segunda-feira, 28 de março de 2022

PARA SURPRESA DE NINGUÉM...




Em discurso para apoiadores do MST, o ex-presidiário de Curitiba chamou Sergio Moro de “figura grotesca”. Pelo Twitter, o ex-juiz respondeu: “Lula sinaliza apoio à retomada das invasões de terra e aproveita a oportunidade para me ofender, omitindo o roubo à Petrobras. Defenderei não só a propriedade privada, mas também a pública contra os assaltos do PT e seus parceiros. Ao invés de estimular a invasão de terras e conflitos entre brasileiros, precisamos discutir como melhorar a vida de milhões de pessoas, vítimas da inflação, da fome e do desemprego em nosso país.”

O demiurgo de Garanhuns também atacou o presidente da Câmara, afirmou que a atual composição do Congresso representa o pior que tivemos na história e que há “um excesso de poder” nas mãos de Lira. Como se vê, até um relógio quebrado acerta a hora duas vezes por dia.

Lira, se for reeleito deputado federal por Alagoas, tentará se reeleger presidente da Câmara, independentemente de quem assumir o Planalto. Se conseguirá, aí é outra conversa. Via de regra, o tamanho das bancadas facilita (ou não) esse caminho, e atualmente o PP, partido de Lira, é a quarta maior bancada federal.

No ano passado, com o apoio de Bolsonaro, o deputado alagoano montou um blocão para derrotar o grupo de Rodrigo Maia. Depois colocou a mão no orçamento secreto e virou “o pai” das chamadas emendas de relator. No ano que vem, o PP, comandado pelo ex-lulista e ex-dilmista Ciro Nogueira — o senador licenciado do Piauí que assumiu a Casa Civil do governo Bolsonaro — não vai compor federação alguma.

Até porque um partido que abriga bolsonaristas e lulistas não conseguiria se aliar formalmente a nenhuma outra legenda por, no mínimo, quatro anos. E em voo solo o PP corre o risco de perder força como grupo político na Câmara.

A federação com partidos de esquerda, se realmente vingar, tem potencial para formar um grupo consistente com pelo menos 120 deputados. No centro, MDB, PSDB, Cidadania e União Brasil (partido resultante da fusão do PSL com o DEM) também cogitam federação. Cada um desses dois blocos, a depender do tamanho real deles após as eleições de outubro, certamente terá candidato próprio para disputar a presidência da Câmara.

Se voltar ao poder, o parteiro do Brasil Maravilha, Pai dos Pobres e Mãe dos Ricos, enviado pela Divina Providência para acabar com a fome, presentear a imensidão de desvalidos com três refeições por dia e multiplicar a fortuna dos milionários, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto até aqui, certamente fará de tudo para ter uma aliado no cargo hoje ocupado pelo todo-poderoso Arthur Lira — ainda que isso não elimine completamente a chance de apoio ao próprio Lira, que hoje posa de bolsonarista por mera conveniência.

Sem o apoio garantido do Executivo, Lira não teria, em 2023, o mesmo senhorio para buscar a reeleição. Segundo um correligionário, “a vontade de deixar o Arthur [Lira] pequeno” também está na mesa de negociação dos outros partidos. “As federações, obviamente, estão sendo costuradas pensando na próxima legislatura, e não no quadro de hoje”.

Aliados fazem questão de ponderar que, mesmo em se confirmando o enfraquecimento do alagoano na comparação com a eleição do ano passado, que o alçou ao comando da Câmara pela primeira vez, Lira continuará sendo Lira: sedento por mais poder e em condições de jogar. “Se o Arthur ficar solto, é claro que isso torna mais complicado o plano da reeleição. Mas é o Arthur, né? Um presidente da Câmara que ganhou muito poder com os colegas operando o orçamento secreto”, afirmou um deputado do PP em seu terceiro mandato.