quarta-feira, 12 de outubro de 2022

ÀS VEZES É PRECISO MUDAR PARA FICAR TUDO IGUAL


Em outubro de 2018, dias antes da vitória de Bolsonaro, eu escrevi o seguinte: "Nunca antes na história deste país se viu uma disputa presidencial tão pródiga em desinformação quanto a que ora chega ao fim, marcada como a mais atípica desde a redemocratização. Ao longo das sete semanas e meia de campanha houve uma sucessão de episódios surpreendentes, como a tentativa de assassinato do líder das pesquisas e a insistência do PT em viabilizar a candidatura de um criminoso condenado e preso." 

Adubado pelo mensalão e regado pelo petrolão, o projeto de poder do PT acabou sobrestado com o impeachment de Dilma e repudiado nas eleições de 2016. Em 2018, as pesquisas apontavam que o desejo de mudança e o antipetismo definiriam — como de fato definiram — aquela eleição. Mas não há nada como o tempo para passar. 
 
Bolsonaro conseguiu ser o pior presidente desde a redemocratização (eu achava que Dilma era insuperável, mas estava enganado). Em parte por isso, uma série de artifícios legais (nem tão legais assim, mas isso é outra conversa) foi  Lula foi tirado da cadeia, descondenado, reabilitado politicamente e recolocado no tabuleiro da sucessão presidencial. 

Em condições normais, ninguém acreditaria num partido que sempre agiu de forma antidemocrática e vocacionada ao crime. Mas o desgoverno do capitão fez com que os ventos mudassem. Tudo indicava que o lulopetismo desapareceria da política brasileira, mas quis sua excelência o eleitor repetir em 2022 o pleito plebiscitário de 2018, despachando para o segundo turno... enfim, vocês sabem quem. 
 
Em 2018, Carlos Augusto Montenegro, então presidente do Ibope (que ora atende por Ipec), disse que somente um “tsunami” poderia impedir que Bolsonaro fosse eleito presidente. Mas o cataclismo veio depois. Mesmo assim, o ex-presidiário ficou a dois pontos percentuais de ser eleito no primeiro turno. Mas sua vantagem em relação ao capetão foi de míseros 6% dos votos válidos. Só Deus e o Diabo sabem quem será eleito no próximo dia 30 e se tornará o próximo presidente desta banânia. 
 
Eu não arrisco um palpite, mas Dora Kramer — ex-colunista de Veja e atual comentarista de política da Band News FM — afirma que o petista terá de apresentar um programa de governo mais ao centro para vencer no segundo turno. Segundo ela, o PT não pode cair na facilidade de chamar os oponentes de “fascistas” e terá de fazer sinais de pacificação para conseguir um eleitor ainda “magoado” com o petismo. 
 
Dora diz ainda que debates entre os candidatos serão essenciais no segundo turno, e que Lula precisa apresentar propostas mais bem-acabadas para a economia — até agora, ele pouco se comprometeu com pautas econômicas e vem fazendo menção ao passado petista para pedir um voto de confiança do eleitorado.
 
Mesmo tendo sido um "despresidente", Bolsonaro tem chances de derrotar Lula — aliás, seu discurso pautado diretamente na “volta do ladrão” pegou na campanha. Para conquistar os votos que faltam, o petista terá que explicar como fará para evitar que o petrolão se repita, bem como apresentar o plano de governo que sua campanha escondeu até aqui. Ele já sinalizou que prefere não participar de eventos capitaneados por emissoras alinhadas ao adversário — como o da Jovem Pan, marcado para o próximo dia 20, e o da Record, para três dias depois. Já Bolsonaro avisou que irá a todos os debates.
 
A conferir.