sexta-feira, 17 de junho de 2022

ENTRE A ESCÓRIA E OS ESCROQUES


A maneira como o dinheiro público é gasto no Brasil afronta os contribuintes. São cargos demais, empresas públicas demais, esquemas demais, corrupção demais, acordos de bastidor demais. Falta ao poder público meritocracia, auditoria e punição, e à sociedade, a competente reação. Nenhum país sobrevive com um sistema perverso assim. 

 

Estamos entre os países que mais gastam com funcionalismo. Gastamos mais que Suécia e Inglaterra, onde os serviços públicos são de alta qualidade. Nosso modelo nacional de gestão pública é ultrapassado. Somos reféns de corporações que visam apenas manter seus privilégios, e da corrupção, que corrói qualquer chance de mudança. É preciso quebrar este modelo, romper com o velho, debelar este sistema perverso que se retroalimenta das misérias de nosso país.
 

O povo brasileiro tem sido vítima dos delinquentes da política há tempos. Não é de hoje que crimes como peculato — termo jurídico que define a prática de rachadinha — são cometidos com naturalidade e desenvoltura nos corredores de Brasília. O advento da Lava-Jato tornou-se um marco para o cidadão de bem, que viu os poderosos e até então intocáveis donos do poder serem condenados e encarcerados por desviar dinheiro público. O sistema, contudo, preparava seu contra-ataque. Em pouco tempo a Lava-Jato foi extinta, corruptos foram soltos e o Centrão voltou ao núcleo do poder, comandando estatais, indicando dirigentes e controlando a máquina pública. 

 

A reação foi além, com leis sendo revistas, penas abrandadas ou extintas, e os sistemas de controle sendo enfraquecidos. Aquele que foi eleito para combater o mecanismo acabou se mostrando seu mais ardoroso defensor. Mais um caso típico de estelionato eleitoral.

 

Diante dos graves desacertos na economia e de uma pandemia que ainda não deu trégua, as preocupações do cidadão comum mudaram de patamar. O combate à corrupção deixou de ser uma bandeira inegociável. Mas é imperativo não perder de vista que a corrupção gera desemprego, inflação, fome e violência — como gerou mortes durante a pandemia.

 

A polarização criou um sistema perverso, no qual dois grupos que representam um mesmo modelo falido de governo se retroalimentam. As próximas eleições nos darão novamente a chance de romper com as práticas que levaram o país à debacle moral e fiscal. O repúdio ao modelo petista de governar ainda está presente na memória de muitas pessoas, e outras tantos têm a percepção de que mais quatro sob Bolsonaro... Enfim, é preciso pôr fim aos extremos e pugnar por um país estável, com mais segurança e emprego.

 

A lembrança de um período em que a lei valia para todos e a corrupção finalmente era punida ainda vive na mente de muitos brasileiros. Precisamos de pessoas comprometidas com esse projeto, com um desenho de nação soberano, longe dos erros do passado e da raiva do presente, focados em construir um país onde a força da lei se sobreponha à vontade da escória que circula entre rachadinhas, mensalões e petrolões.


Com Márcio Coimbra