domingo, 19 de junho de 2022

SAL DE FRUTAS A GENTE VÊ DEPOIS

 


A decadência da ditadura militar propiciou o ressurgimento da democracia no Brasil, culminado com a promulgação da Constituição de 1988. A volta das eleições diretas para o Planalto com atuação expressa da Justiça Eleitoral ocorreu no ano seguinte, e contou com 82.074.718 eleitores aptos a votar. Fernando Collor, o caçador de marajás de araque, recebeu 35.089.998 votos e foi o primeiro chefe do Executivo Federal eleito diretamente desde 1960. Em 1994, o povo voltou às urnas e elegeu Fernando Henrique, que obteve 34.377.829 votos e foi reconduzido ao cargo em 1988, com 35.936.916 votos. 


A primeira eleição presidencial totalmente informatizada desde a criação da urna eletrônica — que foi implantada progressivamente em todo o país a partir de 1996 — ocorreu há exatos 20 anos e culminou na vitória de Lula, com 52.793.364 votos. Quatro anos depois, o demiurgo de Garanhuns foi reeleito com 58.295.042 votos; em 2010, sua pupila, a inolvidável nefelibata da mandioca, recebeu 55.752.529 votos e se tornou a primeira presidenta desta banânia. 


Mediante o maior estelionato eleitoral da história (até então, porque seria superado em 2018), Dilma, a inolvidável, se reelegeu em 2014, mas foi afastada em maio de 2016 e penabundada dali a três meses, quando então Michel Temer, o vampiro do Jaburu, se aboletou no trono. Dois anos mais tarde, Jair Bolsonaro, o Messias que não miracula, foi eleito com 57.797.847 dos votos válidos. 


Assim que subiu a rampa e vestiu a faixa, o "mito" dos descerebrados enrolou as bandeiras de campanhaenfiou-as onde o sol não bate e deu continuidade à demolição da economia que a bruxa má iniciou e o impeachment a impediu de concluir. Agora, faltando 100 dias para as eleições gerais, uma dezena de aberrações ameaça disputar a Presidência (lembrando que a data limite para a oficialização das candidaturas é o dia 5 de agosto, e que até lá muita coisa pode mudar). 


Para além da parelha que encabeça todas as pesquisas de intenção de voto, integram o indigesto cardápio os arrozes de festa Ciro Gomes (que caminha para a quarta derrota) e José Maria Eymael (que comemorará seu sexto fiasco). Apesar da oratória invejável, o cearense de Pindamonhangaba é visto como mero satélite do PT, e quem escuta seu jingle de campanha tem a impressão de que ele é candidato à prefeitura de Itapipoca. 

 

Entre os itens mais vomitativos (mas menos que o ex-presidente ex-presidiário e o lunático que prometeu acabar com a reeleição e jamais desceu do palanque) destaca-se o maquiavélico Luciano Bivar, mentor intelectual da “descandidatura” de Sergio Moro. André Janones e Felipe D’Ávila são ilustres desconhecidos, e de Vera Lucia, Leonardo Péricles, Pablo Marçal e Sofia Manzano, a maioria de nós mal ouviu falar. O folclórico Cabo Daciolo ameaçou repetir o fiasco de 2018, mas resolveu apoiar Ciro Gomes e voltou para o alto de sua montanha encantada. Glória a Deus! 


As pré-candidaturas de Alessandro Vieira e Rodrigo Pacheco não passaram de balões de ensaio. João Doria era uma iguaria que não faríamos mal em experimentar, mas foi retirado do cardápio por não ornar com o paladar sofrível do eleitorado. Moro chegou a figurar como “prato do dia”, mas foi “desapoiado” pelo Podemos e traído pelo União Brasil. Já as idas e vindas de José Luiz Datena são folclóricas.


Em 2018, o apresentador chegou a se licenciar do Brasil Urgente e lançar-se pré-candidato ao Senado, mas desistiu. Em 2020, chegou a ser cotado para vice na chapa de Bruno Covas, mas desistiu. No ano passado, recém-filiado ao PSL, exsudou determinação: “Dessa vez é pra valer!” Semanas atrás, embora tivesse dito que só lhe interessa a Presidência, o monumento à incoerência — que declarou que não votou em ninguém depois de Lula, que não é responsável “por boa parte do Brasil que está aí”, e  “apoiei o Bolsonaro é o cacete” — anunciou que disputará o Senado. E com o apoio de Bolsonaro. No último sábado (4), no intervalo de duas horas, Datena anunciou sua desistência, voltou atrás e disse que desistiu de desistir. 

 

Ninguém merece um sujeito desses no Planalto — nem mesmo o sapientíssimo eleitorado tupiniquim. Por outro lado, considerando que por lá passaram Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro... Isso me lembra a anedota do pinguço que enchia a cara e ficava torrando a paciência do dono bar. Um belo dia, cansado de ouvir o manguaceiro pedir “a saideira”, o portuga lhe serviu um cálice de urina. O pinguço bebeu, mas nem assim foi embora. “Mais alguma coisa?”, rosnou o botequineiro. E o bêbado respondeu: “Já que você me serviu um copo de mijo, que tal um sanduíche de merda para acompanhar?” 

 

Torçamos pela senadora Simone Tebet. Talvez ela não seja a candidata de nossos sonhos, mas é tudo que nos resta. O sal de frutas, a gente vê depois.

 

Triste Brasil.