Até o presente momento, o que se tem de concreto é a abjeta
polarização que a igualmente abjeta "alma viva mais honesta da
galáxia" gestou e pariu com a também abjeta cantilena do "nós
contra eles", mas, também aí há uma diferença importante: antes de
2018, o "eles" era o tucano da vez; agora, trata-se de um certo
presidente sem partido. E como o mundo dá muitas voltas, fala-se na
possibilidade de Geraldo Alkmin, tucano de vistosa plumagem, disputar a
vice-presidência na chapa encabeçada pelo ex-presidiário de Curitiba. É mole?
Só nos resta torcer pela tal terceira via, que só
terá chances reais de prosperar se os candidatos "alternativos" se
unirem em prol de um objetivo comum, qual seja impedir que Bolsonaro chegue ao
segundo turno — considerando que todas as pesquisas feitas até agora apontam o petralha
como franco-favorito, a pulverização da terceira via labora em seu favor.
A pré-candidatura
do ex-juiz Sérgio Moro é uma possibilidade a ser considerada — a
largada oficial deve ser dada nos próximos dias, com a festa do Podemos, e
algum efeito nas pesquisas, observado no mês que vem, perto do Natal. O que se
sabe, desde já, é que ele sai em vantagem na disputa. Antes de iniciar a
campanha, o eterno juiz da Lava-Jato é o candidato com o maior
percentual no mano a mano com o provável candidato do PT: na pesquisa
feita pelo Ipespe para o segundo turno, ele perde para o ex-presidiário
com 34% dos votos, mas vence Bolsonaro (32%), Ciro Gomes (29%), João
Doria (23%) e Eduardo Leite (22%).
Deltan Dallagnol deve disputar uma vaga na Câmara
pelo Paraná. Por ser atuante na Igreja Batista, o ex-coordenador da Lava-Jato
pode conquistar votos entre os evangélicos — eleitorado cativo de Bolsonaro.
Cansado de ser perseguido por tentar fazer seu trabalho, o procurador pediu
exoneração do Ministério Público. Se realmente entrar para a política,
sua candidatura poderá favorecer de Moro na disputa pela Presidência.
O líder do Cidadania na Câmara,
deputado Alex Manente, disse a Moro que defende a retomada da
tramitação da PEC da prisão de condenados em segunda instância, que está
empacada na Câmara desde o começo da pandemia. Segundo entrevista concedida
pelo parlamentar ao Antagonista, a entrada de Moro na
política partidária vai ajudar a retomar o discurso da proposta e favorecer sua
aprovação. Na avaliação do líder do Cidadania, o nome do ex-juiz é o mais
importante da terceira via; quem rejeita sua candidatura são os
"radicalizados", para os quais a opção por Lula ou Bolsonaro
é "irreversível".
Em seu depoimento à PF, o sultão do Bolsonaristão
afirmou que sugeriu a Sergio Moro a nomeação de Alexandre Ramagem
para o cargo de diretor-geral da corporação, e que o então ministro da Justiça
e Segurança Pública disse concordou, “desde que a nomeação ocorresse após sua
indicação à vaga no STF”.
Vale lembrar que na ocasião, por mensagem de aplicativo, a
deputada Carla Zambelli se ofereceu para tentar pacificar a crise, e o
ainda ministro respondeu: “Prezada,
não estou à venda”. A deputada insistiu: “Ministro, por favor…
milhões de brasileiros vão se desfazer”. E depois: “Por Deus, eu sei. Se
existe alguém no Brasil que não está à verba [sic] é o sr.”.
Depois da divulgação do conteúdo do depoimento de Bolsonaro
à PF, o ex-juiz e ex-ministro divulgou uma nota afirmando que não troca
princípios por cargos e que jamais condicionou a troca no comando da PF
à vaga no Supremo. Segundo ele, o próprio Bolsonaro deixou claros
os motivos da troca na reunião
ministerial de 22 de abril.
“Sobre o depoimento do Presidente da República no
inquérito que apura interferência política na Polícia Federal, destaco que
jamais condicionei eventual troca no comando da PF à indicação ao STF. Não
troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como
Ministro. Aliás, nem os próprios Ministros do Governo ouvidos no inquérito
confirmaram essa versão apresentada pelo Presidente da República. Quanto aos
motivos reais da troca, eles foram expostos pelo próprio Presidente na reunião
ministerial de 22 de abril de 2020 para que todos ouvissem. Também considero
impróprio que o Presidente tenha sido ouvido sem que meus advogados fossem
avisados e pudessem fazer perguntas.”
Fato é que o mesmo Judiciário que articulou a libertação do
presidiário de Curitiba e o transformou em "ex-corrupto" vem armando
um bote que tem por objetivo pôr Moro e Dallagnol atrás das
grades. No Brasil de hoje, essa ministros das cortes superiores se valem de uma
hermenêutica desbragada para soltar os bandidos e colocar em suas celas os "xerifes"
que os prenderam.
O
tempo trabalha a favor da candidatura da Terceira Via. A aposta é
derrotar o sociopata no primeiro turno e montar uma aliança nacional contra Lula
no segundo.
Com O Antagonista