terça-feira, 26 de abril de 2022

TERCEIRA VIA — O ULTIMATO


No último domingo, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que as Forças Armadas estão sendo orientadas a atacar o processo eleitoral, e que existe uma tentativa de levar a corporação ao que ele chamou de “varejo da política”. O magistrado disse ter a “firme expectativa” de que os militares não se deixarão seduzir por esse “esforço de jogá-las nesse universo indesejável” e que “até agora o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido”. Barroso alertou ainda para o fato de que militares profissionais e respeitadores da Constituição foram afastados, e citou nominalmente Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Lembrou que os três comandantes das Forças Armadas foram afastados (algo inédito na história recente desta republiqueta de bananas).

Demorou, mas o magistrado que Bolsonaro chamou certa vez de filho da puta finalmente descobriu que merda fede. Quando "descobriram" (com seis anos de atraso) que Sergio Moro não era competente para jugar Lula (e que foi parcial ao fazê-lo), seus pares lavaram a toque de caixa a ficha imunda do petralha e o reinseriram no tabuleiro da disputa presidencial. Talvez a mesma presteza devesse ter sido demonstrada diante dos discursos golpistas de Bolsonaro no feriado de Sete de Setembro, mas houve apenas um "puxão de orelha" por parte do presidente da Corte Suprema e uma cartinha patética, redigida pelo igualmente patético vampiro do Jaburu, mediante a qual tudo voltou a ser como dantes no Quartel de Abrantes.

A suprema pusilanimidade cobrou seu preço. Resta agora saber se ainda dá tempo de evitar o pior, ou por outra, se o Judiciário vai aceitar bovinamente que o Legislativo lave as mãos e deixe a campanha à Presidência virar batalha campal (ou coisa ainda pior). Aliás, por ordem de Bolsonaro o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que deixou o comando do Exército há cerca de um mês para assumir o Ministério da Defesa, divulgou nota em que chama o togado de "irresponsável" (leia íntegra).

 

Depois da saída de Sergio Moro do Podemos, o general reformado Carlos Alberto dos Santos Cruz — que atuou como comandante das forças de paz da ONU no Haiti de 2007 a 2009, foi escolhido pela Força de Paz da ONU para o comando da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo em 2013 e foi ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil — pôs seu nome à disposição do partido para a disputa presidencial, mas disse que, caso haja uma convergência dos partidos de centro, apoiará o nome escolhido pela Terceira Via. 

 

Na campanha de 2018, o general apoiou o capetão e fez críticas ao bonifrate do presidiário. Foi convidado para integrar o Ministério e chefiou a Secretaria de Governo no início da gestão, mas acabou se tornando alvo de Olavo de Carvalho e de Carlos Bolsonaro e foi demitido ainda em 2019. Ao fazer seu anúncio, Santos Cruz escreveu o seguinte: " 

 

“As forças políticas de centro precisam mostrar capacidade de apresentar à sociedade brasileira pelo menos mais uma opção viável, equilibrada, para a próxima disputa presidencial. O Brasil não pode ficar com apenas duas candidaturas, extremamente polarizadas, que se alimentam mutuamente e que funcionam como cabos eleitorais recíprocos. O País precisa de mais opções. Não as apresentar é desconsideração com a nossa população.
 

A disputa polarizada tende a ser uma briga de xingamentos e acusações, sem os debates que a sociedade precisa sobre os programas de governo e propostas de solução para os problemas nacionais. Uma disputa entre dois candidatos que não apresentam o que o Brasil precisa: objetivos claros, transparentes, certeza de execução com os compromissos assumidos e esperança no futuro.
 

Os riscos de mais quatro anos com o ex-presidente ou com o atual presidente, ambos com seus grupos já conhecidos, são bastante evidentes: campanha de baixo nível, rasteira; investimento no fanatismo e na manipulação da opinião pública por meio de uma avalanche de fake news cada vez mais profissionalizada e ousada; promoção do "salvador da pátria"; falta de combate à corrupção; e fanatismo que pode desaguar em violência, pelo menos localizada.
 

O Brasil precisa ser líder de práticas democráticas, de seriedade e de responsabilidade política e não de liderança de populismo latino-americano e até mesmo mundial. A democracia precisa ser reforçada e aperfeiçoada com a união nacional e com o respeito às pessoas, às funções e às instituições. O País precisa ser unido e as divergências respeitadas para que possa enfrentar seus graves problemas. Para a solução dos problemas econômicos, da fome, da inflação, da redução da desigualdade social, do auxílio aos necessitados, é fundamental a total transparência e publicidade no orçamento e na aplicação dos recursos públicos, a integração dos órgãos de controle e a responsabilização. O populismo econômico, irresponsável, torna o futuro mais sombrio ainda.
 

Os conflitos entre poderes e os embates políticos precisam ter como resultado a apresentação de propostas de aperfeiçoamento institucional. Os conflitos sem resultados práticos positivos levam apenas à intoxicação social e à esquizofrenia política. O Brasil precisa resolver seus problemas, e isso não se faz em ambiente de conflito, de espetacularização, de show permanente. Isso rouba as energias da sociedade e capacidade produtiva de todos os brasileiros. Precisamos de harmonia, saúde, educação, segurança pública, Justiça, solidariedade etc.

 

Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário precisam responder aos anseios da população brasileira, tais como a responsabilização, a total transparência da administração pública e o combate à impunidade. No presidencialismo, o comportamento equilibrado do Executivo, sem populismo, é de influência marcante e fundamental para os aperfeiçoamentos necessários à prática política e à melhoria no funcionamento demais poderes e instituições.
 

A política não tem necessidade de ser obscura, regada a dinheiro público, e atender a privilégios e interesses pessoais. A classe política deve e pode se autovalorizar, para que seja vista de maneira mais positiva pela sociedade.
 

É por meio da política que os problemas são resolvidos. Para isso, a política precisa ser desvinculada ao máximo das benesses e dos vícios ligados aos recursos públicos, alguns deles escandalosos.
 

A eleição que se aproxima precisa significar uma oportunidade de possíveis mudanças, de maior seriedade nos compromissos assumidos pelos políticos e de exigências pela população. A eleição precisa significar esperança! Para isso, dois compromissos são fundamentais: o fim da reeleição para cargos executivos, que tantas falsas promessas, deformações de comportamento e prejuízos vêm causando ao Brasil; e o fim do foro privilegiado, para que todos sejam realmente iguais perante a lei e para romper laços que impedem a independência dos poderes, que é um dos princípios da democracia. Essas medidas são necessidades imediatas, independentemente das outras reformas e ações urgentes necessárias para reduzir a desigualdade social, melhorar a Educação, a Economia, a Saúde, a Justiça, a Segurança Pública etc.

 

O Brasil precisa sair da intoxicação ideológica e exigir compromisso e responsabilização legal às promessas não cumpridas em campanhas políticas. Precisa resolver seus problemas reais dentro dos princípios da democracia. As eleições estão aí para isso. Precisamos de novas caras na política e também de novas formas de exigir o cumprimento de promessas!
 

É hora de a classe política mostrar alternativas para a sociedade brasileira. Pelo menos uma! Todas as forças políticas de centro precisam se unir e apresentar mais opções para os eleitores. Opções essas que tragam esperança de novo comportamento político, de futuro, de desenvolvimento com união e paz social. O Brasil não pode seguir no caminho indicado pela polarização. Há necessidade URGENTE de sair da armadilha do radicalismo.”