segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS (PARTE XIV)


No Mensalão, o guerrilheiro de araque José Dirceu foi o “chefe da quadrilha”; no Petrolão, voltou a ser o “braço direito” da autoproclamada “metamorfose ambulante”. O epíteto faz sentido: o retirante nordestino pobre e analfabeto que passou a torneiro mecânico, sindicalista pelego (vale a pena ler este texto), líder populista, fundador de partido e deputado constituinte e, após três tentativas inexitosas, foi eleito e Presidente da República. A partir do mensalão, virou “o cara que não sabia de nada”; indiciado na Lava-Jato, transmudou-se na “alma viva mais honesta do Brasil”; feito réu, tornou-se um “célula de cada brasileiro”; às vésperas de ir para a prisão, converteu-se a uma “ideia” e, já encarcerado, a “preso político perseguido pelas ‘elites’”. 

Voltando a Dirceu, sua trajetória foi detalhada neste acervo. Segundo o MPF, o “guerrilheiro do povo brasileiro” foi um dos líderes do mega-escândalo de corrupção petista e continuou a se beneficiar dele, mesmo depois de preso, definindo de sua cela os cargos no governo Lula. Quando Renato Duque foi nomeado para a Petrobras, o guerrilheiro de araque iniciou o trabalho de captação das empreiteiras, mas, diferentemente do que fez no Mensalão, não usou o dinheiro do Petrolão para comprar apoio de parlamentares venais, e sim em benefício próprio: em 2015, estimava-se que a rapinagem lhe havia rendido mais de R$60 milhões.

Depois que teve a trajetória abreviada pela Justiça — justamente quando se nome era o mais cotado para a sucessão “capo di tutti i capi” —, Dirceu passou atuar como consultor, valendo­-se da vasta influência que exercia sobre “cumpanhêros” instalados nas mais diversas engrenagens do governo. Lula, por seu turno, desceu a rampa com a popularidade nas alturas e ganhou rios de dinheiro com “palestras” pagas por empresas que se beneficiavam do propinoduto da Petrobras.

O fato de a carteira de clientes de Dirceu incluir algumas das principais empreiteiras envolvidas no Petrolão rendeu excelentes resultados: de 2006 a 2013 ele faturou R$29,3 milhões em contratos de consultoria com empresas de todos os tamanhos e atuação nos mais variados setores da economia, de cervejaria a laboratório farmacêutico, de escritório de advocacia a concessionária de automóveis.

Para fazer valer os polpudos honorários, o Dirceu contava com parceiros ocasionais importantes — entre os quais o próprio Lula. Em 2011, por exemplo, sem esconder a condição de lobista e com o beneplácito de auxílio logístico de altos funcionários da embaixada brasileira, a dupla viajou ao Panamá e teve lucrativos encontros com o presidente e ministros de Estado daquele país.

Somadas as penas nos processos do tríplex e do sítio, Lula teria mais de 25 anos de cana para puxar. Graças à banda podre do Judiciário, cumpriu míseros 580 dias numa cela VIP e foi reabilitado politicamente por uma decisão teratológica do ministro Luís Edson Fachin. Agora, numa inusitada condição de “ex-corrupto”, o sacripanta é o queridinho do eleitorado. Falam até que ele será ungido presidente com 171% dos votos válidos já no primeiro turno.

Aqui cabe abrir um parêntese para dizer que as pesquisas de “intenção de voto” e as encíclicas que os jornalistas políticos socam em cima do público todos os dias garantem que Lula será presidente em 2023. Daqui a pouco vão começar a dizer que nem é mais preciso fazer eleição. Para que colocar as instituições democráticas em risco? Basta a banda “garantista” do STF — que anulou as condenações do petralha — ungir Lula presidente e pronto, tudo resolvido.

Institutos de pesquisa e jornalistas políticos têm em comum uma compulsão histórica para fazer previsões erradas. Hoje, todos asseguram que Lula já está lá. Aos 77 anos, 40 dos quais no bem bom da política, duas passagens pelo Planalto e um ano e meio de férias compulsórias em Curitiba —, Lula tem planos de “mudar o Brasil” que parecem ter sido copiados do catecismo de um ditador de comédia. O abantesma está convencido de que Cuba — ou a Venezuela, ou o Peru, ou o Chile, ou a Nicarágua, ou todos eles — encontrou a solução ideal para a maior parte dos problemas humanos.

O que Lula realmente propõe para o Brasil, a partir de outubro, é a falta de papel higiênico. Não é má vontade: é público, notório e indiscutível, há anos, que o grande resultado prático dos regimes “de esquerda”  foi esse. Não é piada; é a alma do que as ditaduras de Cuba, Venezuela e companhia produziram na vida real até hoje. Alguém é capaz de citar uma outra realização de Maduro et caterva? Quiçá a falta de luz elétrica? Ou de comida no supermercado? Ou de emprego? Na Venezuela, a produção de petróleo caiu a um terço do que era. A inflação de 2021 ficou perto dos 700%. Todos os recursos do país são entregues diretamente aos ditadores e ao seu sistema de apoio — 2.000 generais, polícia secreta, milícias armadas, juízes amestrados. É Lula, Dirceu — de volta ao coreto das autoridades, depois de ser miseravelmente rifado anos atrás pelo chefe — e a “intelligentsia” petista propõem para nós. Não são os seus adversários que dizem isso; são eles mesmos, em seus discursos.

Lula deu para repetir que os problemas sociais dos brasileiros desaparecem com a ressurreição de empresas estatais e com a abertura de novas. Acha que vai resolver a questão da pobreza abrindo empresas de “capital misto”, socando na máquina pública mais funcionários, defendendo salários de R$ 100 mil por mês de juízes e de procuradores, criando um “Estado forte” e por aí afora. São essas as suas ideias novas para o Brasil. Lula, o PT e a esquerda tinham propostas mais generosas 20 anos atrás; prometiam um “novo país” e uma “nova sociedade”. Hoje propõem um Brasil sem papel higiênico, sem luz e com inflação de 700% ao ano. Fecho aqui o parêntese.

Como disse o escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998, “a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito”. Sorte da patuleia desvairada — e, de certo modo, nossa também — que burrice não dói. Se doesse, os gemidos desses aldrabões seriam mais ensurdecedores que seu alarido em defesa de Lula, de Dilma, do PT e de tudo que não presta na política canarinha — inclusive o mandatário de turno, mas isso já é outra conversa.

Continua...