sábado, 30 de outubro de 2021

NÃO PODE DAR CERTO — DÉCIMA TERCEIRA PARTE

 

Aviso aos leitores que vêm acompanhando esta sequência: Troquei as bolas ao programar esta postagem e a que foi publicada na última quinta-feira, mas só me dei conta disso quando o 12º capítulo da novela já estava no ar havia mais de 6 horas. A inversão "quebra" a cronologia dos fatos, mas não a ponto de comprometer a leitura. Assim, achei preferível fazer esta ressalva a mudar a ordem do capítulos. Peço desculpas pelo ocorrido.

Itamar Franco foi sucedido por Fernando Henrique Cardoso, carioca de nascimento, paulista de formação e sociólogo com pós-graduação em Paris — onde se exilou após o golpe militar de 1964.

FHC ingressou na vida pública em 1978, quando foi eleito suplente do senador paulista André Franco Montoro, e ocupou a poltrona do titular quando ele assumiu o governo de São Paulo. Em 1985, tido como franco favorito na disputa pela prefeitura da capital paulista, o futuro grão-duque tucano se deixou fotografar na cadeira de prefeito — a foto foi publicada pela Revista Veja. Mas Jânio Quadros venceu a eleição e declarou à imprensa durante a cerimônia de posse: "Estou desinfetando a poltrona porque nádegas indevidas a usaram".

Reeleito senador em 1986, FHC atuou como constituinte, foi líder do PMDB no Senado e ajudou a fundar o PSDB. Em outubro de 1992, foi nomeado pelo presidente interino Itamar Franco para o cargo de ministro das Relações Exteriores. Em maio do ano seguinte, depois que o Rei Sol foi devidamente penabundado, o tucano passou a comandar o Ministério da Fazenda e atuar como "primeiro-ministro" informal. Itamar terminou o mandato-tampão como uma versão tropicalizada da Rainha da Inglaterra, mas era isso ou a degola.

Surfando no sucesso do Plano Real, Fernando Henrique elegeu-se presidente no primeiro turno do pleito de 1994. Além de dar continuidade às reformas estruturais que visavam impedir a volta da inflação, sua gestão privatizou diversas estatais — como a Vale, a Telebrás e o Banespa. Em 1997, quando lhe restava pouco mais de um ano no cargo, moveu mundo$ e fundo$ para aprovar a PEC da Reeleição. Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o próprio FHC se tornou o primeiro beneficiário da maracutaia, reelegendo-se no primeiro turno do pleito de 1998.

FHC sempre negou o esquema: “O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovaram. Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos”. Fato é que, menos de quatro meses depois da aprovação da PEC na Câmara — 369 votos a 11 —, o jornal Folha de São Paulo publicou reportagem com a seguinte chamada em duas linhas na primeira página: “Deputado conta que votou pela reeleição por R$ 200 mil”.

A oposição pediu a abertura de uma CPI, mas o então presidente da Câmara (Michel Temer) e outros atores influentes no cenário político se mobilizaram para barrar a investigação, e o então “engavetador-geral” Geraldo Brindeiro não deu andamento às denúncias. Assim, em 13 de maio de 1997  a PEC foi chancelada pelo Senado, e a reeleição passou a ser permitida — apenas uma vez para um mandato subsequente e sem restrição para um pleito não consecutivo — aos chefes dos Executivos Federal, Estaduais e Municipais e respectivos vices.

Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte, o grão-tucano se beneficiou dela no pleito de 1998, quando, a exemplo do que fizera quatro anos antes, derrotou o criminoso de Garanhuns já no primeiro turno. Mas seu segundo mandato não teve grandes investimentos em reformas estruturantes nem privatizações. A inflação permaneceu sob controle e a estabilidade econômica foi mantida. Estatais foram privatizadas, agências regulatórias, criadas, e a legislação que rege o funcionalismo público, alterada. Foram implementados programas de transferência de renda, como o Bolsa Escola, precursor do Bolsa-Família do PT. O PIB cresceu 19,39% (média de 2,42% ao ano) e a renda per capita, 6,99% (média de 0,87% ao ano).

Continua (na postagem de quinta-feira).