismo minguar para 15% — a título de comparação, no auge de sua derrocada, Dilma, a inolvidável, contava com 20% de popularidade.
A rejeição a Bolsonaro atinge o maior índice desde janeiro de 2019. Levantamento divulgado pelo Datafolha na última quinta-feira dá conta de que 51% dos brasileiros reprovam o presidente — a pior marca registrada desde janeiro de 2019. Apenas 24% o aprovam e os que o consideram regular caíram de 30% em maio para 24%. A maioria dos entrevistados considera o capitão "despreparado", "incompetente", "desonesto", "pouco inteligente", "falso", "indeciso" e "autoritário"; 55% dizem nunca confiar no que ele diz e 70% acreditam que há corrupção no governo.
A política é a arte do possível (Bismarck), mas aturar as aleivosias bolsonarianas é quase impossível. O problema é que ninguém quer expeli-lo do cargo. Os que tencionam enfrentá-lo em 2022 acham melhor deixá-lo sangrar até as eleições. Só que pode não funcionar, como não funcionou com Lula em 2006. Com o ambiente socioeconômico favorável, o assassinato de Celso Daniel, o Mensalão, o Petrolão, a Máfia dos Sanguessugas, a CPI dos Correios, o "Mais Médicos", o Bancoop, o Gamecorp e tantos outros escândalos de corrupção foram relativizados pelo "eleitor mediano", e a "alma viva mais honesta do Brasil" não só se reelegeu como se fez suceder por um "poste" em 2010.
Observação: Uma das especialidades do picareta dos
picaretas foi inventar "postes" e, por intermédio deles, continuar mandando
e desmandando no país. Certa feita, durante um jantar com comparsas, entre
goles de Romanée Conti e baforadas de cigarrilhas cubanas, o molusco disse ser capaz de eleger até um poste para governar o Brasil. E elegeu
mesmo: a mulher sapiens, que sem saber atirar virou modelo de
guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar
pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; sem estagiar no
Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante fez posse de
gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de
palanque; e sem ter tido um único voto na vida virou presidanta.
Lula passou míseros 580 dias na cadeia, embora tenha sido condenado a mais de 20 anos em dois processos — por 10 magistrados de três instâncias do Judiciário —, e teve a ficha-suja lavada pelo mesmo STF que, em 2019, com o voto de minerva do Dias Toffoli, mudou a jurisprudência acerca da prisão em segunda instância, num julgamento sob medida para, mais adiante, anular as condenações e devolver ao jogo político aquele que lhe cobriu os ombros com a suprema toga e que ora se vende como a "esperança democrática", o fiador da "pacificação". Mi fa schifo!
Dizem as más-línguas que o petralha está eleito, que o capetão é carta fora do baralho e que não há espaço nem tempo hábil para uma "terceira via". Pode ser, mas também pode não ser. Além de não serem infalíveis, os institutos de pesquisa produzem apenas "instantâneos" do cenário atual (por atual, entenda-se o momento em que a pesquisa é realizada).
Embora ainda seja improvável, o impedimento do morubixaba da tribo vem se tornando uma possibilidade mais real, sobretudo depois que a CPI passou a expor as entranhas pútridas do governo. E ainda há muito a ser investigado, descoberto e revelado. Parafraseando o saudoso Teori Zavascki, que precedeu Edson Fachin na relatoria da Lava-Jato no STF, "puxa-se uma pena e surge uma galinha".
O impeachment é um processo eminentemente político, e o fiel da balança é a pressão popular. O povo nas ruas foi determinante para a queda de Collor, em 1992, e de Dilma, em 2016. Há mais de 120 pedidos de abertura de processo no gavetão da presidência da Câmara, trancada a sete-chave pelo deputado-réu e primeiro-ministro informal do governo. Bolsonaro também conta com o apoio do Centrão — que alugou a peso de ouro para blindá-lo dessas "inconveniências". Se o clamor das multidões continuar crescendo, mais dia, menos dia, as marafonas do Parlamento terão de rever sua posição, pois cada qual tem que pensar na própria reeleição.
Se a disputa presidencial fosse hoje, talvez o senador Omar Aziz, presidente da CPI do Genocídio, escanteasse o "mito" e disputasse o segundo turno contra o petralha ex-corrupto. O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que faltam 15 meses para as eleições, e até lá muita coisa pode mudar. Como dizia Magalhães Pinto, política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito; olha de novo e ela já mudou.