A cinco meses da “festa da democracia”, campanhas pela inclusão eleitoral visando à participação dos mais jovens no pleito de outubro resultaram num salto de 45,63%, na comparação com fevereiro, entre adolescentes de 15 a 17 anos. Mas talvez fosse mais adequado dizer “circo da democracia”, já que candidatos estapafúrdios, como José Maria Eymael, Vera Lucia, Leonardo Péricles e Luciano Bivar, entre outros, devem achar que o eleitorado é uma ospália (e não sem razão). E esse elenco de feira de horror seria ainda mais bizarro se Cabo Daciolo, Datena e Pacheco não tivessem desistido de concorrer.
Falar em democracia num país em que o voto é obrigatório para quem tem entre 18 e 70 anos de idade é uma piada. A eleição de nossos "representantes" deveria ser vista como uma ação de eleitores racionais e interessados, mas tudo se faz para conquistar o voto de indivíduos politicamente despreparados e desqualificados nesta banânia, até mesmo levar urnas até tribos indígenas perdidas nos confins da mata amazônica, para que silvícolas que sequer falam português exerçam o “sagrado direito de votar para Presidente”.
Às vésperas de completar 18 anos, minha prioridade era a carteira de habilitação. Alistamento militar e título eleitoral eram meras consequências (e não necessariamente bem vistas) da maioridade. Votei pela primeira em 1978, durante a “abertura lenta, gradual e segura” do governo Geisel — não havia então eleições para Presidente da República, e os governadores dos Estados eram indicados, e não eleitos pelo povo.
Em 1989, votei no caçador de marajás de araque porque a alternativa era o desempregado que deu certo. Não me lembro em que votei para o Congresso, até porque desculturados políticos como eu não tinham noção da importância do Legislativo. Muita coisa mudou de lá para cá, inclusive a mentalidade dos adolescentes. Mas eu considero oportunista essa campanha maciça pela participação dos “eleitores facultativos” no pleito que se avizinha. Sobretudo porque a disputa será movida mais pelo fígado do que pela razão.
A experiência recomenda desconfiar de pesquisas eleitorais (eleitoreiras?) feitas com muita antecedência. Em 2018, todas elas cravaram a derrota de Bolsonaro no segundo turno e a eleição de Dilma para o Senado. E deu no que deu.
Em 10 de outubro de 2108, escrevi que o fato de Bolsonaro ter obtido quase o dobro dos votos do bonifrate do presidiário no primeiro turno era sugestivo. Até então, nenhum candidato que passou para o segundo turno na dianteira da disputa presidencial deixou de se eleger. Foi assim com Lula em 2006 — ele obteve 49% dos votos válidos no primeiro turno e derrotou Alckmin no segundo por 60,3% a 39,2% — e com Dilma em 2014 — ela obteve 41,6% no primeiro turno, contra 33,6% de Aécio, e se reelegeu no segundo por 51,6% a 48,4%. Na mesma postagem, anotei que Bolsonaro jamais teria meu voto se houvesse alternativa. E votar no PT não era alternativa. Ter na Presidência um criminoso condenado e preso era um despautério, até mesmo numa republiqueta de bananas como a nossa. E mais uma vez deu no que deu.
Estamos novamente numa sinuca de bico. A terceira via se esfacelou depois que Luciano Bivar implodiu a candidatura de Sergio Moro. Mas o deputado pernambucano pode tirar o jegue da chuva. Ainda que o União Brasil tenha cerca de R$ 950 milhões para financiar as eleições e mais de R$ 250 milhões guardados de anos anteriores, Bivar tem tantas chances de se eleger presidente quanto eu de ser ungido papa.
Observação: Entre mortos e feridos da implosão, João Doria seria o menos ruim, sobretudo com Simone Tebet na chapa, mas sua rejeição resiste até ao fato (público e notório) de que, não fosse por ele, a imunização contra a Covid só começaria na hora H do dia D.
Quem viver verá.