terça-feira, 16 de novembro de 2021

BOLSONARO DE PARTIDA DO PARTIDO AO QUAL NÃO SE FILIOU


Quem se casa vincula-se ao cônjuge e à família do dito-cujo. Bolsonaro descobriu isso no último domingo, durante seu périplo pelas arábias. Consta que ele e o pajé do PLValdemar Costa Neto, rechearam uma "troca intensa de mensagens" com expressões do mais alto nível — tais como "vá para a puta que pariu" e “vão tomar no cu você e seus filhos” —, e que o motivo do entrevero foi o diretório do partido em São Paulo (reduto de Doria), que Bolsonaro quer deixar sob comando do Bananinha.

Costa Neto disse ao capetão que ele pode ser o presidente da República, mas quem manda no partido é o presidente do partido. Segundo a versão oficial da esbórnia, a cerimônia de filiação, que estava marcada para o próximo dia 22, foi adiada sine die. Mas até as emas do Alvorada sabem que não se trata apenas de um adiamento, e que a implicância do "mito" não é com o apoio do PL a Lula ou a Ciro, mas a João Doria.

Bolsonaro está sem partido há cerca de dois anos, desde sua ruptura com o PSL. Trocar de sigla não é problema para ele, que desde 1987, quando foi expelido da caserna e ingressou na política, sempre balizou sua atuação em assuntos caros aos fardados, tanto como vereador pelo PDC — de 1989 a 1991 — quanto como deputado federal — de 1991 a 2018 — e passou por nada menos que oito legendas — PDC, PP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL.

Após deixar o PSL em meio a "divergências orçamentárias", o presidente tentou fundar o "Aliança pelo Brasil", mas não conseguiu granjear nem metade das assinaturas necessárias. Desde então, flertou com o PTB, o PRTB, o Patriota e o PP e acabou noivando com o PL. No entanto, divergências sobre o controle do dote e a definição dos palanques estaduais resultaram no rompimento (se irreversível ou não, só o tempo dirá).  

Outro problema que se coloca: se realmente quiser disputar a reeleição, Bolsonaro tem até março do ano que vem para se filiar ao PL ou outro partido qualquer. Se, a partir de então, esse partido desistir de lançar candidato próprio à Presidência, nosso indômito mandatário ficará a ver navios. E pelo binóculo.

Costa Neto já teve alianças díspares (para dizer o mínimo) em sua longa trajetória na política. Em 2002, por exemplo, ele apoiou a primeira eleição de Lula — indicando, inclusive, o então senador mineiro José Alencar para vice na chapa do petista. Agora, a inusitada (para não dizer esdrúxula) aproximação entre o petralha e o picolé de chuchu (que está em via de se tornar ex-tucano) estraga os planos dos bolsonaristas, que viam em Alckmin um dos possíveis aliados no maior colégio eleitoral do país.

Filiar-se ao PL, ao PSC, ao PDC, ao PCC, ao PQP ou a qualquer outro partido não deixará Bolsonaro diferente. Ao se aliar ao rebotalho, à escumalha, à escória político partidária, ele estará apenas voltando a ser quem sempre foi antes do teatro de 2018.

Para quem já estava "de caso" com o PP — de prontuários notórios como Paulo MalufArthur Lira e Ciro Nogueira —, trocar alianças com o PL é mais do mesmo. Mas vale lembrar que em 2018, quando o pajé do PL o preteriu por Alckmin, Bolsonaro postou nas redes sociais: "Agora [a imprensa] diz que aceno para corruptos e condenados; é a velha imprensa de sempre, não sabem fazer outra coisa a não ser mentir e mentir”. E se referiu a Costa Neto como “corrupto e condenado” (preso no mensalão, quando foi condenado a sete anos de reclusão, o ex-deputado foi um dos nomes mais cortejados em 2018 para alianças políticas).

Atualização: De acordo com o blog da Andréia Sadi, a filiação de Bolsonaro ao PL na mesma semana em que Sérgio Moro defendeu o combate à corrupção em seu discurso de filiação ao Podemos repercutiu mal nas redes sociais. E o capetão não pode se dar ao luxo de desagradar a récua de lunáticos que ainda o apoia. Nunca é demais lembrar que o dono do partido-noivo foi condenado no julgamento do mensalão a 7 anos e 10 meses de prisão e preso em 2013. Como isto aqui é Brasil, o mensaleiro passou a cumprir prisão domiciliar em 2014 e foi perdoado em 2016 pelo ministro Luís Roberto Barroso, que acolheu um parecer da então PGR Raquel Dodge.

Coisas da política tupiniquim.