Aviso aos leitores que vêm acompanhando esta sequência: Troquei as bolas ao programar esta postagem e a que foi publicada na última quinta-feira, mas só me dei conta disso quando o 12º capítulo da novela já estava no ar havia mais de 6 horas. A inversão "quebra" a cronologia dos fatos, mas não a ponto de comprometer a leitura. Assim, achei preferível fazer esta ressalva a mudar a ordem do capítulos. Peço desculpas pelo ocorrido.
Itamar Franco foi sucedido por Fernando Henrique Cardoso, carioca de nascimento, paulista de formação e sociólogo com pós-graduação em Paris — onde se exilou após o golpe militar de 1964.
FHC ingressou na vida pública em 1978, quando foi
eleito suplente do senador paulista André
Franco Montoro, e ocupou a poltrona do titular quando ele assumiu o
governo de São Paulo. Em 1985, tido como franco favorito na disputa pela
prefeitura da capital paulista, o futuro grão-duque tucano se deixou fotografar
na cadeira de prefeito — a foto foi publicada pela Revista Veja.
Mas Jânio Quadros venceu a eleição e declarou à imprensa durante a
cerimônia de posse: "Estou
desinfetando a poltrona porque nádegas indevidas a usaram".
Reeleito senador em 1986, FHC atuou como constituinte,
foi líder do PMDB no Senado e ajudou a fundar o PSDB. Em outubro
de 1992, foi nomeado pelo presidente interino Itamar Franco para o cargo
de ministro das Relações Exteriores. Em maio do ano seguinte, depois que o Rei
Sol foi devidamente penabundado, o tucano passou a comandar o
Ministério da Fazenda e atuar como "primeiro-ministro" informal. Itamar
terminou o mandato-tampão como uma versão tropicalizada da Rainha da
Inglaterra, mas era isso ou a degola.
Surfando no sucesso do Plano Real,
Fernando Henrique elegeu-se presidente no primeiro turno do pleito de
1994. Além de dar continuidade às reformas estruturais que visavam impedir a
volta da inflação, sua gestão privatizou diversas estatais — como a Vale,
a Telebrás
e o Banespa.
Em 1997, quando lhe restava pouco mais de um ano no cargo, moveu mundo$ e
fundo$ para aprovar a PEC
da Reeleição. Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte é
burro ou não tem arte, o próprio FHC se tornou o primeiro
beneficiário da maracutaia, reelegendo-se no primeiro turno do pleito de 1998.
FHC sempre negou o esquema: “O Senado votou
[a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovaram. Houve compra de votos? Provavelmente.
Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito
menos”. Fato é que, menos de quatro meses depois da aprovação da PEC
na Câmara — 369 votos a 11 —, o jornal Folha de São Paulo publicou
reportagem com a seguinte chamada em duas linhas na primeira página: “Deputado conta
que votou pela reeleição por R$ 200 mil”.
A oposição pediu a abertura de uma CPI, mas o então presidente da Câmara (Michel Temer) e outros atores influentes no cenário político se mobilizaram para barrar a investigação, e o então “engavetador-geral” Geraldo Brindeiro não deu andamento às denúncias. Assim, em 13 de maio de 1997 a PEC foi chancelada pelo Senado, e a reeleição passou a ser permitida — apenas uma vez para um mandato subsequente e sem restrição para um pleito não consecutivo — aos chefes dos Executivos Federal, Estaduais e Municipais e respectivos vices.
Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte, o grão-tucano se beneficiou dela no pleito de 1998, quando, a exemplo do que fizera quatro anos antes, derrotou o criminoso de Garanhuns já no primeiro turno. Mas seu segundo mandato não teve grandes investimentos em reformas estruturantes nem privatizações. A inflação permaneceu sob controle e a estabilidade econômica foi mantida. Estatais foram privatizadas, agências regulatórias, criadas, e a legislação que rege o funcionalismo público, alterada. Foram implementados programas de transferência de renda, como o Bolsa Escola, precursor do Bolsa-Família do PT. O PIB cresceu 19,39% (média de 2,42% ao ano) e a renda per capita, 6,99% (média de 0,87% ao ano).
Continua (na postagem de quinta-feira).