CASAMENTO É COMO UM QUEBRA-CABEÇA DE 5 MIL PEÇAS EM QUE A ÚNICA PAISAGEM É O CÉU.
Compras
"não presenciais" eram comuns nos anos 1960 (via catálogos de lojas,
entrega pelos Correios e pagamento por reembolso postal), mas a Internet, o
smartphone e o "afastamento social" imposto pela pandemia anabolizaram
o e-commerce. Segundo o PagSeguro, mais de seis milhões de compras
online foram realizadas no Brasil em 2020 — um crescimento de 205% na
comparação com 2019, com picos nos dias das mães, dos namorados, das crianças e
nas semanas que antecederam o Natal (por motivos de uma obviedade que dispensa
explicação).
Nem tudo são
flores nesse jardim, sobretudo para os consumidores. Segundo o PROCON-SP,
reclamações envolvendo compras virtuais aumentaram 285% de 2019 para 2020. Os
principais problemas apontados foram atraso ou não entrega dos itens adquiridos
e cobranças indevidas, mas produtos com defeito ou danificados também são
motivo de reclamações frequentes. Isso sem mencionar o indefectível "gato
por lebre" — o consumidor paga por um relógio de grife e recebe uma
réplica vagabunda — e o descaso de maus comerciantes com os dados pessoais e
bancários dos clientes.
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, o prazo para desistir de um compra online
é de sete dias contados a partir do recebimento da mercadoria, mas muitas lojas
dificultam a troca/devolução ou recebem o produto de volta, mas não estornam recebido
no ato da compra. Ainda assim, 74% dos brasileiros preferem comprar online e
80% utilizam o smartphone nessas transações. No cômputo geral, o e-commerce
responde por 12% de todas as vendas realizadas pelo varejo mundial, e a
expectativa é que chegue a quase 20% até o final deste ano.
Com a Black
Friday 2021 batendo às portas, todo cuidado é pouco. Não bastassem as
promoções enganosas, ainda há os cibergolpes. Além disso, o comércio parece
mais preparado para vender do que para entregar, o que não se justifica: em
2020, as empresas foram pegas de surpresa pelo aumento das vendas online por
conta da pandemia, mas agora elas já deveriam estar prontas para atender os
consumidores.
Infelizmente,
não existe uma panaceia, uma "receita de bolo" que funcione em todos
os casos. Até porque a criatividade dos golpistas não tem limite. Assim, convém
não responder mensagens de publicidade nem clicar em links recebidos por email e
apps mensageiros, ou divulgados em redes sociais. A rigor, é o consumidor quem
deve buscar o fornecedor, não o contrário. E convém fazê-lo acessando as
páginas oficiais, verificando se as lojas têm endereço físico e CNPJ,
consultando a lista do PROCON de sites não recomendados e redobrando os cuidados se a única forma
de contato for um número de celular (por lei, os dados do fornecedor devem ser
informados no site de maneira clara e com destaque, preferencialmente na página
principal, a fim de facilitar a sua localização e contato).
Você pode (e deve) checar CNPJ, razão social,
endereço e situação cadastral dos comerciantes no site da Receita Federal. Caso a
situação da empresa em questão estiver como "baixada",
"cancelada" ou "inativa", desista da compra. Busque
referências de lojas recomendados por amigos ou familiares e em redes sociais e
não compre sem antes verificar as características do produto — analise sua
descrição, compare-o com outras marcas, veja se ele atende suas necessidades e
expectativas e visite a página do fabricante para confirmar os recursos e
funções que o produto oferece.
O fornecedor é obrigado a discriminar no preço o frete
e toda despesa adicional que houver — daí ser fundamental comparar preços e
condições de pagamento em outras lojas, virtuais e físicas. Verifique,
inclusive, se os descontos ofertados pelos sites valem a pena e são reais. Demais
disso, salve ou imprima todos os comprovantes da transação, da confirmação do
pedido ao comprovante de pagamento e nota fiscal, e redobre os cuidados em sites
que restringem as opções de pagamento a deposito em conta corrente ou
transferência via Pix, especialmente se for para pessoas físicas.
Em outra
técnica, o criminoso se vale do desconhecimento sobre as formas de cadastro das
chaves PIX. Ele se passa por funcionário do banco em que a vítima
tem conta e oferece ajuda para efetuar o cadastro ou informa que é preciso
fazer um teste com o sistema de pagamentos para regularizar o registro. A
vítima, então, é induzida a fazer uma transferência via PIX e
dá adeus ao dinheiro repassado ao golpista.
Segundo
a FEBRABAN, as instituições financeiras não solicitam dados
pessoais de seus clientes, nem seus funcionários ligam para fazer "testes"
com o Pix. Jamais passe informações por telefone; em caso de
dúvida, procure os canais oficiais da instituição bancária para confirmar a
necessidade de atualização de dados.
Dinheiro
fácil é um dos engodos mais usados pelos golpistas para ilaquear a boa-fé das
vítimas em potencial, devendo, portanto, servir de alerta para todos os
usuários. Pagamentos via Pix podem ser feitos a partir
de códigos QR. Em meio à pandemia, tornaram-se comuns
lives em benefício de organizações não governamentais que recebem doações por Pix.
Os criminosos fazem o download dessas apresentações e criam uma transmissão
nova, com seus próprios códigos QR, e embolsam as doações dos incautos bem-intencionados.
Portanto:
- Sempre verifique a identidade de quem está solicitando o Pix;
- Na hora de efetivar a transação, fique atento: os aplicativos
estão cada vez mais fáceis de utilizar e os usuários, muitas vezes,
selecionam ‘Confirmar’ sem perceber que estão transferindo
recursos para um nome que não conhecem;
- Muitos sites já vêm adotando o pagamento por Pix.
Nesse caso, se a vítima estiver num ambiente falso, o dinheiro vai para a
conta do golpista;
- É importante confirmar (e limitar), com a instituição financeira,
o valor disponível para transferência por Pix. Às vezes o
próprio usuário comete um erro de digitação e atribui a perda a um golpe;
- Quem não tem familiaridade com o Pix pode treinar
o uso do recurso. Uma boa ideia é fazer uma transferência de R$ 1 para um
conhecido, de modo a testar a funcionalidade — e pedir o dinheiro de
volta, se quiser, já que o processo é gratuito.
- Vale também conferir os remetentes de email e não acesse páginas
suspeitas, com URLs reduzidas ou erros de digitação. De novo: jamais clique
em links recebidos por email, WhatsApp, redes sociais ou mensagens
de SMS que direcionam a cadastros de chaves do Pix;
- Cadastre chaves do Pix apenas em canais oficiais
de bancos ou fintechs;
- Em caso de suspeita, entre em contato com o banco pelos canais
oficiais — após o cadastro, o Banco Central envia o código por SMS (se
a chave cadastrada for um celular) ou email (se ela for um email), mas
note que essa confirmação não vem por ligação telefônica nem por link;
- Não faça transferências para conhecidos sem confirmar a veracidade
da solicitação por chamada telefônica ou pessoalmente — o WhatsApp não
é uma boa opção, já que pode estar clonado.
Continua...