Conforme vimos no post anterior, as redes Wi-Fi 5 GHz e móvel 5G são coisas distintas. A primeira já está em entre nós; a segunda está e não está, mas promete aumentar a velocidade de download, eliminar as latências e reduzir o congestionamento nas redes móveis. Não se descarta, inclusive, a possibilidade de ambas se tornarem concorrentes em termos de velocidade e preço, o que não significa que optaremos por uma delas e descartaremos a outra — até onde a vista alcança, precisaremos das duas tecnologias para tirar melhor proveito da Internet.
Em fevereiro deste ano, a Anatel aprovou o edital referente ao leilão das redes de 5G no Brasil. E o mesmo fez o TCU no dia 25 do mês passado, donde a expectativa é a de que a tecnologia esteja disponível em todas as capitais de Estado e no DF até meados do ano que vem — supondo que até lá Bolsonaro não tenha conseguido destruir o país. Ainda que o 5G seja mais voltado a empresas do que ao consumidor final, as principais fabricantes de smartphones já desovaram no mercado tupiniquim modelos que suporta a nova tecnologia.
Com a aprovação de licitações de radiofrequências nas faixas de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz, as operadoras de telefonia brasileiras terão melhores condições de expandir suas redes móveis para o maior número de cidades no menor tempo possível. A faixa de 3,5 GHz (que vinha sendo ocupada pelas parabólicas) é considerada a melhor banda para a propagação do 5G no Brasil. O vencedor do leilão para essa faixa deverá instalar antenas 5G em cidades com 30 mil habitantes ou mais (para os lotes nacionais, com uma antena a cada 15 mil habitantes) até julho de 2029; instalar antenas 5G em cidades com menos de 30 mil habitantes até o final de 2029; limpar o sinal das parabólicas, transferindo as operadoras para uma banda chamada Ku; construir backhaul em cidades listadas até 2025, com o objetivo de expandir a fibra ótica no país.
Observação: Grosseiramente falando, o backhaul conecta o backbone (conjunto de vias que interligam as operadoras aos servidores) às sub-redes periféricas, que dão acesso aos usuários finais.
Sem embargo dos avanços proporcionados pelo 5G no campo tecnológico, como a velocidade de rede 100 vezes maior, o edital da Anatel também pontua a necessidade de expansão do 4G, que perde longe em termos de velocidade, estabilidade, mas ainda é um espectro de rede que atende muito bem às necessidades básicas de conexão à internet da população.
Em julho do ano passado, a Claro ativou a primeira rede de 5ª geração no Brasil, conhecida como 5G DSS (sigla em inglês para compartilhamento de espectro dinâmico). Por utilizar os espectros do 3G e 4G, ela não é considerada uma rede pura, mas, entre outras vantagens, é mais fácil de instalar — por meio de uma atualização de software, é possível alterar o suporte das antenas de rádio para suportar a tecnologia, facilitando a implementação e reduzindo os custos).
O 5G DSS é mais rápido do que o 4G, resultando em maior viabilidade em regiões onde a instalação dos receptores da 5ª geração pura não é viável. Por outro lado, o DSS não é capaz de entregar todas as premissas do 5G — que vão muito além de velocidade superior de navegação —, razão pela qual, apesar de ser uma alternativa viável, deve ser prioridade apenas em situações pontuais em que o 5G "de verdade" não possa ser instalado — pelo menos por enquanto.
Em 2020, a Motorola lançou o Motorola Edge — primeiro smartphone compatível com a tecnologia 5G e 5G DSS no Brasil. Na sequência, foram lançados os modelos Moto G 5G e Moto G 5G Plus, e, mais recentemente, o Moto G100 5G, que permitem experimentar a velocidade 5G através do 5G DSS.
No que diz respeito às redes Wi-Fi, Wi-Fi 5GHz e 5G, todas são wireless (sem fio), mas o 5G é uma evolução do 4G, ou seja, a versão mais recente da tecnologia de internet móvel, específica para ultraportáteis. Já o 5 GHz remete a uma parte do espectro de rádio usada pelos dispositivos Wi-Fi, que oferece melhor experiência de navegação do que o Wi-Fi "tradicional" (2,4 GHz). Quando acessamos a Internet pelo smartphone via rede 3G/4G/5G DSS, estamos conectados a uma rede móvel, ou seja, a um serviço de dados disponibilizado por uma operadora de telefonia celular.
Numa rede Wi-Fi, a frequência de 5 GHz e mais rápida e estável que a de 2,4 GHz (mal comparando, da mesma forma que as redes 5G móveis que são mais rápidas que 4G) porque operam em frequências mais altas. Por outro lado, o 5 GHz — a exemplo do 5G — não tem a mesma capacidade de atravessar obstáculos do 2,4 GHz (e do 4G), o que limita seu alcance.
Em suma, o 5 GHz é usado apenas dentro do contexto de Wi-Fi, onde o roteador ou ponto de acesso sem fio suporta 5 GHz e os dispositivos podem se conectar a eles nessa faixa de frequência, em vez de na faixa dos 2,4 GHz. Nos roteadores, essa opção proporciona velocidades de transferência mais elevadas e ajuda a reduzir congestionamentos e interferências — permitindo que a rede seja executada em mais canais do que os suportados em 2,4 GHz.
Continua no próximo capítulo.