Política e honestidade raramente andam de mãos dadas. Salvo honrosas exceções, nossos governantes e representantes se servem do mandato em vez de servir ao país. Mas é importante ter em mente que essa caterva não brota nos gabinetes por geração espontânea; se está lá, é porque obteve o aval do "esclarecidíssimo" eleitorado tupiniquim.
O que dizer de congressistas que destinam R$ 4,9 bi para o fundo eleitoral — dinheiro roubado de nós para financiar a campanha de quem continuará a nos roubar na próxima legislatura — quando metade da população não consegue fazer duas refeições por dia, o dólar está nas alturas, o preço dos combustíveis explodiu e a inflação voltou à casa dos dois dígitos?
Desde a redemocratização, cinco presidentes foram eleitos diretamente e dois foram alçados ao posto devido à morte dos titulares. Desses, o “menos pior” foi FHC, que sujou o poleiro comprando votos para a aprovação da PEC da Reeleição. Quanto aos demais, Collor se revelou um caçador de marajás de araque; Lula, um desaculturado exótico; Dilma, uma calamidade; Temer, uma aberração; e Bolsonaro, um dublê de mau militar e parlamentar medíocre que, por mal de nossos pecados, quer porque quer ficar mais quatro anos no poder.
A menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, a próxima eleição presidencial tem tudo para ser uma reedição piorada do pleito plebiscitário de 2018. O queridinho do eleitorado, segundo as pesquisas, é o ex-presidiário que teve a ficha imunda lavada nas coxas pela cúpula do Judiciário, e o vice na chapa, o ex-tucano que até não muito tempo atrás comparava o demiurgo de Garanhuns a um “ladrão de carros” e dizia que votar em Lula seria “reconduzir o criminoso à cena do crime”.
Situações surreais como essas causariam espécie — para dizer o mínimo — em qualquer democracia de respeito, mas não no Brasil, onde existem remédios constitucionais para apear do cargo mandatários que se tornam estorvos (que o digam Collor e Dilma), mas falta vontade política para administrá-los. E deixar a solução do problema cargo da récua de muares que atende por “eleitorado” tem sido um péssimo negócio.
Observação: Pelé disse certa vez que o brasileiro não sabe votar, e Figueiredo — o último presidente general da ditadura —, que “um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar”. Ambos foram muito criticados por isso, mas o tempo provou que eles estavam certos.
Voltando à questão dos combustíveis, soa ridículo Bolsonaro culpar o ICMS e contar com a “sensibilidade” da Petrobras. Faz sentido o que ele diz sobre a queda do preço do petróleo no mercado internacional não ser repassada às refinarias tão rapidamente quanto os aumentos, como também a crítica ao oportunismo dos donos de postos de combustíveis, que reajustam para cima o valor cobrado nas bombas bem mais rapidamente do que o reduzem (isso quando a redução chega realmente ao bolso do consumidor final). Por outro lado, estaríamos numa situação mais confortável se o atual governo tivesse se valido da Cide para criar um fundo de amortização.
É fato que os antecessores do capitão poderiam ter feito o mesmo e não fizeram — aliás, Lula e seu repulsivo partido quase “quebraram” a Petrobras com o Petrolão —, mas também é fato que, durante a campanha de 2018, o "mito" prometeu gasolina a R$ 2,50 o litro e gás de cozinha a R$ 35 o botijão de 13 kg.
Dizer agora que o combustível aumentou no mundo inteiro em decorrência da guerra no leste europeu é servir-se de uma meia-verdade para justificar o injustificável. Prova disso é que, enquanto o brasileiro gasta 25% de um salário-mínimo para encher o tanque de um carro popular, os argentinos gastam 6%, os italianos, 4,8%, e os norte-americanos, 3%.
Não seria de esperar algo muito diferente de um chefe do Executivo que passeia de motocicleta durante o expediente e trava uma verdadeira cruzada contra as vacinas para não dar palanque a seu arquirrival — cá entre nós, não fosse pelo governador de São Paulo, o dublê de general, expert em logística e ministro da Saúde, Eduardo Pesadelo, ainda estaria esperando “o dia D e a hora H” para iniciar o plano nacional de imunização.
Triste Brasil.