terça-feira, 25 de outubro de 2022

A POUCOS DIAS DO SEGUNGO TURNO...



Roberto Jefferson quase implodiu o governo do PT em 2005, ao delatar o esquema de compra de votos que ficaria conhecido por Mensalão. No último domingo, o deputado abriu fogo contra policiais federais que tentavam cumprir mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, e acabou detido em flagrante por tentativa de homicídio.


Jefferson se entregou à polícia no início da noite de domingo (23), após horas de negociação eivada de erros policiais — pessoas estranhas entrando na casa e alterando o cenário, além de uma demora anormal (lembrando não é possível entrar na casa à noite). Diante do estado de flagrância pelos cerca de 50 tiros desferidos contra viatura dos agentes, o ministro determinou o cumprimento a qualquer hora e advertiu que eventual demora poderia caracterizar crime de prevaricação. Ao final, surgiu um vídeo gravíssimo, de um policial federal confraternizando com o preso e criticando colegas de corporação ("são da inteligência, não sabem nem o que é isso, são burocráticos"). 

Ciente da repercussão negativa, Bolsonaro procurou se distanciar do ex-aliado, chegando mesmo a dizer que jamais tirou uma foto com ele. Depois de ser desmentido pelo Google, gravou um vídeo chamando Jefferson de "bandido" e, mais adiante, desmentiu qualquer participação dele em sua campanha. Os efeitos de mais esse lamentável episódio serão conhecidos no próximo domingo, após o fechamento das urnas. 

Bob Jeff sempre alimentou a tropa bolsonarista, seja com apoio parlamentar, seja com discursos contra-sistema. Ele jamais teve espaço no governo, mas foi acolhido com entusiasmo pela ala ideológica do bolsonarismo boçal, e nunca foi censurado pelo presidente da República. No domingo, os apoiadores do presidente usaram a aparente loucura do petebista para engajar a militância contra o TSE, disseminando vídeo de última sexta-feira, no qual o ex-deputado chamou Cármen Lúcia de ‘prostituta’ por ela ter votado a favor da censura de canais que defendem a reeleição de Bolsonaro.

Ao comentar o episódio nas redes sociais, o senador eleito Sergio Moro (e mais novo amigo de infância do sultão do bananistão) escreveu: "Coisa mais sem noção esse ataque aos agentes da PF. Espero que estejam bem. Minha solidariedade. Estou fora do Brasil e recebendo as informações. O crime cometido contra as forças de segurança foi gravíssimo e injustificável. Reitero minha solidariedade aos policiais federais. Que prevaleça a lei em sua forma mais dura contra o criminoso!"

 

Jefferson deve ao bolsonarismo sua reabilitação política após o ostracismo dos tempos de cadeia pelos crimes do mensalão e da depressão que vivencio por conta do longo tratamento contra o câncer. Há dois anos, em entrevista ao programa Gabinete de Crise, o ex-deputado disse compartilhar das mesmas "convicções cristãs e democráticas de Bolsonaro" e que seu sonho era filiá-lo ao PTB. Num vídeo gravado lançado granadas e disparado contra a PF, ele convocou apoiadores do presidente a pegarem em armas para lutar contra a "opressão do STF" e "colocar de pé novamente a cruz de Cristo". 

 

Misturar política e religião nunca deu certo. Emprestar apoio a quem tem um parafuso a menos também não. Para evitar novos episódios de violência, é preciso acabar com a idolatria. Como escreveu Luiz Felipe Pondé, "pessoas que se julgam salvadoras do mundo são basicamente de dois tipos: autoritárias ou infantis". Evite armá-las ou elegê-las.

 

Com Claudio Dantas