Pelo que foi exposto até aqui, percebe-se que conferir a Lula um terceiro mandato é tão perigoso para nossa frágil democracia quanto reeleger Bolsonaro. Senão vejamos.
Como vimos no capítulo anterior, a "inocência" do ex-presidiário é uma falácia que busca atribuir a um político corrupto a aura de "preso político". No processo do tríplex, a despeito dos mais de 400 recursos apresentados pela defesa, o petista foi condenado por mais de 10 magistrados em três instâncias do Judiciário.
Lula teve a pena aumentada pelo TRF-4 porque se valeu do cargo para permitir a nomeação de diretores na Petrobras que dividiam propina com dirigentes partidários em troca de apoio ao governo. Segundo os desembargadores, o esquema de corrupção petista fragilizou não só a Petrobras, mas também "todo o processo político brasileiro", uma vez que parte do dinheiro bancou campanhas milionárias via caixa 2 eleitoral.
A culpabilidade do petralha foi reconhecida também pelo STJ, onde a condenação transitou em julgado, e nada disso foi revisto pelo STF, onde os processos foram anulados porque o ministro Fachin entendeu (com quase seis anos de atraso) que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para julgar Lula et caterva. Não obstante, o "ex-corrupto" posa de "salvador da democracia", como se o Mensalão não tivesse sido criado para comprar apoio parlamentar e o Petrolão não tivesse sido sua expansão para além do Congresso — com efeitos devastadores para a democracia no Brasil e em alguns países vizinhos.
Lula apoiou regimes autoritários em Cuba e na Venezuela. Teceu rasgados elogios ao comunismo na China e na Coreia do Norte. Lamentou a morte de Fidel como "a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei". Disse (em entrevista à agência oficial de notícias Xinhua) que o governo de Xi Jinping era um "exemplo de que é possível cuidar da população por meio de um governo sério e com responsabilidade para com seu povo", e que vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela "ocorreu em total respeito às regras democráticas" e que a reeleição de Ortega na Nicarágua foi "uma grande manifestação popular e democrática" (a despeito de todos os adversários do tiranete estarem presos ou exilados).
Lula já disse publicamente que um de seus maiores arrependimentos (noves fora a criação de Dilma, que ele só reconhece em off) foi não ter "democratizado os meios de comunicação", e vem ameaçando regulamentar tanto a imprensa formal quanto as mídias sociais: "Eu vi como a imprensa destruía o Chávez. Aqui eu vi o que foi feito comigo. Nós vamos ter um compromisso público de que vamos fazer um novo marco regulatório dos meios de comunicação". Em 2004, ele enviou ao Congresso projeto de lei para criar um Conselho Federal de Jornalismo para "orientar, disciplinar e fiscalizar" o exercício da profissão.
Salta aos olhos que, quando fala em "salvar a democracia", Lula visa aos interesses dos petistas e de partidos aliados, todos seguidores incondicionais do "grande líder". Que o PT e seu discurso "democrático, inclusivo e pregador da diversidade" toleram tudo, menos a opinião que diverge da deles. Assim, reconduzir políticos dessa catadura ao poder é permitir a volta do criminoso à cena do crime, como disse Geraldo Alckmin — antes de se tornar o mais novo amigo de infância de Lula — e Bolsonaro parafraseou seis meses atrás.
Voltando a Dilma, a inolvidável, consta que essa senhora ingressou na resistência em 1967, quando era noiva de Cláudio Galeno, seu primeiro marido e um dos líderes da Polop na capital mineira. Que se uniu ao Colina no fim de 1968 e se mudou para São Paulo, onde participou das tratativas para fundir o Colina e a VPR (de Carlos Lamarca) na VAR-Palmares (depois de se casar com o gaúcho Carlos Araújo, que seria corresponsável pelo fiasco das lojinhas Pão & Circo em meados dos anos 1990, como foi detalhado no capítulo 7).
O grupo de Lamarca achava o Colina muito estudantil, e a turma de Dilma temia que o movimento se militarizasse. Para a polícia, a guerrilheira "chefiou greves e assessorou assaltos a bancos", mas ela nega, e não há acusação dos militares sobre ações armadas. Ao final de seu depoimento no Dops — que tem 19 páginas —, Dilma deixa claro que não se arrepende de nada.
Observação: Dilma foi presa em São Paulo em 1970, portando documentos falsos. Numa das raras vezes que falou sobre tortura, disse que foi submetida à "cadeira do dragão" — onde o preso era amarrado para receber choques elétricos nas orelhas, na língua e nos órgãos genitais. Acabou condenada em dois processos pelo mesmo crime, mas seus advogados conseguiram manter apenas a pena menor (13 meses). Segundo o SNI, a VAR-Palmares tinha planos para tirá-la da cadeia — consta que uma autoridade seria sequestrada e trocada por presos políticos, entre os quais a "gênia" que Lula transformaria, décadas depois, em presidanta desta republiqueta de bananas.
Depois de deixar a prisão, Dilma fixou residência Porto Alegre. Daqueles que conviveram com ela, somente o então diretor do Presídio Central acreditou que a mulher do trabalhista Carlos Araújo — esse, sim, um ícone do PDT gaúcho — pudesse alçar voos mais altos. Consultado na época se autorizava uma série de projetos elaborados pelos presos políticos para a cadeia da capital, incluindo as aulas para presidiários comuns ministradas por Dilma, o clarividente profetizou: "Claro, os presos políticos de hoje podem ser os dirigentes do país amanhã."
Depois que o marido foi solto, Dilma manteve as aulas particulares, mas apenas para um pequeno núcleo que pretendia reerguer o PTB no Rio Grande do Sul. Também trabalhou pela fundação do PDT sob a batuta de Leonel Brizola. Foi nessa época que a outrora Wanda, Janete, Luísa, Stela, Marina e Maria Lúcia — que os militares chamavam de Joana D'Arc e Papisa da Subversão — desenvolveu o estilo professoral que nunca mais a abandonaria.
Dilma foi secretária municipal de Finanças no governo do gaúcho Alceu Collares e duas vezes secretária estadual de Energia e Comunicação. Fez grandes amigos e aliados fiéis, mas também deixou um saldo de brigas e inimizades — graças a seu estilo arrogante e a notória incapacidade de contornar crises ou acalmar correligionários. Em 2000, quando Brizola deixou de apoiar o governo do petista Olívio Dutra, ela rompeu com o PDT e se filiou ao PT.
Atribui-se a Carlos Lacerda a máxima segundo a qual "quem nunca foi comunista aos 18 anos não teve juventude, e quem continua comunista depois dos 30 não tem juízo" Numa situação ditatorial, uma postura combativa se justifica, mas eleger presidente da República alguém com uma vida pregressa como a de Dilma (ou de Collor, de Lula e de Bolsonaro) não tem cabimento. Triste Brasil.
Em tempo: Muita gente tem saudades de ouvir a presidanta perorando, especialmente de improviso. De fato, não havia programa humorístico melhor. Há até quem sofre de crise de abstinência e fica no YouTube babando, com as mãos trêmulas, buscando antigos pronunciamentos. Para esses saudosistas (ou seriam masoquistas?), relembro um discurso que madame fez em portunhol. Além da versão castelhana do "dilmês" ser tosco, o conteúdo também deixou a desejar. Segundo a "gênia", o "neoliberalismo" é o grande culpado por todos os males do mundo! Vale a pena assistir, até porque agora se pode rir sem ter de chorar depois (como acontecia quando ela ainda posava de presidente desta banânia).
Continua...