quinta-feira, 18 de agosto de 2022

LULA ESTÁ ELEITO?

 

Devemos ao Criador a súcia de apedeutas fanáticos que nos obriga escolher — mais uma vez — entre um criminoso que quer voltar à cena do crime e outro que se recusa a deixá-la, e ao advogado e procurador federal Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves o belíssimo samba-enredo O Amanhã, composto em 1978 e imortalizado na voz de Simone

Lembrei-me dessa música porque os poderes preditivos que seu compositor atribuiu a ciganas, cartomantes e seus apetrechos esotéricos são conferidos atualmente às famigeradas pesquisas de intenção de voto, que dão como certa a vitória do ex-presidiário — algumas, inclusive, apontam que essa agonia pode se encerra no dia 2 de outubro.  
 
A pré-campanha deste ano vem sendo marcada por uma escalada de violência, sendo o assassinato de Marcelo Arruda o episódio mais drástico. Segundo o Datafolha, metade do eleitorado brasileiro diz ter deixado de conversar sobre política com amigos e familiares nos últimos meses. O índice é maior entre os eleitores de Lula do que entre os apoiadores de Bolsonaro

Comportamento semelhante é percebido nas redes sociais: 53% dos eleitores mudaram a postura para evitar atritos com amigos e familiares. No WhatsApp, 43% pararam de falar sobre política e 19% saíram de algum grupo. Considerando outras redes sociais, 41% das pessoas deixaram de comentar e publicar conteúdo eleitoral.
 
Bolsonaro deveria ter sido defenestrado há muito tempo e Lula, há muito mais tempo. Isso teria evitado que o candidato que elegemos em 2018 para impedir a volta do lulopetismo se perpetuasse como uma emenda que ficou pior do que o soneto, levando "forças misteriosas" a converter o ex-presidiário em ex-corrupto e o recolocar no tabuleiro da sucessão presidencial. 
 
Dizem que a esperança é a última que morre, mas furar essa polarização é uma missão dificílima para Ciro Gomes e quase impossível para Simone Tebet. A alternativa, segundo São Diogo Mainardi, é pular do campanário de São Marcos, mas isso é fácil para ele, que mora em Veneza. Assim, caminhamos em direção à eleição mais tensa da nossa história republicana sem ter sequer um gato que faça as vezes do cachorro de que não dispomos.
 
A certeza de que Lula vai vencer — e vai vencer com folga — vem promovendo alterações significativas no tabuleiro da política. Partidos que até recentemente se dividiam entre bolsonaristas e lulistas agora se dividem apenas sobre qual é o melhor momento para aderir à candidatura do PT. O MDB de Simone Tebet, por exemplo, pretendia barganhar seu apoio no segundo turno, mas corre o risco de ser atropelado por um triunfo imediato do petralha. O PSDB, farejando o perigo, resolveu dar uma rasteira em Simone, sob o pretexto de que é preciso impedir a quartelada bolsonarista.
 
Em entrevista ao Valor, Ciro afirmou que "Lula não tem escrúpulo de nenhuma natureza." Disse ainda que um eventual terceiro mandato do petista será uma grande tragédia. "O cenário atual é totalmente diferente de 2003. O povão quer cerveja e picanha, mas Lula terá uma conta impagável com Renan Calheiros, Eunício Oliveira, MDB, Guilherme Boulos. Depois de nomear um banqueiro para a Economia, entregar as políticas de papo-furado (mulher, índio e negro) para o PT se divertir e dar o Orçamento para o Centrão se locupletar, Lula vai passear no estrangeiro.
 
Observação: As medidas eleitoreiras adotadas por Bolsonaro e pelo Congresso neste ano vão tirar R$ 178,2 bilhões do caixa do Planalto em 2023, informa o Estadão. O valor sobe para R$ 281,4 bilhões com a redução do caixa dos governadores e dos prefeitos. A lista inclui um custo adicional de pelo menos R$ 60 bilhões para financiar o Auxílio Brasil — medida que já foi antecipada por Lula e Bolsonaro — e um gasto de R$ 25 bilhões para custar o reajuste salarial de 10% aos servidores públicos (que não repõe nem metade da inflação acumulada de 25% prevista para o período de 2020 a 2022).
 
Ao ser perguntado pelo Valor se não poderia ter ajudado Fernando Haddad a conquistar mais votos em 2018, o candidato do PDT respondeu: Em nome de quê? Lula mentiu para o povo. Dizendo, de dentro da cadeia, que era candidato sabendo que não poderia. Ele me convidou para fazer essa farsa junto com ele. Na época, mandei um palavrão de volta. E aí ele lança quem? Alguém cujo histórico era perder a eleição para nulo e branco um ano antes.
 
O manifesto em defesa da democracia reflete esse novo clima. Depois do fiasco da Terceira Via, alguns dos maiores empresários do Brasil resolveram apoiar Lula — um dos promotores do manifesto, Josué Gomes, é cotado até para ministro da Fazenda. Os militares também entenderam que a disputa está decidida e passaram a cochichar para a imprensa que o resultado das urnas será respeitado, ao passo que os donos do Centrão já negociam com os petistas um salvo-conduto para tirá-los da cadeia.
 
Se a campanha eleitoral acabou antes mesmo de começar oficialmente, é preciso que a oposição comece a se organizar. A unanimidade lulista é fruto exclusivo da calamidade bolsonarista. Assim que chutarem o sociopata do Palácio do Planalto e o prenderem na Papuda, os brasileiros devem voltar a espernear livremente, como tem de ser.

Com Diogo Mainardi