No último dia 2, o ministro Alexandre de Moraes conclamou os eleitores a votar, voltar para casa e aproveitar o domingo. A três domingos do segundo turno, Bolsonaro fez um chamamento a seu gado: "No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar. E mais do que isso. Vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado".
Foi como se, farejando a derrota, o capitão encomendasse aos bolsonaristas uma reedição tropicalizada da invasão do Capitólio (aquela que os trompistas promoveram em janeiro do ano passado).
"Peço humildemente que meus eleitores permaneçam nas seções eleitorais até a apuração final dos votos", declarou o presidente. E insinuou mais uma vez que só aceitará das urnas a própria vitória. "Tenho a certeza de que o resultado será aquele que todos nós esperamos. O outro lado não consegue reunir ninguém. Como pode aquele cara ter votos se o povo não está a seu lado?"
O objetivo do chamamento não parece ser outro que não provocar arruaças. Para comemorar uma (cada vez menos provável) vitória, haveria locais mais apropriados.
Até o primeiro turno, Bolsonaro alardeava que venceria com 60% dos votos. Ficou 5 pontos atrás do ex-presidiário. As últimas pesquisas indicam que a diferença pode dobrar no segundo turno — expectativa que eu não comemoro, pois detestaria ver o criminoso voltar à cena do crime, mas acho que o Brasil não merece mais quatro anos sob esse arremedo de tiranete (uma parcela substantiva do eleitorado merece coisa ainda pior, mas isso é outra conversa).
Bolsonaro voltou a lançar dúvidas sobre a confiabilidade do sistema eleitoral, a despeito de o teste de integridade das urnas ter demonstrado o contrário e os próprios militares concluíram, a partir da inspeção que fizeram numa amostra de 385 boletins de urna, que o resultado do sufrágio foi fidedigno. Vale destacar que esse sistema opera há 26 anos e já contabilizou vitórias de Fernando Henrique, Lula, Dilma, e do próprio Bolsonaro. Se nenhum deles foi um bom presidente, a culpa foi dos cascos canhestros da récua de muares travestidos de eleitor.
Em nenhuma eleição presidencial desde a redemocratização o candidato que ficou em segundo lugar no primeiro turno venceu o adversário no segundo, Até porque os eleitores tendem a repetir, no segundo escrutínio, a cagada que fizeram no primeiro. Supondo que todos que votaram em Lula e Bolsonaro no último dia 2 serão coerentes no erro, o "mito" precisaria amealhar 75% dos 8,4 milhões de votos obtidos por Simone e Ciro no primeiro turno.
Triste Brasil.