domingo, 7 de novembro de 2021

O IMBROXÁVEL SEM SACO



Dizendo "estar sem saco", o mito imorrível, imbroxável, incomível e insuportável, recém-chegado de mais um passeio turístico a custas do erário canarinho, abreviou sua live da última quinta-feira. Alguém deveria lembrá-lo de que "sem saco" estamos nós. Além de desolados com a possibilidade de aturar, por mais 13 meses e 22 dias, uma gestão pior que a da gerentona de araque — que alguns de nós, eu inclusive, considerávamos insuperável. Sem mencionar a possibilidade (nada remota) de termos em 2022 um repeteco do pleito plebiscitário de 2018, mas com uma diferença fundamental: enquanto no anterior a récua de descerebrados (que representa a maioria do nosso esclarecidíssimo eleitorado) obrigou a minoria pensante a apoiar o bolsonarismo boçal (que até então não se achava que fosse também corrupto) para evitar o nada desejável retorno do lulopetismo lalau, no próximo, ao que tudo indica, dar-se-á o inverso.

Até o presente momento, o que se tem de concreto é a abjeta polarização que a igualmente abjeta "alma viva mais honesta da galáxia" gestou e pariu com a também abjeta cantilena do "nós contra eles", mas, também aí há uma diferença importante: antes de 2018, o "eles" era o tucano da vez; agora, trata-se de um certo presidente sem partido. E como o mundo dá muitas voltas, fala-se na possibilidade de Geraldo Alkmin, tucano de vistosa plumagem, disputar a vice-presidência na chapa encabeçada pelo ex-presidiário de Curitiba. É mole?

Só nos resta torcer pela tal terceira via, que só terá chances reais de prosperar se os candidatos "alternativos" se unirem em prol de um objetivo comum, qual seja impedir que Bolsonaro chegue ao segundo turno — considerando que todas as pesquisas feitas até agora apontam o petralha como franco-favorito, a pulverização da terceira via labora em seu favor.

A pré-candidatura do ex-juiz Sérgio Moro é uma possibilidade a ser considerada — a largada oficial deve ser dada nos próximos dias, com a festa do Podemos, e algum efeito nas pesquisas, observado no mês que vem, perto do Natal. O que se sabe, desde já, é que ele sai em vantagem na disputa. Antes de iniciar a campanha, o eterno juiz da Lava-Jato é o candidato com o maior percentual no mano a mano com o provável candidato do PT: na pesquisa feita pelo Ipespe para o segundo turno, ele perde para o ex-presidiário com 34% dos votos, mas vence Bolsonaro (32%), Ciro Gomes (29%), João Doria (23%) e Eduardo Leite (22%).

Deltan Dallagnol deve disputar uma vaga na Câmara pelo Paraná. Por ser atuante na Igreja Batista, o ex-coordenador da Lava-Jato pode conquistar votos entre os evangélicos — eleitorado cativo de Bolsonaro. Cansado de ser perseguido por tentar fazer seu trabalho, o procurador pediu exoneração do Ministério Público. Se realmente entrar para a política, sua candidatura poderá favorecer de Moro na disputa pela Presidência.

O líder do Cidadania na Câmara, deputado Alex Manente, disse a Moro que defende a retomada da tramitação da PEC da prisão de condenados em segunda instância, que está empacada na Câmara desde o começo da pandemia. Segundo entrevista concedida pelo parlamentar ao Antagonista, a entrada de Moro na política partidária vai ajudar a retomar o discurso da proposta e favorecer sua aprovação. Na avaliação do líder do Cidadania, o nome do ex-juiz é o mais importante da terceira via; quem rejeita sua candidatura são os "radicalizados", para os quais a opção por Lula ou Bolsonaro é "irreversível".

Em seu depoimento à PF, o sultão do Bolsonaristão afirmou que sugeriu a Sergio Moro a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da corporação, e que o então ministro da Justiça e Segurança Pública disse concordou, “desde que a nomeação ocorresse após sua indicação à vaga no STF”.

Vale lembrar que na ocasião, por mensagem de aplicativo, a deputada Carla Zambelli se ofereceu para tentar pacificar a crise, e o ainda ministro respondeu: “Prezada, não estou à venda”. A deputada insistiu: “Ministro, por favor… milhões de brasileiros vão se desfazer”. E depois: “Por Deus, eu sei. Se existe alguém no Brasil que não está à verba [sic] é o sr.”.

Depois da divulgação do conteúdo do depoimento de Bolsonaro à PF, o ex-juiz e ex-ministro divulgou uma nota afirmando que não troca princípios por cargos e que jamais condicionou a troca no comando da PF à vaga no Supremo. Segundo ele, o próprio Bolsonaro deixou claros os motivos da troca na reunião ministerial de 22 de abril.

Sobre o depoimento do Presidente da República no inquérito que apura interferência política na Polícia Federal, destaco que jamais condicionei eventual troca no comando da PF à indicação ao STF. Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como Ministro. Aliás, nem os próprios Ministros do Governo ouvidos no inquérito confirmaram essa versão apresentada pelo Presidente da República. Quanto aos motivos reais da troca, eles foram expostos pelo próprio Presidente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 para que todos ouvissem. Também considero impróprio que o Presidente tenha sido ouvido sem que meus advogados fossem avisados e pudessem fazer perguntas.”

Fato é que o mesmo Judiciário que articulou a libertação do presidiário de Curitiba e o transformou em "ex-corrupto" vem armando um bote que tem por objetivo pôr Moro e Dallagnol atrás das grades. No Brasil de hoje, essa ministros das cortes superiores se valem de uma hermenêutica desbragada para soltar os bandidos e colocar em suas celas os "xerifes" que os prenderam.   

O tempo trabalha a favor da candidatura da Terceira Via. A aposta é derrotar o sociopata no primeiro turno e montar uma aliança nacional contra Lula no segundo.

Com O Antagonista