terça-feira, 9 de novembro de 2021

AINDA SOBRE RELÓGIOS, PULSEIRAS E QUE TAIS — SEXTA PARTE

NÃO SE BUSCA ÁGUA SALGADA EM RIO DOCE.

Para quem aprecia relógios, um é pouco, dois e bom e três é melhor. Com exceção dos árbitros de futebol, ninguém usa dois relógios ao mesmo tempo, e os que não estão no pulso devem ficar nos respectivos estojos — ou numa caixa apropriada, daquelas com tampa de vidro e compartimentos aveludados —, longe de fontes de calor e de aparelhos que emitem ondas eletromagnéticas (como televisores, fornos de micro-ondas, etc.).

Modelos a quartzo param de funcionar quando a coroa é puxada até a posição de ajuste. Mas fazer isso visando economizar bateria não é uma boa ideia. Primeiro porque será preciso acertar a hora e a data mais adiante; segundo porque, mesmo bloqueado, o relógio continua consumindo energia (pouca, é verdade). Além disso, a coroa destacada facilita a entrada de poeira e umidade no compartimento do módulo.

Nos relógios mecânicos, a reserva de marcha corresponde ao número de horas que o mecanismo permanece funcionando sem necessitar de "corda". Nas versões de corda manual, girar a coroa cerca de 40 voltas tensiona a mola principal o suficiente para manter a máquina trabalhando por 24 horas. Tanto a reserva de marcha quanto o número de voltas que a coroa suporta sem causar danos à mola principal variam conforme a marca e o modelo do relógio (alguns têm reserva de até 60 horas e a coroa pode ser girada até 100 voltas). De modo geral, deve-se parar de girar a corda assim que ela oferecer resistência ao movimento.

Relógios automáticos contam com um rotor (peso oscilante) "pega carona" no movimento do pulso para tensionar a mola principal. Assim, sua reserva de marcha é "infinita enquanto dura" — ou seja, enquanto a pessoa continuar movimentando o braço. Quando esses modelos não estão em uso, pode-se acionar o rotor girando a coroa, como nos relógios de corda manual. Nesse caso não há risco de danos por "excesso de corda", mas, sim, por "falta de movimento": se o relógio ficar parado por meses a fio, o ressecamento dos lubrificantes pode  causar danos às engrenagens e outras partes móveis do delicado mecanismo.

Observação: Nem todo relógio automático aceita corda pela coroa. Alguns aceitam, mas é preciso puxar a coroa até o primeiro clique para engatar o mecanismo de corda. A coroa é um componente "multifunção". No mínimo, ela serve para dar corda no relógio e acertar a hora (e a data, caso o modelo em questão disponha de calendário). Da feita que essas configurações não são padronizadas, deve-se consultar a documentação que acompanha o relógio ou o site do fabricante.

Quem pratica esportes aquáticos deve escolher um relógio à prova d'água, preferencialmente com coroa rosqueada. Nesses modelos é preciso girar o componente no sentido anti-horário por quatro ou cinco voltas antes de puxá-lo até a posição de engate desejada. Feito o ajuste, deve-se pressionar a coroa novamente contra a caixa e rosqueá-la até o final — mas sem forçar, para não danificar a rosca (evite desrosquear a coroa durante um banho de mar ou de piscina, ou mesmo quando o relógio estiver molhado).

Em alguns relógios automáticos, não há posição da coroa que engate o mecanismo de corda. Nesses casos, ou a gente move o rotor fazendo movimentos oscilatórios durante um ou dois minutos — e repete o processo no dia seguinte, e no outro, e no outro... — ou recorre a um movimentador.

Quem coleciona relógios e não quer ter o trabalho de "balançar" diariamente os modelos automáticos que não estão em uso pode recorrer a um "watch winder" (também chamado de movimentador), que movimenta os relógios num padrão circular, visando manter seus rotores em movimento e a as respectivas molas principais tensionadas. Há modelos para um ou para vários relógios, funcionais ou elegantes, extravagantes e caríssimos — os preços parte de cerca de R$ 200 e chegam a mais de R$10 mil

Observação: Tenha em mente que nem sempre o que é caro é bom, mas o que é bom costuma custar mais caro. Geringonças xing-ling podem ser baratas, mas dificilmente são confiáveis — e não raro não valem sequer o pouco que custam. Mesmo assim, você provavelmente não precisa de um modelo com controle de temperatura, display de tempo sincronizado e conexão USB.

Habitue-se a tirar o relógio se e quando for manusear produtos químicos (gasolina, álcool, benzina, acetona etc.), cremes e cosméticos em geral — o contato com essas substâncias pode afetar o brilho ou manchar a caixa e a pulseira. E faça o mesmo quando for tomar sauna, hidromassagem, ou mesmo uma ducha quente.

O calor não só provoca a evaporação dos lubrificantes e o ressecamento dos vedantes — comprometendo o funcionamento do mecanismo e a impermeabilidade da caixa, que não é fechada a vácuo nem mesmo nos modelos resistentes ou à prova d'água (veremos a diferença mais adiante) — como aumenta a umidade absoluta do ar, fazendo com que as partículas de ar existentes no compartimento do módulo produzam condensação (como ocorre nos vidros dos carros em dias de chuva).

Continua...