Em mais um capítulo da batalha entre o STF e o Palácio do Planalto e seus apoiadores, o ministro Alexandre de Moraes determinou nesta sexta-feira (13) a prisão preventiva do ex-deputado federal Roberto Jefferson, cuja biografia se confunde com uma folha corrida.
De ex-presidiário do mensalão, Jefferson se converteu
em modelo do bolsonarismo ao percorrer a conjuntura incitando a prática
de crimes em entrevistas e nas redes sociais, pregando a intervenção militar
sob o comando de Bolsonaro e incitando a invasão do Senado e a
destituição dos ministros do Supremo. É graças a esse tipo de pregação que o
Brasil se consolida na Era Bolsonaro como o mais antigo país do
futuro do mundo.
Jefferson está indo para a cadeia porque tem um
entendimento particular da democracia? Porque discorda das decisões de
ministros do Supremo? Porque é favorável à reeleição de Bolsonaro?
Porque aprova o comportamento do governo federal durante a pandemia? Obviamente
não! Isso é parte do proselitismo vagabundo com que os devotos do bolsonarismo
tentam imputar ao tribunal — particularmente ao ministro Alexandre de Moraes
— uma decisão atrabiliária, autoritária.
Alega essa escumalha que ao determinar a prisão preventiva
do ex-parlamentar o ministro ofendeu o direito constitucional à liberdade de
expressão — que bolsonaristas e simpatizantes veem como um salvo-conduto para a
delinquência e o crime. Tomar crime por liberdade de expressão consiste em
instrumentalizar os códigos da democracia para solapá-la; tomar a liberdade de
expressão como um crime remete a uma questão quase ancestral, que está em
"A República", de Platão, já suficiente e
brilhantemente dissecada por Karl Popper em "A Sociedade Aberta
e Seus Inimigos", como explanou Reinaldo Azevedo neste
artigo.
Não deixa de ser comovente ver defensores de um golpe
militar posando de arautos do livre pensar e do livre dizer. A Lei de
Segurança Nacional, mesmo com todo o lixão que abrigava, permitia punir os
prosélitos do golpismo. E, claro, não por acaso, um bolsonarista como André
Mendonça se valeu dessa aberração para punir opiniões desairosas ao
presidente da República. Só que não estamos lidando com uma corrente de
pensamento política que tenha ao menos coerência interna no seu erro, e sim com
oportunistas vulgares, pilantras, aproveitadores, depredadores da ordem
democrática, golpistas.
Jefferson é um político flexível. Recompensado, pode
ser a favor de tudo ou contra qualquer outra coisa. Integrou a milícia
congressual de Collor. Sob Lula, interessou-se pelos negócios dos
Correios. Pilhado, virou delator. Ainda não contou como distribuiu o mimo de R$
4 milhões que recebeu de Delúbio Soares, então gestor das arcas do PT.
Sob Dilma, o PTB de Jefferson foi apanhado plantando bananeira na
Casa da Moeda. Sob Temer, assumiu o balcão em que se vendiam no
Ministério do Trabalho registros de sindicatos por cifras que também roçaram os
R$ 4 milhões. Agora, Jefferson retorna à cadeia como herói da
resistência do bolsonarismo.
O PTB é um cartório travestido de partido político, que Jefferson
preside como dono. O fundo partidário é abastecido com dinheiro público. Os
arquivos do TSE informam que o Tesouro pingou R$ 18,8 milhões nas arcas
do PTB em 2020. Em 2021, já foram gotejados mais R$ 11,7 milhões.
É o cúmulo da desfaçatez: dinheiro arrancado do bolso do
contribuinte e destinado ao financiamento da democracia pode ter sido usado
para bancar atividades antidemocráticas.
Com Josias de Souza