sábado, 8 de janeiro de 2022

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM (CONTINUAÇÃO)


Lula e Bolsonaro se retroalimentam. Um precisa do outro para ter chances reais de se eleger. É por isso que o molusco faz acenos ao centro e à direita, como a recente aproximação de Geraldo Alckmin — que parece não perceber que está sendo usado como massa de manobra — e o "mito" faz o contrário, já que a entrada em cena de Sergio Moro o empurrou para a extrema-direita. 

Nas contas do capetão, só a fidelidade de sua base mais radical poderá salvá-lo de uma derrota humilhante no primeiro turno. Portanto, nada de concessões ao centro e à direita — a menos que Moro fique pelo meio do caminho e Doria não decole.

Tanto Lula quanto Bolsonaro desdenham as chances de Ciro Gomes, que luta com dificuldades para atrair apoios à direita e ao centro. Até onde a vista alcança, o pleito de outubro é um tabuleiro de xadrez que por ora só comporta dois jogadores. Lula joga com as pedras brancas e Bolsonaro, na defensiva, com as pretas.

Bolsonaro é um fabricante de crises que não sabe viver em relativa paz, e o exercício do poder exige a delicada e penosa construção de maiorias sem as quais nada é possível. Se não for capaz de ampliar o contingente dos que ainda o apoiam, onde sua alteza pensa que vai chegar? Parte dos seus seguidores, convencida de que ele não se reelegerá, o largará de mão.

Cresce entre aliados — dentro e fora do governo — a sensação de que o Messias de fancaria pode abdicar da reeleição para disputar uma cadeira no Senado (vale lembrar que, sem o nefasto foro privilegiado, os 6 inquéritos em que o presidente é investigado e os 9 crimes que lhe foram imputados no relatório final da CPI avançarão celeremente). 

Para uma derrota certa e humilhante, é quase certo que ele não irá. O que fará nos próximos três ou quatros meses decidirá seu destino e, em grande medida, o destino do Brasil. Tudo indica que tentará garantir os votos da direita aloprada — uns 15% do total — e somar outros 10% de antipetistas.

É o plano perfeito para entregar o Palácio do Planalto a Lula, que sempre trabalhou para manter o adversário no páreo. A estratégia do capetão, no entanto, não é se reeleger, mas conservar um cacife eleitoral capaz de evitar a cadeia assegurando-lhe alguma forma de imunidade.

Com Ricardo Noblat

Continua...