segunda-feira, 25 de outubro de 2021

BLACK FRIDAY, BLACK FRAUDE

CASAMENTO É COMO UM QUEBRA-CABEÇA DE 5 MIL PEÇAS EM QUE A ÚNICA PAISAGEM É O CÉU.

Compras "não presenciais" eram comuns nos anos 1960 (via catálogos de lojas, entrega pelos Correios e pagamento por reembolso postal), mas a Internet, o smartphone e o "afastamento social" imposto pela pandemia anabolizaram o e-commerce. Segundo o PagSeguro, mais de seis milhões de compras online foram realizadas no Brasil em 2020 — um crescimento de 205% na comparação com 2019, com picos nos dias das mães, dos namorados, das crianças e nas semanas que antecederam o Natal (por motivos de uma obviedade que dispensa explicação).

Nem tudo são flores nesse jardim, sobretudo para os consumidores. Segundo o PROCON-SP, reclamações envolvendo compras virtuais aumentaram 285% de 2019 para 2020. Os principais problemas apontados foram atraso ou não entrega dos itens adquiridos e cobranças indevidas, mas produtos com defeito ou danificados também são motivo de reclamações frequentes. Isso sem mencionar o indefectível "gato por lebre" — o consumidor paga por um relógio de grife e recebe uma réplica vagabunda — e o descaso de maus comerciantes com os dados pessoais e bancários dos clientes.   

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, o prazo para desistir de um compra online é de sete dias contados a partir do recebimento da mercadoria, mas muitas lojas dificultam a troca/devolução ou recebem o produto de volta, mas não estornam recebido no ato da compra. Ainda assim, 74% dos brasileiros preferem comprar online e 80% utilizam o smartphone nessas transações. No cômputo geral, o e-commerce responde por 12% de todas as vendas realizadas pelo varejo mundial, e a expectativa é que chegue a quase 20% até o final deste ano.

Com a Black Friday 2021 batendo às portas, todo cuidado é pouco. Não bastassem as promoções enganosas, ainda há os cibergolpes. Além disso, o comércio parece mais preparado para vender do que para entregar, o que não se justifica: em 2020, as empresas foram pegas de surpresa pelo aumento das vendas online por conta da pandemia, mas agora elas já deveriam estar prontas para atender os consumidores.

Infelizmente, não existe uma panaceia, uma "receita de bolo" que funcione em todos os casos. Até porque a criatividade dos golpistas não tem limite. Assim, convém não responder mensagens de publicidade nem clicar em links recebidos por email e apps mensageiros, ou divulgados em redes sociais. A rigor, é o consumidor quem deve buscar o fornecedor, não o contrário. E convém fazê-lo acessando as páginas oficiais, verificando se as lojas têm endereço físico e CNPJ, consultando a lista do PROCON de sites não recomendados e redobrando os cuidados se a única forma de contato for um número de celular (por lei, os dados do fornecedor devem ser informados no site de maneira clara e com destaque, preferencialmente na página principal, a fim de facilitar a sua localização e contato).

Você pode (e deve) checar CNPJ, razão social, endereço e situação cadastral dos comerciantes no site da Receita Federal. Caso a situação da empresa em questão estiver como "baixada", "cancelada" ou "inativa", desista da compra. Busque referências de lojas recomendados por amigos ou familiares e em redes sociais e não compre sem antes verificar as características do produto — analise sua descrição, compare-o com outras marcas, veja se ele atende suas necessidades e expectativas e visite a página do fabricante para confirmar os recursos e funções que o produto oferece.

O fornecedor é obrigado a discriminar no preço o frete e toda despesa adicional que houver — daí ser fundamental comparar preços e condições de pagamento em outras lojas, virtuais e físicas. Verifique, inclusive, se os descontos ofertados pelos sites valem a pena e são reais. Demais disso, salve ou imprima todos os comprovantes da transação, da confirmação do pedido ao comprovante de pagamento e nota fiscal, e redobre os cuidados em sites que restringem as opções de pagamento a deposito em conta corrente ou transferência via Pix, especialmente se for para pessoas físicas.

Em outra técnica, o criminoso se vale do desconhecimento sobre as formas de cadastro das chaves PIX. Ele se passa por funcionário do banco em que a vítima tem conta e oferece ajuda para efetuar o cadastro ou informa que é preciso fazer um teste com o sistema de pagamentos para regularizar o registro. A vítima, então, é induzida a fazer uma transferência via PIX e dá adeus ao dinheiro repassado ao golpista.

Segundo a FEBRABAN, as instituições financeiras não solicitam dados pessoais de seus clientes, nem seus funcionários ligam para fazer "testes" com o Pix. Jamais passe informações por telefone; em caso de dúvida, procure os canais oficiais da instituição bancária para confirmar a necessidade de atualização de dados.

Dinheiro fácil é um dos engodos mais usados pelos golpistas para ilaquear a boa-fé das vítimas em potencial, devendo, portanto, servir de alerta para todos os usuários. Pagamentos via Pix podem ser feitos a partir de códigos QR. Em meio à pandemia, tornaram-se comuns lives em benefício de organizações não governamentais que recebem doações por Pix. Os criminosos fazem o download dessas apresentações e criam uma transmissão nova, com seus próprios códigos QR, e embolsam as doações dos incautos bem-intencionados. Portanto:

  • Sempre verifique a identidade de quem está solicitando o Pix;
  • Na hora de efetivar a transação, fique atento: os aplicativos estão cada vez mais fáceis de utilizar e os usuários, muitas vezes, selecionam ‘Confirmar’ sem perceber que estão transferindo recursos para um nome que não conhecem;
  • Muitos sites já vêm adotando o pagamento por Pix. Nesse caso, se a vítima estiver num ambiente falso, o dinheiro vai para a conta do golpista;
  • É importante confirmar (e limitar), com a instituição financeira, o valor disponível para transferência por Pix. Às vezes o próprio usuário comete um erro de digitação e atribui a perda a um golpe;
  • Quem não tem familiaridade com o Pix pode treinar o uso do recurso. Uma boa ideia é fazer uma transferência de R$ 1 para um conhecido, de modo a testar a funcionalidade — e pedir o dinheiro de volta, se quiser, já que o processo é gratuito.
  • Vale também conferir os remetentes de email e não acesse páginas suspeitas, com URLs reduzidas ou erros de digitação. De novo: jamais clique em links recebidos por email, WhatsApp, redes sociais ou mensagens de SMS que direcionam a cadastros de chaves do Pix;
  • Cadastre chaves do Pix apenas em canais oficiais de bancos ou fintechs;
  • Em caso de suspeita, entre em contato com o banco pelos canais oficiais — após o cadastro, o Banco Central envia o código por SMS (se a chave cadastrada for um celular) ou email (se ela for um email), mas note que essa confirmação não vem por ligação telefônica nem por link;
  • Não faça transferências para conhecidos sem confirmar a veracidade da solicitação por chamada telefônica ou pessoalmente — o WhatsApp não é uma boa opção, já que pode estar clonado.

Continua...