Bolsonaro já foi filiado a nove partidos — PDC, PDC, PP (duas vezes), PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e PSL —, todos do "Centrão", daí ele “se sentir em casa” no PL, a despeito de já ter chamado o dono da casa de “corrupto e condenado”, de tê-lo mandado à puta que pariu e de ouvir dele um sonoro "vá tomar no cu" extensivo a seus ilustres rebentos.
Quando se
trata de política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã e vice-versa.
Em novembro, depois de um noivado tão curto quanto conturbado, a DR do Sultão do Bolsonaristão com o partido do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto foi superada e o
casório, que
havia sido suspenso, celebrado com pompa, circunstância, juras
de amor eterno e votos de fidelidade imorredoura.
Resta saber se a lua de mel vai durar até março ou se o
coração do “mito” mudará de dono pela 11ª vez, lembrando que ele precisa estar
filiado a uma legenda para disputar a Presidência — ou uma cadeira no Senado ou
na Câmara que lhe assegure foro privilegiado. Afinal, Bolsonaro é
investigado em 6 inquéritos, e o relatório final da CPI do Genocídio lhe
atribuiu pelo menos 9 delitos (entre crimes
comuns, de responsabilidade e contra a humanidade).
O então deputado federal que aprovou dois projetos e foi alvo de mais de 30 processos ao longo de sete mandatos cresceu o olho para o Planalto em 2014, ano da reeleição do Pacheco de terninho que sem jamais ter disparado um tiro virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante virou projeto de gerente competente; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010 virou presidenta do Brasil.
Na época, o capetão disse ao jornal O GLOBO que pretendia disputar a Presidência e que a página "Jair Bolsonaro Presidente 2014", criada no Facebook por "militantes da direita e apoiadores", já contava com mais de 12 mil seguidores. Em 2015, ele já aparecia nas pesquisas com 4% das intenções de voto. Em 2016, subiu para 7%, e no ano seguinte, para 15%.
Em 2017, ao saber que o então pré-candidato à Presidência
estaria num clube de golfe no Rio, o advogado Gustavo Bebianno correu
para encontrá-lo, levando consigo cópias impressas de centenas de emails (que jamais foram
respondidos) como prova da antiguidade de sua admiração. Mais adiante, o causídico defendeu seu ídolo em diversos processos — entre os quais a
folclórica ação por incitação
ao estupro movida pela deputada petista Maria do Rosário, que
poderia ter inviabilizado a candidatura do capetão —, sem lhe cobrar um tostão
de honorários.
Depois de trocar o PP pelo PSC, Bolsonaro teve um breve affair com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo). A lua de mel terminou quando ele descobriu que o partido havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista).
Em março de 2018, o já pré-candidato foi aconselhado por Bebianno a juntar trapos com o nanico PSL. Foi Bebianno quem coordenou a campanha presidencial e quem presidiu o PSL durante as eleições. De acordo com o empresário Paulo Marinho, que abrigou na própria casa o comitê de campanha, houve três grandes responsáveis pela vitória do sociopata: Bebianno, o publicitário Marcos Carvalho e o esfaqueador inimputável Adélio Bispo de Oliveira, nessa ordem. O resto é folclore.
Bolsonaro explorou politicamente a facada que
quase lhe custou a vida e, valendo-se da condição de
convalescente, fugiu dos debates televisivos, que inevitavelmente
exporiam seu acachapante despreparo. Impulsionado pelo antipetismo, acabou
sendo eleito e levando a reboque 52 deputados federais, 4 senadores e 3
governadores.
Observação: Vale lembrar que em 2018 a parcela pensante do eleitorado
votaria no demônio em pessoa para evitar que o país fosse presidido por um
presidiário. Como o Tinhoso não se candidatou, o jeito foi apoiar seu preposto —
um político tosco, polêmico, oportunista, populista, parlapatão, admirador
confesso dos anos de chumbo da ditadura militar e defensor de opiniões
peculiares, digamos assim, sobre tudo e todos. E deu no que deu.
Continua...