sábado, 26 de fevereiro de 2022

O ZUMBI DO PLANALTO

Já tivemos um vampiro na Presidência. Agora temos um zumbi. Meses antes do pleito, Bolsonaro é um cadáver político que perambula pelo País falando para ninguém ouvir.

Por um lado, isso é positivo. Significa que o Brasil evoluiu e busca agora uma solução política racional para uma grave crise. Por outro lado, deixa o candidato à reeleição livre para agir contra as instituições — uma ação desesperada, de derrotado, que teme o final de mandato e a possibilidade (tecnicamente falando, é claro) de acabar na prisão.

O eleitor gostaria de antecipar o pleito. Vai ser uma agonia aguardar o dia 2 de outubro. Já se sabe — e desde o ano passado — que não há governo. O Palácio do Planalto encaminha as tarefas administrativas rotineiras, mas não consegue desenhar sequer o que fará na semana seguinte. Não há planos ou projetos para 2022. Os atos são decididos e encaminhados de forma improvisada, repetindo a “ação legislativa” de Bolsonaro em trinta anos de vida parlamentar.

A aproximação com o Centrão é uma ação desesperada, não o produto de um fabuloso cálculo político. É sinal de que o mandatário de fancaria necessita de algum apoio político para ainda se considerar eleitoralmente um protagonista político.

A decadência do nazifascismo bolsonarista — paupérrimo em ideias e incapaz de se organizar — é inequívoco. O presidente perdeu o apoio de amplas frações das classes médias, as classes populares estão mais e mais desgostosas com a crise econômica e seus efeitos, o grande capital está dividido — os setores mais modernos querem estabilidade e sabem que não a obterão com Bolsonaro — e a sociedade civil organizada demonstra a cada dia o cansaço com a permanência da irracionalidade como política de Estado. Até os militares sinalizam que pularão do barco antes do naufrágio eleitoral.

O desafio aos democratas será manter o nível da campanha eleitoral — que, na prática, já começou — sem cair nas inevitáveis provocações dos bolsonaristas. O desespero deve aumentar no segundo trimestre, quando ficar patente que o candidato à reeleição sequer chegará ao segundo turno, caso único nas eleições presidenciais desde a adoção da reeleição, em 1998.

Nesse cenário, a união de todos os democratas será indispensável. Tudo indica que Bolsonaro tentará a todo custo desqualificar as eleições — e contará com o apoio da extrema direita mundial, que tem nele, mais que um aliado, um agente para causar tensão no processo eleitoral e impedir que o Brasil encontre democraticamente o caminho para enfrentar e vencer os graves problemas nacionais.

Com Marco Antonio Villa