sexta-feira, 4 de março de 2022

O LESTE EUROPEU E A SAGA DO VICE

 

Já tive vergonha de ser brasileiro, passei a ter nojo quando Lula e PT tomaram o poder e agora já não sei como nominar minha repulsa ao desgoverno que aí está (para o qual contribuí, juntamente com outros 57 milhões de brasileiros, por absoluta falta de alternativa). Antes da pandemia, eu achava que a saída era o aeroporto; hoje, nem isso. A uma, porque Bolsonaro nos transformou em párias; a duas, porque já não resta muito para onde correr.

A melhor guerra é a que não acontece. No caso do leste europeu, existe a possibilidade de uma solução diplomática ser alcançada, mas nada leva a crer que Putin esteja propenso a fazer concessões — pelo contrário, esse сукин сын só vai sossegar quando e se anexar a Ucrânia ou, na melhor das hipóteses, substituir Volodymyr Zelenski por um fantoche pró-Rússia. Mas faltou combinar com os russos, digo, com os ucranianos.

Kiev ainda não caiu graças à surpreendente capacidade de resistência do povo ucraniano, mas retardar o inevitável só servirá para aumentar o número de baixas e o risco de uma guerra global. Além dos EUA, que lideram a Otan, outros países foram “arrastados” para o conflito, e Putin já disse que haverá “sérias consequências” se Finlândia e Suécia ingressem na Otan (sem mencionar que o artigo 5º da Aliança estabelece que um ataque contra um membro é um ataque contra todos).

Segundo o ESTADÃO, o envolvimento direto — e militar — de outras grandes potências no conflito ainda não é uma realidade. A própria China, tida e havida como a mais poderosa aliada de Moscou e que havia prometido uma “cooperação sem limites” com a Rússia às vésperas da invasão, parece tentar se distanciar do confronto. Mas Putin soou alarmes ao colocar suas forças de dissuasão nuclear em alerta máximo. Para ele, é preciso vencer essa guerra para impor limites ao ocidente. Isso nos leva a 3 considerações: 

1 — A sobrevivência da Rússia está consignada à sobrevivência de Putin (como a do PT à de Lula, mas isso é outra conversa); 

2 — Quanto mais tempo essa guerra durar, maior será o risco de ela se alastrar mundo afora; 

3 — Cachorro raivoso não se prende na corrente, sacrifica-se.

*** 

Dizia o Barão de Itararé, um dos pais do humorismo nacional, que político brasileiro é um sujeito que vive às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas. A julgar pelos primeiros movimentos, os candidatos que ocupam o topo das pesquisas presidenciais vão à sucessão de 2022 dispostos a demonstrar que o impossível é apenas uma palavra que contém o possível dentro de si. 

Na campanha de 2018, Bolsonaro cogitou compor uma chapa com o então senador Magno Malta, do PL. Dono da legenda, o ex-presidiário do mensalão Valdemar Costa Neto preferiu entregar o seu tempo de TV à coligação de Geraldo Alckmin. Exagerando na teatralidade, Bolsonaro agradeceu ao então rival tucano por ter abrigado em sua coligação a fina flor do centrão: "Obrigado, Alckmin, por ter unido a escória da política brasileira."

Embora dispusesse de vasta vitrine televisiva, Alckmin não decolou. No desespero, autorizou que fosse levada ao ar uma mensagem sincericida. Dizia o comercial: "Pra vencer o PT e a sua turma no segundo turno, o candidato é Geraldo Alckmin, mesmo que você não simpatize tanto com ele." O que a mensagem dizia, com outras palavras, era mais ou menos o seguinte: "Se você detesta o PT e quer evitar a vitória de Fernando Haddad, outro poste do preso Lula, vote em Alckmin, mesmo que o considere uma porcaria".

Hoje, Bolsonaro está de volta ao colo do Centrão, amancebado com o PL do ex-presidiário Valdemar Costa Neto, da quadrilha do Mensalão, e articula com o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, estrelas do Petrolão, a indicação do vice de sua futura chapa. 

Lula, por seu turno, deve ter como parceiro de chapa ninguém menos que... Alckmin! Num balé em que sujos se misturam a mal lavados, quem olha de longe fica com dificuldade para distinguir quem é quem. Prevalece a impressão de que em política nada se cria, nada se transforma, tudo se corrompe.

Antes de concluir esta postagem, volto rapidamente ao que dizia sobre a relevância do vice nas eleições presidenciais, dada a possibilidade nada remota de o mandato do titular ser abreviado e o vice assumir o posto.

O primeiro caso, tão antigo quanto nossa república, se deu quando Floriano Peixoto, vice de Deodoro da Fonseca, assumiu a Presidência com a “renúncia” do titular. Depois desse, houve mais sete casos — Nilo Peçanha; Delfim Moreira; Café Filho; João Goulart; José Sarney; Itamar Franco; e Michel Temer. 

Vice de Dilma em 2010 e 2014, Temer deu maior peso à candidatura do “poste” de Lula nos Estados e no Congresso, mas se tornou o mentor intelectual, articulador e principal beneficiário do impeachment da titular.

O empresário mineiro José Alencar, vice de Lula em 2002 e 2006, foi um dos avalistas do petista junto à classe empresarial, mas não chegou a assumir a Presidência.

O general Hamilton Mourão jamais conspirou contra o capetão — embora não lhe faltassem motivos, já que Bolsonaro balança, mas não cai, desde o início de seu nefasto governo.

Não fossem os vices, outros sucessores e outras formas de sucessão haveria. E aqui chegamos a um ponto de relevância para um debate sobre a real necessidade dessa figura nos tempos atuais. Para o reserva é ótimo: rende palácio à beira do lago, mordomias e, em caso de infortúnio do titular, até a Presidência. Mas para o país inexiste demonstração de que essa peça não se presta a mera decoração — quando não à conspiração.