segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A VERDADE ESTÁ LÁ FORA (OITAVA PARTE)

O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER ENXERGAR.

A imbecilidade do ser humano não tem limite. Em pleno século XXI, muita gente continua a acreditar que a Terra é plana, que Lula é inocente, que Bolsonaro é um "mito", e por aí segue a procissão de afronésias.

Outro bom exemplo é narrativa de que a alunissagem da Apolo 11 foi encenada, que os seis desembarques tripulados — realizados entre 1969 e 1972 — foram falsificados e que os doze astronautas jamais pisaram na Lua. Isso a despeito de evidências independentes das missões lunares refutarem as alegações de fraude e de cinco das seis bandeiras americanas espetadas na Lua continuarem em pé (ironicamente, a que foi deixada pela Apollo 11 foi "soprada" pelo escapamento do foguete de decolagem e caiu). 

Tentar fazer ver a esses luminares que a comunidade científica respalda a veracidade das alunissagens e que a NASA não simulou os desembarques para mudar o foco da população americana da Guerra do Vietnã é o mesmo que malhar em ferro frio. São inúmeras as teorias conspiratórias envolvendo ações para perpetuar informações falsas sobre pousos que nunca teriam acontecido e para ocultar informações corretas sobre pousos que aconteceram. 

Em vez de propor uma narrativa completa de como a fraude foi perpetrada, os negacionistas se prendem a supostas falhas ou inconsistências no registro histórico das missões. Alguns argumentam inclusive que a tecnologia para enviar missões tripuladas à Lua era insuficiente, que o Cinturão de Van Allen, as erupções solares, o vento solar, as ejeções de massa coronal e os raios cósmicos tornariam essas viagens impossíveis, e por aí segue a procissão. 

O questionamento sobre a ondulação da bandeira americana é arroz de festa nas alegações de fraude. De fato, a bandeira pareça tremular quando o mastro é espetado na superfície lunar na Lua e quando o astronauta a arruma. Mas imagens posteriores mostram-na paradinha, como deve ser em um ambiente de vácuo. Quem assiste ao vídeo com atenção repara que a flâmula só se mexe quando é tocada, o que acontece justamente por ela não estar sujeita à resistência do ar. Vale lembrar que o mastro é de alumínio flexível, daí o movimento continuar depois que o astronauta tira a mão. "A inércia faz com que ela continue a se mover", esclarece o especialista Roger Launius, em reportagem da National Geographic sobre o tema.

O astrônomo Phil Plait, autor do premiado blog "Bad Astronomy", tem um post específico para explicar não só a história da bandeira, mas uma porção de outras teses falaciosas defendidas pelos conspiracionistas. Sobre não haver estrelas nas fotos tiradas pelas câmeras embutidas nos trajes dos astronautas da Apollo 11, por exemplo, ele explica que o tempo de exposição estava configurado para ser curto  já que o pouso ocorreu de manhã, com o Sol brilhando intensamente —, daí a luz das estrelas que estão ao fundo não aparecer. 

Para além das centenas de amostras de rochas lunares trazidas pelos astronautas, inúmeras fotos tiradas por satélites mostram objetos deixados na Lua. Mesmo assim, os teóricos da conspiração alegam que tudo foi simulado, inclusive com a participação do cineasta Stanley KubrickA maioria dessas falácias foi desconstruída pelos apresentadores do programa "MythBusters", que até usaram uma câmara de vácuo para desbancar as teorias. Mas o povo do contra não se convence: de acordo com eles, o programa é patrocinado pela Nasa.

Mais de 400.000 pessoas trabalharam no projeto Apollo por aproximadamente dez anos, e uma dúzia de homens que caminharam na superfície da Lua sobreviveram para contar a história. Centenas de milhares de pessoas, entre astronautas, cientistas, engenheiros, técnicos e trabalhadores especializados, teriam que guardar o segredo, e "segredo entre três, só matando dois".

Outra questão folclórica é a das pegadas, que, segundo os críticos, teriam sido feitas em areia molhada para ficar tão nítidas. Plait lembra que o solo lunar é coberto por uma areia finíssima, que se comprime facilmente, formando o desenho detalhado da bota, e que as marcas ficaram intactas por todo esse tempo por causa do vácuo.
 
Continua...