Nas contas do capetão, só a fidelidade de sua base mais radical poderá salvá-lo de uma derrota humilhante no primeiro turno. Portanto, nada de concessões ao centro e à direita — a menos que Moro fique pelo meio do caminho e Doria não decole.
Tanto Lula quanto Bolsonaro desdenham as chances de Ciro Gomes, que luta com dificuldades para atrair apoios à direita e ao centro. Até onde a vista alcança, o pleito de outubro é um tabuleiro de xadrez que por ora só comporta dois jogadores. Lula joga com as pedras brancas e Bolsonaro, na defensiva, com as pretas.
Bolsonaro é um fabricante de crises que não sabe
viver em relativa paz, e o exercício do poder exige a delicada e penosa
construção de maiorias sem as quais nada é possível. Se não for capaz de
ampliar o contingente dos que ainda o apoiam, onde sua alteza pensa que vai
chegar? Parte dos seus seguidores, convencida de que ele não se reelegerá, o
largará de mão.
Cresce entre aliados — dentro e fora do governo — a sensação de que o Messias de fancaria pode abdicar da reeleição para disputar uma cadeira no Senado (vale lembrar que, sem o nefasto foro privilegiado, os 6 inquéritos em que o presidente é investigado e os 9 crimes que lhe foram imputados no relatório final da CPI avançarão celeremente).
Para uma derrota certa e humilhante, é quase certo que ele não irá. O que fará nos próximos três ou quatros meses decidirá seu destino e, em grande medida, o destino do Brasil. Tudo indica que tentará garantir os votos da direita aloprada — uns 15% do total — e somar outros 10% de antipetistas.
É o plano perfeito para entregar o Palácio do Planalto a
Lula, que sempre trabalhou para manter o adversário no páreo. A estratégia do capetão, no entanto, não é se reeleger, mas conservar um cacife eleitoral
capaz de evitar a cadeia assegurando-lhe alguma forma de imunidade.
Com Ricardo Noblat
Continua...