segunda-feira, 25 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS... (PARTE 3)

Ainda sobre a tensão entre o chefe do Executivo e a cúpula do Judiciário, o "mito" dos apatetados havia dito que não "assistiria calado” à condenação de seu apaniguado, daí o perdão ter sido um ato premeditado de provocação. Questionamentos jurídicos estão em andamento, mas o efeito político da afronta que ultrapassou o STF e atingiu o instituto sagrado da independência e do equilíbrio entre os Poderes.


Há quem veja no gesto de Bolsonaro uma vitória política qualquer que seja o desfecho jurídico da questão, mas nada garante que a maioria da sociedade vá apoiar uma atitude com a qual o presidente se associou ao cometimento de crimes claramente apontados pela Corte SupremaPara além disso, o intrujão deu um recado inequívoco sobre suas pretensões ditatoriais — que não se coadunam com as demandas de um Brasil perfeitamente adaptado ao regime de liberdades e garantias chamado democracia. 


A pergunta que se impõe é: o que os demais poderes estão esperando para tomar uma atitude mais assertiva? Cachorro louco não se prende na coleira — sacrifica-se. Pelo andar da carruagem, ou não teremos eleições, ou ao eleito não lhe será permitido presidir. Triste Brasil.


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Como juiz, Sergio Moro enquadrou poderosos; no governo, foi traído por Bolsonaro; na política, filiou-se ao Podemos de Renata Abreu, migrou para o União Brasil de Luciano Bivar, foi sabotado pelo neto de Toninho Malvadeza e teve a pré-candidatura à Presidência sepultada quando o UB decidiu lançar Bivar como representante da sigla na disputa presidencial. Rebaixado por seu novo partido, o ex-juiz declarou que não quer ser deputado, contrariando mais uma vez seus “correligionários” a participação das legendas nos fundos partidário e eleitoral é diretamente proporcional ao tamanho de suas bancadas, e o sistema proporcional transformaria Moro em puxador de votos.

Ao ser boicotado pelo Podemos e enredado no União Brasil, o quase candidato perdeu a chance de participar dos debates e emparedar Lula com todas as provas que foram anuladas pelo STF e, por tabela, desconstruir a narrativa de que não existe corrupção no governo Bolsonaro (vale lembrar que o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira e o PL de Valdemar Costa Neto, que ora apoiam a reeleição do capitão, foram aliados do PT no escândalo do Mensalão).

Nada é mais perigoso em Brasília do que assumir um “superministério”. Dos dois superministros que havia em 2019, um, carbonizado, deixou a pasta da Justiça pela saída de incêndio; do outro, que atendia por “Posto Ipiranga”, sobrou apenas uma lojinha de conveniências eleitorais que desvirtuam as prioridades econômicas. Depois que Bolsonaro escolheu entregar o governo e a chave do cofre ao Centrão, passou a haver dois tipos de ministro: Ciro Nogueira e os demais. O cacique do PP ainda não desembarcou do governo, mas a maldição do superministério desembarcou na Casa Civil.

Segundo relatório enviado pela PF ao STF no último dia 8, Nogueira, que despacha a um lanço de escadas do gabinete presidencial, teria embolsado R$ 5 milhões do grupo J&S em troca de apoio à reeleição de Dilma e outros R$ 8 milhões para adiar uma reunião do PP que decidiria se o partido continuaria ou não a apoiar o governo da petista. Mesmo com Augusto Aras na PGR e o aparelhamento de parte da PF, a notícia causou constrangimento no Planalto. E o mal-estar aumentou com o depoimento de Marcelo Ponte, que admitiu ter ouvido insinuações desabonadoras de Arilton Moura, um dos pastores acusados de cobrar propina de prefeitos para apressar a liberação de verbas de um cofre de R$ 55 bi situado no organograma do Ministério da Educação. 

A proliferação de denúncias expondo a digital do chefe da Casa Civil não só transformou o FNDE no epicentro do incêndio que arde no MEC como atrai as chamas para o gabinete presidencial. Ciro deixou de lado a aparente fidalguia com que costumava desfilar nos salões palacianos e já se comporta como a bola da vez. Nas redes sociais, tem postado fotos ao lado de Bolsonaro.

Nada mais flagrantemente explícito do que um político que se sente na corda bamba do que ter de mostrar que tem o presidente como seu fiel aliado. Vale lembrar que Abraham Weintraub, de tanto defender a ala ultraconservadora da gestão Bolsonaro, acabou expelido porque o figurino que exibia não servia mais à conjuntura do governo que se amancebou com o Centrão.

O superministro da vez vem adotando a postura de um “Cirinho do estilingue”. Ao mirar em Lula, ele joga pedra no inimigo que já foi seu próprio aliado — uma heresia nas hostes do Centrão, que um dia pode ser petista de coração e, no outro, bolsonarista desde criancinha. Ao dizer que a corrupção no governo é virtual, tentar sufocar a instalação da CPI do MEC e mandar apagar fotos de uma reunião com o pastor Arilton Moura ocorrida em setembro do ano passado, o bambambã do Centrão atrai as chamas para o gabinete presidencial.

Para quem foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil com o propósito de funcionar como um “amortecedor de crises”, Ciro Nogueira tem causado muita trepidação.