Depois de falar mal das urnas para embaixadores estrangeiros, fazer um comício em Londres durante o funeral da Rainha e usar tribuna da ONU como palanque eleitoral, a penúltima estultice de Bolsonaro — que agora tem seu próprio Alckmin, encarnado em Sergio Moro — foi a fala do último dia 14, sobre um encontro com meninas venezuelanas e coisa e tal. Na madrugada de domingo, o presidente fez uma live para se defender das críticas, mas não explicou o que quis dizer com a expressão "pintou um clima", apenas acusou o PT de deturpar suas declarações.
A primeira-dama e a ex-ministra e senadora eleita pelo DF, Damaris Alves, foram escaladas minimizar os danos. Michelle saiu em defesa do marido, argumentando que ele costuma dizer que “pintou um clima” de forma corriqueira. No entanto, o Estadão não encontrou a expressão numa base de dados que contém transcrições de 128 lives realizadas entre 2019 e 2022.
Questionado antes do debate televisivo na Band sobre o que quis dizer, o presidente-candidato ecoou o argumento da esposa, e sua campanha montou uma série de estratégias políticas, jurídicas e de marketing para defendê-lo. Os advogados conseguiram na Justiça Eleitoral a remoção do vídeo e a proibição da campanha adversária de usar o conteúdo na propaganda eleitoral do candidato — que preferiu não perguntar ao adversário sobre a frase durante o debate de domingo.
A primeira-dama e a ex-ministra e senadora eleita pelo DF, Damaris Alves, foram escaladas minimizar os danos. Michelle saiu em defesa do marido, argumentando que ele costuma dizer que “pintou um clima” de forma corriqueira. No entanto, o Estadão não encontrou a expressão numa base de dados que contém transcrições de 128 lives realizadas entre 2019 e 2022.
Questionado antes do debate televisivo na Band sobre o que quis dizer, o presidente-candidato ecoou o argumento da esposa, e sua campanha montou uma série de estratégias políticas, jurídicas e de marketing para defendê-lo. Os advogados conseguiram na Justiça Eleitoral a remoção do vídeo e a proibição da campanha adversária de usar o conteúdo na propaganda eleitoral do candidato — que preferiu não perguntar ao adversário sobre a frase durante o debate de domingo.
No Brasil, o governo e o conjunto da vida pública dependem integralmente de delegados de polícia, procuradores públicos e juízes criminais. O voto popular nunca valeu tão pouco: o candidato eleito talvez esteja no próximo camburão da Polícia Federal. Ou não, já que a alta cúpula do Judiciário sempre pode dar uma mãozinha.
O esforço anticorrupção começou a definhar quando aguardavam na fila por uma condenação personagens como Aécio Neves, Michel Temer e personagens como Lula e José Dirceu reconquistaram a liberdade. A pretexto de evitar a contaminação da Lava-Jato com a suspeição de Moro, o ministro Fachin armou o palanque do PT, mas não impediu o funeral do ex-magistrado, em cuja biografia já havia sido grudada a pecha da suspeição.
Graças à conjuntura tisnada pelo compadrio e entrecortada pelo malabarismo retórico, quem estava solto relaxou e quem estava preso se livrou. Restabeleceu-se o ambiente que vigorava antes do Mensalão. Abortou-se o cenário benigno que estava projetado para fase pós-Petrolão. As supremas togas continuam soando bem-intencionadas. Os fatos é que, de vez em quando, conspurcam as boas intenções. A imagem rachadinha da primeira-família, o procurador que não procura, a isenção dos ministros, os corruptos convertidos em heróis da resistência, e por aí segue a procissão.
Um país assim simplesmente não pode funcionar — não o tempo inteiro, como tem sido nos últimos anos. E o resultado está aí: o Brasil não consegue mais ser governado, porque os governantes não conseguem mais esconder o que fazem. O Centrão não só preside a Câmara como assumiu a coordenação política da Presidência e o cofre das emendas orçamentárias. Pode parecer que o crime não compensa, mas não é bem assim: quando ele compensa, passa a se chamar "questão processual".
A eleição presidencial a ser concluído no próximo dia 30 é uma reedição revista e atualizada do pleito plebiscitário de 2018, mas em 2018 Lula estava preso e se fez representar por um bonifrate. E o Bolsonaro de então era uma incógnita. Desta vez, o ex-presidiário, descondenado e reabilitado politicamente, disputa pessoalmente o Planalto, e agora se sabe que o Brasil dificilmente resistirá a mais quatro anos de governo do ex-capitão. Como desgraça pouca é bobagem, Sergio Moro se tornou o Alckmin do candidato à reeleição, e até gente que se julga muito bem formada risca o fósforo no barril das redes sociais para vez se encontra gasolina no fundo.
Triste época essa em que políticos e devotos que se dizem patriotas fazem de tudo para piorar a pátria. Vivo, Albert Einstein diria que "é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito!". Mesmo considerando que, segundo o Hino Nacional, o brasileiro tem "braço forte", há cargas que necessitam de braços em quantidade além da disponível.
O esforço anticorrupção começou a definhar quando aguardavam na fila por uma condenação personagens como Aécio Neves, Michel Temer e personagens como Lula e José Dirceu reconquistaram a liberdade. A pretexto de evitar a contaminação da Lava-Jato com a suspeição de Moro, o ministro Fachin armou o palanque do PT, mas não impediu o funeral do ex-magistrado, em cuja biografia já havia sido grudada a pecha da suspeição.
Graças à conjuntura tisnada pelo compadrio e entrecortada pelo malabarismo retórico, quem estava solto relaxou e quem estava preso se livrou. Restabeleceu-se o ambiente que vigorava antes do Mensalão. Abortou-se o cenário benigno que estava projetado para fase pós-Petrolão. As supremas togas continuam soando bem-intencionadas. Os fatos é que, de vez em quando, conspurcam as boas intenções. A imagem rachadinha da primeira-família, o procurador que não procura, a isenção dos ministros, os corruptos convertidos em heróis da resistência, e por aí segue a procissão.
Um país assim simplesmente não pode funcionar — não o tempo inteiro, como tem sido nos últimos anos. E o resultado está aí: o Brasil não consegue mais ser governado, porque os governantes não conseguem mais esconder o que fazem. O Centrão não só preside a Câmara como assumiu a coordenação política da Presidência e o cofre das emendas orçamentárias. Pode parecer que o crime não compensa, mas não é bem assim: quando ele compensa, passa a se chamar "questão processual".
A eleição presidencial a ser concluído no próximo dia 30 é uma reedição revista e atualizada do pleito plebiscitário de 2018, mas em 2018 Lula estava preso e se fez representar por um bonifrate. E o Bolsonaro de então era uma incógnita. Desta vez, o ex-presidiário, descondenado e reabilitado politicamente, disputa pessoalmente o Planalto, e agora se sabe que o Brasil dificilmente resistirá a mais quatro anos de governo do ex-capitão. Como desgraça pouca é bobagem, Sergio Moro se tornou o Alckmin do candidato à reeleição, e até gente que se julga muito bem formada risca o fósforo no barril das redes sociais para vez se encontra gasolina no fundo.
Triste época essa em que políticos e devotos que se dizem patriotas fazem de tudo para piorar a pátria. Vivo, Albert Einstein diria que "é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito!". Mesmo considerando que, segundo o Hino Nacional, o brasileiro tem "braço forte", há cargas que necessitam de braços em quantidade além da disponível.
Com J.R. Guzzo e Josias de Souza