terça-feira, 21 de junho de 2022

A 100 DIAS DO PRIMEIRO TURNO...



Tanto Lula quanto Bolsonaro vivem no passado, saudosos, cada qual a sua maneira, de um Brasil que não existe mais. Em meio a esses devaneios nostálgicos, o eleitorado, desalentado, subnutrido e de olhos vendados pela ignorância, resigna-se, mais uma vez, à perspectiva de votar em quem não quer para impedir a vitória de quem quer menos ainda. 

Os governos do petralha foram melhores que o do malacafento? Foram. Mas ambos se igualam quando adotam o mesmo modelo econômico e práticas corruptas. Hoje, os “queridinhos do eleitorado” são dois atores encenando uma luta de um contra o outro e prometem mudanças que nunca virão.

Bolsonaro ainda não confirmou quem será seu companheiro de chapa. Com Mourão fora do páreo, tudo apontava para o também general Walter Braga Netto, mas o Centrão vem pressionando a troca pela ex-ministra Tereza Cristina — e o Centrão manda e não pede. 

Os motivos para não fazer do general o vice saltam das pesquisas encomendadas pelo comitê da reeleição. Elas coincidem com as sondagens públicas. Apontam uma alta rejeição a Bolsonaro, uma aversão notável do eleitorado feminino e uma dificuldade de encurtar a distância que separa do principal rival. Bolsonaro já comparou o vice a um cunhado — que não se pode mandar embora —, e disse que precisa de um  que "não tenha ambições de assumir a presidência ao longo do mandato".

Observação"Diante da ofensiva do núcleo duro da campanha para emplacar Tereza Cristina, aliados tem estimulado o ex-ministro da Defesa a iniciar uma agenda própria de viagens pelo país para não perder o posto para a ex-colega de Esplanada", diz O Globo. Segundo o jornal, Valdemar Costa Neto, Flávio Bolsonaro e Ciro Nogueira “já se comprometeram a intensificar a ofensiva em favor da deputada”. O Partido Militar, que já tem seu candidato no Palácio do Planalto, talvez tenha de ceder a vice-presidência para o Centrão.

A participação de militares no desgoverno em curso começou com a presunção de que eles conseguiriam controlar os ímpetos autoritários do chefe — um político bronco que lhes permitiria voltar ao poder pela porta da frente. Acabou que eles foram cooptados pelo mandatário para uma ação que se fortalece à medida que as chances de reeleição diminuem. O abuso do poder político e econômico do atual governo arranhou profundamente a fama dos militares de serem a elite do funcionalismo público. 

O ministro da Defesa é um aliado incondicional do presidente na campanha pelo descrédito da urnas eletrônicas e esgarçamento das relações do Executivo com as cortes superiores, notadamente o TSE. A insistência das fardas em apontar supostos problemas no sistema eleitoral denota claramente seu apoio à pregação bolsonarista de que está em curso uma manobra para impedir a reeleição do “mito”.

As comemorações do bicentenário da Independência prometem uma reprise do que ocorreu no 7 de Setembro do ano passado. Como que se aquecendo para o golpe, Bolsonaro voltou a subir o tom contra o STF e o TSE, confraternizou com o criminoso foragido Alan dos Santos, ameaçou (pela enésima vez) desrespeitar decisões dos tribunais superiores e disse que deve se encontrar em breve com Donald Trump, que está às voltas com a Justiça americana por ter arquitetado um golpe de Estado para impedir Joe Biden de assumir seu posto na Casa Branca. 

Embora o TSE e o STF tenham confirmado a cassação de dois deputados bolsonaristas que divulgarem fake news pela internet, Bolsonaro continua seguindo os passos de seu ídolo (só falta pintar os cabelos de laranja). Com todas as pesquisas apontando a vitória de Lula, essa postura leva a crer que o presidente esteja forçando a impugnação de sua candidatura, o que lhe evitaria uma derrota acachapante nas urnas e permitiria reclamar do sistema.

A exemplo do sapo de Guimarães Rosa, Bolsonaro não pula de uma posição política para outra por boniteza, mas por precisão. Braga Netto continua sendo seu preferido. Foi por absoluta necessidade que o presidente reinseriu a carta da ex-ministra da Agricultura no baralho. O general já havia se desincompatibilizado do cargo no início de abril e se filiado ao partido do chefe. Foi nomeado aspone e passou a acompanhar o morubixaba em suas viagens de campanha. 

Bolsonaro já havia declarado sob holofotes que sua efetivação como Número 2 da chapa estava 90% acertada. Deve-se a diferença de 10% à pressão dos caciques do Centrão, e o presidente já se mostra receptivo à argumentação segundo a qual, em política, para cada jeito de fazer há pelo menos mil desculpas para não fazer.

Se na batida do martelo a opção civil prevalecer sobre o general, o pulo será do tamanho da fragilidade exposta nas pesquisas.

Com Josias de Souza