terça-feira, 7 de junho de 2022

A VOLTA DA FÊNIX MITOLÓGICA — MAS PODEM CHAMAR DE TERCEIRA VIA (PARTE VI)

Magalhães Pinto, que de bobo não tinha nada, comparava a política às nuvens no céu: "você olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". Dito isso, o que estou escrevendo agora pode não valer mais quando esta postagem for ao ar, mas quod scripsi, scripsi.

Bastou Bolsonaro aventar que só vai participar de debates no 2º turno para Lula dizer que não faria sentido ele (Lula) “servir de escada” para candidatos que ostentam percentuais abaixo dos dois dígitos nas pesquisas. Parece aquele meloso “só vou se você for” de começo de namoro, mas o buraco é mais embaixo. 


Na última sexta-feira, passeando por Foz do Iguaçu, assim disse o capetão: “Talvez eu compareça. Vamos esperar. Eu fecho agora, se o Lula for vou junto com ele”. Ciro Gomes, que disputa o Planalto pela quarta vez e é o terceiro colocado nas pesquisas disse que o marketing do PT vem postando todo encontro, missas ensaiadas e monólogos de Lula com o título de “debate”: É um tal de ‘Lula debate com o pessoal da educação’, ‘Lula debate com não sei o quê’, que só aumenta o desejo, em todos nós, de ver o impossível título: ‘Lula debate com os outros candidatos’. Será que vem? Tamos esperando, meu caro!

 

Fato é que os dois populistas são bons de bico (e Ciro, brilhante no campo da oratória), mas o caldo pode entronar os queridinhos da plebe ignara forem colocados frente a frente. O passado do petralha o condena (embora o STF tenha anulado as condenações) e últimos três anos e meio não recomendam eleger o mandatário de turno nem para suplente de vereador no município de Ponte que Partiu.

 

Em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro participou de dois debates antes de ser esfaqueado em Juiz de Fora, a um mês do primeiro turno. Na Band, perdeu a linha quando o líder dos sem-terra, sem-teto e sem-vergonha perguntou por que embolsava o dinheiro do auxílio-moradia em Brasília; na Rede TV!, foi espinafrado por Marina Silva por ter ensinado uma criança de colo a fazer o sinal de arminha. 


Convalescente, o "mito" usou a facada como salvo-conduto para fugir dos debates, mas não se furtou a dar entrevistas à imprensa, gravar programas eleitorais e participar de eventos com apoiadores. Como ele próprio disse, “tudo na política é estratégia”. 


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A novela da terceira via já teve protagonistas como Mandetta, Huck, Doria e Moro. Todos jogaram a toalha em momentos diferentes e por motivos diferentes. Datena, Cabo Daciolo, Alessandro Vieira e Rodrigo Pacheco desistiram porque sequer pontuaram nas pesquisas. A invejável oratória de Ciro Gomes não lhe assegurou uma vaga no segundo turno em 1998, 2002 e 2018, e tudo indica que a história se repetirá 2022. Já Eymael, Janones, Bivar, Vera Lucia e Sofia Manzano ainda não desistiram; caso não o façam, é bem provável que ganhem o que Luzia ganhou atrás da horta. 


Analistas políticos (profissionais e de botequim) chegaram a dizer que não restaria ninguém além de Lula e Bolsonaro, mas a conspirata que tirou Moro do páreo e a desistência de Doria desobstruíram a pista da “terceira via”. Simone Tebet teve o nome ratificado com 95% dos votos da Executiva Nacional do MDB e conta com o apoio do Cidadania e a promessa de apoio do PSDB (lembrando que os tucanos são tão indecisos que mijam no corredor quando se deparam com dois banheiros). Já se a senadora se tornará competitiva ou não, isso é uma outra conversa conversa. 


Apenas 32% dos brasileiros apoiam Lula de maneira convicta, e outros 16% apoiam Bolsonaro. Entre os eleitores do ex-presidiário, 33% votam nele de nariz tapado (por falta de um candidato melhor). Entre os que votam no “mito” de fancaria o percentual é ainda é ainda maior: 40%. Isso quer dizer que mais da metade do eleitorado rejeita os dois ou vota num deles apenas por falta de alternativa (os números podem variar de pesquisa em pesquisa, mas mostram que o fundamento da nossa democracia não é a busca por um projeto comum, e sim a ojeriza por um ou outro candidato). 

 

Em tese, isso abre espaço para uma liderança jovem, com experiência política e que mostre sensibilidade especial para as questões sociais — três características a revista eletrônica Crusoé atribui a Simone Tebet, que, pelo fato de ser pouco conhecida nacionalmente, tem baixo índice de rejeição. Demais disso, há uma tendência de que mulheres de classe C, de meia idade, e moradoras de regiões metropolitanas sejam um dos fiéis da balança na votação de 2022.

 

Roma não foi feita num dia — e tampouco em 4 meses, mas isso é outra conversa. Pela primeira vez, a terceira via aparenta ter alguma substância. Torçamos para que prospere e ponha fim à desgraça em dose dupla que representa esse embate figadal entre nhô-ruim e nhô-pior.