Quando celebrizou frase "there are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy", Shakespeare não se referia a OVNIs. Mas poderia, pois o fenômeno não só transcende a "vã filosofia" de Horácio como desafia a ciência contemporânea.
Nos últimos 17 anos, dos 144 avistamentos de OVNIs registrados pelo Pentágono, 143 não têm explicação (o único episódio esclarecido envolvia um balão). Em mais de metade dos casos, os objetos foram captados por múltiplos sensores — radares, câmeras infravermelhas de aviões, miras de armas e a olho nu. Muitos foram vistos parados em correntes de vento, manobrando abruptamente e acelerando rapidamente, sempre sem deixar rastros de calor. Alguns foram vistos girando em torno do próprio eixo enquanto se movimentam em alta velocidade — coisa que nenhum avião, helicóptero, drone ou míssil é capaz de fazer.
Em recente entrevista ao The Late Show, o ex-presidente Barak Obama afirmou que os UFOs (sigla para unidentified flying objects, em inglês) não apresentam um padrão de voo facilmente explicável e, portanto, podem não ser coisa deste mundo. Os militares dizem algo ainda mais intrigante: O UAPTF (órgão criado pela Marinha dos EUA em 2020 para estudar esses fenômenos) possui uma pequena quantidade de dados que sugerem algum grau de gerenciamento de assinatura (termo usado na aviação militar para o conjunto de medidas empregadas para esconder uma aeronave, como dissipar o calor emitido pelo motor de um caça para impedir que ele seja “enxergado” e perseguido por mísseis inimigos).
Em outras palavras, os objetos não identificados tomam medidas para evitar que sejam detectados. Quais medidas, porém, os militares não dizem — essa informação, bem como as descrições detalhadas dos 144 avistamentos, está no Apêndice B do relatório, que é confidencial, e só foi apresentado ao Comitê Permanente de Inteligência do Congresso americano, formado por 22 parlamentares com acesso às informações mais sensíveis do Pentágono e das agências de inteligência dos EUA.
Um relatório confidencial produzido pela CIA sobre avistamentos reportados entre 1954 e 1974 (que só foi divulgado em 2013) concluiu que metade dos relatos tinham a ver com voos de aviões secretos e experimentais — como o U-2 e o SR-71 Blackbird, até hoje o mais veloz já construído (atingia 3,5x a velocidade do som). Esse raciocínio embasa teorias conspiratórias segundo as quais o governo americano quer desviar a atenção de tecnologias secretas que estariam sendo desenvolvidas pelos próprios americanos ou por outros países, que estariam invadindo o espaço aéreo americano.
A agência governamental que controla a aviação nos EUA registrou 23 avistamentos inexplicados entre 2016 e 2020, a maioria no litoral, e outros dez perto de usinas nucleares nos últimos cinco anos. Em nenhum desses episódios os objetos voadores demonstram as habilidades mirabolantes citadas parágrafos acima. Alguns até tinham características incomuns, como luzes coloridas piscando, formato cilíndrico e capacidade de voar a até 8 mil metros — muito além dos 500 metros alcançados por um drone comum —, mas não houve manobras fora do normal.
Repórteres do site The Drive tiveram acesso a 8 relatórios confidenciais produzidos pela marinha americana em 2013, 2014 e 2019. Há informações detalhadas sobre drones de diferentes formatos e balões de reconhecimento — a maior parte voando bem alto, e nem todos de origem americana. Mas isso não anula os inúmeros casos inexplicáveis, como os 11 avistamentos descritos em 1978 por um grupo de estudos de fenômenos espaciais não identificados criado pelo governo francês. A NSA americana teve acesso a esse relatório e o classificou como de "alta credibilidade e alta estranheza". O grupo francês existe até hoje e continua investigando relatos do tipo — já são mais de 2.900 casos, dos quais apenas 23% foram satisfatoriamente esclarecidos.
Os soviéticos também registraram casos intrigantes. Em setembro de 1977, na cidade de Petrozavodsk, dezenas de objetos brilhantes foram avistados, sempre de madrugada e voando baixo. Na mesma época, ocorreram episódios similares de Copenhague, na Dinamarca, até o extremo leste do território soviético, a 11 mil quilômetros dali. A Academia de Ciências Soviética não conseguiu explicar o fenômeno, que foi observado em 85 cidades num período de poucos dias.
Quase uma década depois, moradores do vilarejo de Dalnegorsk, próximo do Mar do Japão, avistaram uma bola vermelha voando paralela ao chão, a aproximadamente 54 km/h e 800 metros de atura, sem emitir nenhum som. Na colina contra a qual ela se chocou, pesquisadores encontraram pedaços de vidro e fragmentos compostos por uma mistura de materiais, incluindo ouro, prata e níquel. Em 1989, incidentes semelhantes foram novamente registrados naquele vilarejo.
A confirmação de vida alienígena seria a maior descoberta já feita pela humanidade. Talvez ela aconteça um dia. Ou não. Talvez o Universo seja grande demais para que outra civilização, caso exista, consiga nos ver e chegar até nós. Talvez ela até faça isso, mas nunca deixe rastros suficientes para que consigamos flagrá-la. Ou, talvez, os avistamentos sejam de outra natureza — e habitem algum ponto entre os segredos da geopolítica e a imaginação humana. A verdade pode estar lá fora. Ou aqui dentro.
Com Superinteressante