domingo, 24 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (QUARTA PARTE)

 

Apadrinhado pelo general Golbery do Couto e Silva, Lula teria tomado "aulas de sindicalismo" na Jonhs Hopkins University. Quem esposa essa tese afirma que a ideia do "Bruxo" era fazer com que o pelego parecesse de esquerda e servisse ao sistema dominante, e que a função precípua do PT — que teria sido fundado por inspiração do próprio Golbery — fosse impedir a vitória de Leonel Brizola, o único líder reconhecido pelo regime militar como oposição. 


Não há provas disso, mas sabe-se que Lula foi ao Japão em 1975, a convite da Toyota, e que voltou às pressas quando soube que o irmão Frei Chico — esse, sim, comunista de quatro costados — estava preso na sede do Doi-Codi (mesmo local em que o jornalista Vladimir Herzog foi torturado e "suicidado"). Mas isso é outra conversa

 

Lula ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje quando ainda era metalúrgico, mas foi somente em 1982, quando disputou (e perdeu) o governo de São Paulo, que ele o incorporou oficialmente ao nome  até então, "Luiz Inácio" era um ilustre desconhecido. 


Por falar em apelidos, Brizola, que chamava o petista de "cachaceiro", disse em 1989 que "a política é a arte de engolir sapos", daí o apodo "sapo barbudo". Em 2002, quando Lula disputou a Presidência pela quarta vez (e finalmente se elegeu), surgiu o "Lulinha paz e amor". Em 2006, durante sua campanha pela reeleição, a adversária Heloísa Helena se referiu a ele como "sua majestade barbuda". 


Nas planilhas de propina da Odebrecht, o molusco figurava como "amigo" e "Brahma". Nos bastidores do poder, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine". Em março de 2016, após ter ser conduzido coercitivamente à PF para depor, o capiroto esbravejou: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve”


Nenhuma cognominação supera aquela que o próprio Lula se concedeu em janeiro de 2016, quando disse não existir no Brasil uma viva alma mais honesta que ele. Pausa para as gargalhadas.

 

Influenciado ou não pelo "Bruxo", Lula fundou em 1980 o partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não raciocinam. O partido que não apoiou Tancredo Neves na eleição indireta de 1985 (e ainda expulsou três deputados que votaram na raposa mineira) também se posicionou contra a Constituição de 1988, o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal


Observação: Fato é que Brizola não conseguiu se eleger Presidente, e que esse fragmento de nossa história foi contado pelo próprio Golbery e por importantes personalidades políticas da época. Segundo Emílio Odebrecht, o artífice do golpe teria dito que Lula não tinha nada de comunista, que não passava de um bon vivant. 

 

Como dito, Lula deixou de ser operário em 1980, mas já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Mais da metade de seus "gloriosos dias" foi dedicada à "arte da política", não ao batente diário. É certo que ele teve uma infância difícil e começou a trabalhar aos 7 anos, mas também é certo que se tronou avesso ao batente, preferindo viver de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e desfrutar do poder de maneira indecorosa — mas sem jamais deixar de cultuar a imagem de político habilidoso, honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país.


Observação: É preciso reconhecer o extraordinário carisma de Lula (daí a alcunha "encantador de burros"). O cara veio da merda, mal se alfabetizou, comeu o pão que seu compadre amaçou e se tornou o maior líder sindical do país. Que diferença faz se manipulava os "cumpanhêros" em benefício próprio, se insuflava greves que encarrava logo em seguida, após negociar a portas fechadas com "os patrões"? A "metamorfose ambulante" sempre foi um animal político. Quando encontrou quem pagasse a conta, trocou o pão de forma de cada dia por filé; os cigarros baratos por charutos cubanos; a cachaça vagabunda por scotch 12 anos... Não é isso que fazem nossos ímprobos políticos, que se elegem para roubar e roubam para se reeleger? Lula e o PT desempenharam um papel relevante na luta pelas Diretas... Infelizmente, bastou ascenderem ao poder para... enfim, acho que deu para entender.


Dois anos depois de fundar o PTLula concorreu ao governo de São Paulo, mas terminou em quarto lugar. Em agosto de 1983, participou da fundação da CUT. Em 1986, foi o deputado federal mais votado do país. Na sequência, disputou a Presidência quatro vezes. Em 1989, foi derrotado no segundo turno por Fernando Collor Mello. Em 1992, perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, que tornou a derrotá-lo em 1998, também no primeiro turno. Em 2002, venceu o tucano José Serra, dando início à era lulopetista, que só foi interrompida 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento de Dilma. 

 

No primeiro ano do governo Lula, a petralhada pôs em movimento um esquema de compra de apoio parlamentar, que ficou conhecido como Mensalão quando veio a público, em 2005, depois que Maurício Marinho foi filmado recebendo propina nos Correios e o então deputado petebista mensaleiro Roberto Jefferson — que hoje é bolsonarista desde criancinha — revelou os detalhes sórdidos da maracutaia


Petistas de alto coturno — como Dirceu, Genoíno, Vaccari, Delúbio et caterva — foram condenados na célebre ação penal 470, mas Lula, que foi o maior beneficiário do esquema, disse que "nunca soube de nada" e, pasmem!, não só escapou ileso como foi reeleito em 2006 e empalou o país com sua vomitativa sucessora (sobre a qual falaremos mais adiante). 

 

O Brasil chocou o "ovo da serpente" (ou da jararaca) durante décadas, e o filhote, que nasceu forte e esfomeado, devorou a economia popular. Os brasileiros demoraram a admitir o estrago que seu monstrinho de estimação estava causando. Quando essa percepção finalmente se tornou inevitável, o país encarou o ofídio peçonhento e o colocou de castigo, acreditando que assim ele passaria a se comportar direitinho. Mas a bibliografia antiofídica da Lava-Jato indica que, em 2005, quando o petralha pedia perdão aos brasileiros pelo Mensalão, o PT tratava da compra escandalosa da refinaria de Pasadena


É compreensível. Gente boa só consegue se arrepender de um roubo de cada vez. Perdoar a quadrilha é uma ótima forma de continuar chocando o ovos de serpentes simpáticas e revolucionárias. Triste Brasil.


Continua...