Já tivemos um vampiro na Presidência. Agora temos um zumbi.
Meses antes do pleito, Bolsonaro é um cadáver político que perambula
pelo País falando para ninguém ouvir.
Por um lado, isso é positivo. Significa que o Brasil evoluiu
e busca agora uma solução política racional para uma grave crise. Por outro
lado, deixa o candidato à reeleição livre para agir contra as
instituições — uma ação desesperada, de derrotado, que teme o final de mandato
e a possibilidade (tecnicamente falando, é claro) de acabar na prisão.
O eleitor gostaria de antecipar o pleito. Vai ser uma agonia
aguardar o dia 2 de outubro. Já se sabe — e desde o ano passado — que não há
governo. O Palácio do Planalto encaminha as tarefas administrativas rotineiras,
mas não consegue desenhar sequer o que fará na semana seguinte. Não há planos
ou projetos para 2022. Os atos são decididos e encaminhados de forma
improvisada, repetindo a “ação legislativa” de Bolsonaro em trinta anos
de vida parlamentar.
A aproximação com o Centrão é uma ação desesperada,
não o produto de um fabuloso cálculo político. É sinal de que o mandatário de
fancaria necessita de algum apoio político para ainda se considerar
eleitoralmente um protagonista político.
A decadência do nazifascismo bolsonarista — paupérrimo em
ideias e incapaz de se organizar — é inequívoco. O presidente perdeu o apoio de
amplas frações das classes médias, as classes populares estão mais e mais
desgostosas com a crise econômica e seus efeitos, o grande capital está
dividido — os setores mais modernos querem estabilidade e sabem que não a
obterão com Bolsonaro — e a sociedade civil organizada demonstra a cada
dia o cansaço com a permanência da irracionalidade como política de Estado. Até
os militares sinalizam que pularão do barco antes do naufrágio eleitoral.
O desafio aos democratas será manter o nível da campanha
eleitoral — que, na prática, já começou — sem cair nas inevitáveis provocações
dos bolsonaristas. O desespero deve aumentar no segundo trimestre, quando ficar
patente que o candidato à reeleição sequer chegará ao segundo turno, caso único
nas eleições presidenciais desde a adoção da reeleição, em 1998.
Nesse cenário, a união de todos os democratas será
indispensável. Tudo indica que Bolsonaro tentará a todo custo
desqualificar as eleições — e contará com o apoio da extrema direita mundial,
que tem nele, mais que um aliado, um agente para causar tensão no processo
eleitoral e impedir que o Brasil encontre democraticamente o caminho para
enfrentar e vencer os graves problemas nacionais.
Com Marco Antonio Villa