terça-feira, 11 de outubro de 2022

NÃO SERÃO TEMPOS FÁCEIS

 

Confirmou-se no último dia 2 que Lula é maior que a esquerda e Bolsonaro, menor que a direita. Tanto nas eleições proporcionais quanto nas diretas o avanço de nomes ligados à “esquerda” foi menor do que o petista conseguiu para si mesmo. Da mesma maneira, o capitão ficou menor no primeiro turno do que a projeção alcançada pela “centro-direita”.
 
Claro que isso tem a ver diretamente com os dois personagens. P
ara uma expressiva camada do eleitorado, Lula continua sendo o “pai dos pobres” — algo só comparável ao que foi o getulismo, e igualmente irreversível como fenômeno de massas. Bolsonaro é considerado um “mito” graças a outro fenômeno também irreversível, o bolsonarismo. Ocorre que dentro da demanda geral do eleitorado, que é claramente de centro-direita, o presidente que busca a reeleição não é unanimidade, e angariou forte rejeição mesmo entre os que detestam o pajé do PT.
 
Caso se confirme seu favoritismo atual, Lula terá de lidar com dois amplos problemas políticos que, se não forem resolvidos, tornam o Brasil inviável. O primeiro é a herança da Lava-Jato. Ao contrário do que diz Lula, parcela significativa do eleitorado não acha que a operação anticorrupção foi um erro, e o enxerga apenas como um ladrão. 
 
O segundo é a amplitude eleitoral da demanda de “centro-direita”, que não pode ser igualada a “bolsonarismo” (entendido como adesão cega ao líder populista). Mas é o que fez a estratégia petista quando buscou o voto útil dizendo que ajuda o fascismo e a barbárie quem não vota no Lula. O Congresso eleito é um banho de realidade (e uma dura resposta) para a campanha petista.
 
É uma espécie de “Brasil profundo” que saiu rugindo das urnas, e que dificilmente se enquadra nas convenções da Ciência Política sobre o que seja direita ou esquerda. Talvez a antropologia cultural seja a melhor disciplina para se tentar entender. Há nessa ampla corrente traços de arraigada boçalidade política (incluindo todo tipo de preconceito), aversão às elites e à ciência, aos princípios democráticos e instituições em geral (Judiciário e imprensa, entre outros).
 
Mas também apego à liberdade do indivíduo, disposição de empreender, necessidade de segurança jurídica, simplificação de regras, solidariedade com os mais vulneráveis, valores religiosos e de família. E uma forte identificação com a difusa ideia (que a figura de Bolsonaro capturou lá atrás) de que os sistemas político, eleitoral e de governo atuam contra o Brasil “que trabalha e produz”.
 
Lula não indicou claramente como pretende superar o quadro acima caso volte ao Planalto. Bolsonaro, se reeleito, não poderá contar com o apelo que já representou. Não serão tempos fáceis.
 
Com William Waack