sexta-feira, 8 de julho de 2022

A PEC KAMIKAZE

 

PEC Kamikaze é um apelido enganoso, porque o bolsonarismo, com a cumplicidade de todos os senadores, exceto José Serra, imolou o Brasil, e não a si próprio. Melhor seria chamá-la de PEC do Desespero, como fez o editorial do Estadão, segundo o qual "a PEC 1/2022 é uma violência contra as regras do jogo eleitoral".

 

"É incompreensível que senadores não alinhados ao bolsonarismo tenham aprovado a criação de um estado de emergência para burlar a legislação fiscal e eleitoral", diz o editorial. "Para piorar, os parlamentares autorizaram essa aberração jurídica motivados por uma mentira: ao contrário do que o governo diz, a proposta, destinada na prática a comprar votos para a reeleição do presidente, cria benefícios sociais para profissionais de classe média, e não para a população carente e desempregada. O foco da PEC 1/2022, apelidada corretamente de ‘PEC do Desespero’, tem pouco a ver com os pobres. Ela cria auxílios, por exemplo, para caminhoneiros e taxistas – que, por mais que estejam sofrendo as consequências da crise social e econômica, não fazem parte da população necessitada no Brasil (…). Tal aberração, vergonhosamente apoiada pela oposição, não merece nenhuma condescendência."


 

 

 


Mas a catástrofe não acaba aí. Suas altezas do Senado concluíram que a instalação de outra CPI, agora, seria inconveniente porque atrapalharia o projeto de reeleição do presidente. Os senadores encontraram a coerência no absurdo. Por que prejudicariam o presidente depois de rasgar a legislação eleitoral e fiscal, depois de aviltar a Constituição para autorizar Bolsonaro a distribuir mais de R$ 40 bilhões a eleitores pobres na boca da urna? Que diabo, a incongruência tem limites!

 

O provável recurso da oposição ao STF para forçar os partidos a indicarem seus representantes na CPI é inconveniente para o governo porque tumultua a campanha à reeleição, sonegando ao Planalto aquela quase unanimidade que se formou no Senado na semana passada. Uma comunhão que levou até os senadores petistas a aprovarem a PEC da reeleição, que promoveu o suicídio coletivo das leis para que Bolsonaro sobreviva na corrida presidencial.

 

Thomas Traumann, em artigo para O Globo, apresenta-se como “jornalista e consultor”. Um oxímoro perfeito, aponta Diogo Mainardi, considerando que uma coisa exclui a outra. A nota biográfica só omite que o articulista foi ministro da propaganda de Dilma, a inesquecível. Segundo o artigo, Bolsonaro, com seu estelionato eleitoral, deve conseguir encabrestar uns votos, mas que sua campanha “corre contra o tempo”, porque “a principal experiência de colocar dinheiro direto no bolso dos eleitores mostra que isso não implica um movimento rápido”. 

 

O jornalista e consultor entende do assunto, claro, pois acompanhou de perto o estelionato eleitoral petista.


ATUALIZAÇÃOArthur Lira adiou para terça que vem a votação na Câmara. Ele avaliou que a presença de apenas 427 dos 513 deputados colocava em risco a aprovação da matéria, que exige 308 votos favoráveis. A oposição agradece.