VIVEMOS COM NOSSOS DEFEITOS COMO COM O CHEIRO QUE TEMOS; NÓS NÃO O SENTIMOS, ELE SÓ INCOMODA OS OUTROS.
O iPhone transformou em computador ultraportátil um aparelho que nasceu telefone sem fio de longo alcance. Com sistema operacional e uma profusão de aplicativos, a demanda energética do dispositivo cresceu para além da capacidade da bateria, e a autonomia passou a disputar com o tamanho da tela o topo do ranking das características mais valorizadas pelos usuários.
No que tange ao display, há aparelhos do tamanho de tábuas de carne. Quanto à energia, ou se paga mais por um modelo com bateria de 5.000 mAh ou superior, que dure pelo menos um dia inteiro, ou se é obrigado a fazer um pit stop entre as recargas.
É possível aumentar a capacidade das baterias; difícil é fazê-lo sem que tamanho, peso e custo de fabricação cresçam na mesma medida. Traçando um paralelo meramente ilustrativo com os veículos elétricos, enquanto o iPhone 11 Pro Max integra uma bateria de 3.969 mAh (equivalente a 0,01504 kWh), o BMW i3 de 2015 já usava um modelo com capacidade de 22 kWh, que lhe garantia uma autonomia de até 135 km. Quatro anos depois, uma "usina" de 98,7 kWh permitiu ao Ford Mustang Mach Extended Range rodar até 610 km sem recarrega.
Observação: Os veículos elétricos surgiram no final do século XIX, mas deixaram de ser fabricados em 1915, quando Henry Ford lançou o modelo T. Quando a ideia voltou à baila, muitos anos depois, a Gurgel Motores S/A lançou o primeiro carro elétrico da América Latina. Com um motor de 3,2 kWh (potência equivalente a 4,2 cv) e pesando 460 kg (320 kg só das baterias), o Itaipu E150 atingia 30 km/h de velocidade máxima nas primeiras versões; as últimas já alcançavam 70 km/h na descida e com vento a favor, mas sua autonomia média era de 70 km. Antes de baixar as portas (em 1996), o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel apostou as últimas fichas no furgão elétrico Itaipu E400, com motor de 11 cv e autonomia de apenas 80 km (a bateria levava até 10 horas para recarregar). O tempo provaria que Gurgel mirou o alvo certo, apenas não dispunha da arma adequada para atingi-lo. Atualmente, os carros da Tesla são os que oferecem maior autonomia — o Tesla Model S Long Range Plus lidera o ranking, com autonomia de 647 km, contrapondo-se ao MINI Cooper SE, que roda apenas 177 km.
Enquanto buscam uma solução factível e comercialmente viável, os fabricantes de baterias se valem de paliativos, como sistemas de “carregamento rápido” e softwares que otimizam o consumo (mais detalhes na sequência de postagem iniciada aqui). Mas as limitações dos ultraportáteis (e dos computadores em geral) vão bem além da autonomia.
O desempenho de qualquer dispositivo computacional é limitado pelo hardware que o integra. Claro que o sistema (Windows, macOS, Linux, Android, iOS etc.) também impacta, positiva ou negativamente, a performance global: rodar o Win11 numa máquina com disco rígido eletromecânico é um verdadeiro teste de paciência.
Para além da capacidade de armazenamento de energia (que dita a autonomia dos ultraportáteis), há ainda limitações impostas pelo processador, pelas memórias e pelas interfaces de vídeo, áudio e rede, entre outras. Segundo Mestre Morimoto, “todo computador é tão rápido quanto seu componente mais lento”.
Um PC com processador ultraveloz e pouca memória RAM tende a ser mais lento do que seria se dispusesse de uma CPU mediana e fartura de RAM. Claro que a importância de cada componente é relativa. As limitações de uma placa de rede 10/100, por exemplo, só são sentidas quando a tarefa depende diretamente da largura de banda nos downloads e uploads. Da mesma forma, vídeo e áudio chinfrins não incomodam um usuário que se limita a assistir a clipes no YouTube, também por exemplo.
No que concerne ao processador e às memórias, o buraco é mais embaixo. Todo computador usa memórias de diversas tecnologias (RAM, ROM, HDD/SSD, cache, etc.), mas é na RAM (memória física ou primária) que o sistema operacional, os aplicativos e os demais arquivos são carregados e processados — geralmente a partir da memória de massa, que nos PCs corresponde ao drive de disco rígido (ou de memória sólida, conforme o caso) e nos ultraportáteis, ao armazenamento interno.
A RAM é uma memória volátil e de acesso aleatório. Volátil, porque só retém os dados quando está energizada; de acesso aleatório, porque grava e lê dados a partir de quaisquer endereços, de forma não sequencial. O acesso aleatório a torna milhares de vezes mais rápida do que os drives de disco rígido (HDD) e suas taxas de transferência e velocidade de escrita e gravação são superiores às dos drives de memória sólida (SSD). Por outro lado, devido à volatilidade, é preciso haver uma memória “persistente” (não confundir com permanente) que preserve o conteúdo mesmo com o computador desligado.
Quando ligamos o computador, arquivos do sistema e dos aplicativos que pegam carona na inicialização são carregados para a RAM a partir da memória de massa (ou secundária), que é representada pelo HDD e/ou SSD em desktops e notebooks, e pelo armazenamento interno em smartphones e tablets. A quantidade de RAM influencia diretamente o desempenho do aparelho: quando ela é insuficiente, o uso da memória virtual evita a exibição das antigas mensagens de "memória insuficiente", mas deixa o sistema muuuuuuuito lento.
O Gerenciador de Memória Virtual libera espaço na RAM enviando para um "arquivo de troca" (swap file) as sessões "não prioritárias" naquele momento, e trazendo-as de volta mais adiante, se e quando necessário. O problema é que esse arquivo é baseado na memória de massa, que é muito mais lenta do que a já relativamente lenta RAM.
Se você observar as especificações do seu aparelho, verá que o HDD, SSD ou armazenamento interno são "latifúndios" de centenas (ou milhares) de gigabytes, ao passo que RAM só ultrapassa 4 GB nos modelos mais caros, embora o recomendável seja atualmente 8 GB.
Continua...