Durante a República Velha, o sistema eleitoral coronelístico impediu, em diversas eleições, que a oposição vencesse o candidato oficial. Quando enfrentou Hermes da Fonseca, em 1910, e Epitácio Pessoa, em 1919, Ruy Barbosa cortou um doze para desenvolver sua campanha. Seus apoiadores foram atacados por capangas a serviço do oficialismo, e alguns embates levaram à intervenção federal.
Com a criação do Código Eleitoral e da Justiça Eleitoral,
ambos em 1932, o cerceamento ao debate foi relativamente contido. Mesmo assim,
diversas eleições foram marcadas pela violência contra os opositores,
especialmente em áreas onde o poder coronelístico ainda resistia. Com a
redemocratização, em 1985, e a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, as
eleições foram se transformando em momentos de expressão da vontade da
cidadania.
De 1989 a 2018 foram realizados oito pleitos presidenciais,
seis dos quais foram decididos no segundo turno. As campanhas se desenvolveram
em clima de relativa ordem, mesmo quando as paixões políticas estavam açuladas.
Mas esse quadro não deve se repetir em 2022.
De todas as campanhas eleitorais da história desta banânia,
a próxima tem tudo para ser a mais violenta. O golpismo, as constantes ameaças
às instituições, a naturalização da barbárie e o desprezo dos valores
constitucionais que se fizeram presentes nos últimos três anos transformaram o
clima político e desenharam um cenário preocupante. Como nada tem a apresentar
aos eleitores, resta ao “mito” dos bolsomínions apelar para a violência, desmoralizar
o processo eleitoral, ameaçar jornalistas, atacar as instituições e produzir fake
news em escala industrial.
O presidente conta com o apoio da extrema-direita mundial
sob a batuta de Steve Bannon, que dirige uma organização terrorista
chamada Movimento e como representante na América do Sul o deputado Eduardo
Bolsonaro. A ideia é coordenar os esforços dos extremistas para atacar o
sistema do TSE, visando desacreditar as urnas eletrônicas e o processo
de apuração. E não faltará dinheiro para financiar o esquema criminoso.
As últimas declarações do general Augusto Heleno reforçam
essa análise. O trêfego oficial — que, como medida profilática, poderia ser
interditado judicialmente — sinalizou para as milícias bolsonaristas que vai
começar o ataque orquestrado às instituições, enquanto Bolsonaro retoma a
ladainha do "meu Exército", de que "o poder é do povo",
que o "STF quer governar em seu lugar" e que a saída é a
"intervenção militar constitucional".
Não será surpresa para ninguém se o patético general
coordenar a estratégia miliciana do capetão para as eleições. O GSI, a Abin
e a PF poderão servir como instrumentos de coação contra adversários.
Nem o Doutor Pangloss
está otimista com o processo eleitoral de 2022, que no momento está assim: o ex-presidiário
quer liquidar no primeiro turno a fatura da eleição para não correr o risco de
ser engolido por um eventual tsunami anti-PT no segundo.
Com Marco Antonio Villa
Continua...