domingo, 20 de novembro de 2022

NAS ASAS DA CORRUPÇÃO?

 

Lula sacudiu o mercado ao questionar a concentração do debate econômico em torno de temas como a estabilidade fiscal. Alckmin relativizou a reação do mercado financeiro, afirmando que fatores externos — e não a fala do chefe — influenciaram as oscilações do dólar e queda da Bolsa de Valores, além de defender o investimento do novo governo no combate à fome e à pobreza. Ele também apresentou a "PEC da Gastança", que contém o DNA da malandragem contábil que precipitou o fim do segundo mandato de Dilma e rendeu processos a integrantes de sua equipe econômica, como Guido Mantega, Arno Augustin e Nelson Barbosa. A canetada garante um gasto de R$ 70 bilhões a mais do que o previsto no orçamento original, totalizando R$ 175 bilhões

Além de não apontar qualquer fonte de financiamento, a retirada do Bolsa Família do teto (os R$ 400 originais + os R$ 200 extras) abre, por via indireta, um espaço orçamentário equivalente a R$ 100 bilhões para o futuro presidente gastar como quiser. Na prática, a conta é de R$ 275 bilhões, mas pode facilmente chegar a R$ 300 bilhões depois que tramitar pelas mãos do Centrão no Congresso. 
 
Para Felipe Moura Brasil, o discurso ecoou o velho petismo, que não assume a responsabilidade quando faz alguma besteira. "Se você faz uma sinalização de que vai continuar arrombando o orçamento e as contas públicas — que já estão arrombados — é claro que a sensibilidade é muito maior. Quando todo mundo já está ali na beira do precipício, um passo é a queda. Então é por isso que você tem uma reação mais forte", disse ele, que também comparou Lula a Bolsonaro, dizendo que "nenhum dos dois admite seus erros ou deixam que os outros digam que eles erraram".
 
"Temos um presidente 'de férias em exercício' no cargo. O governo Bolsonaro foi uma grande e fracassada campanha de reeleição. Acabada a campanha, acabou automaticamente o governo", prosseguiu Felipe. "Lula está repetindo uma coisa que Bolsonaro fazia, que é falar como se ele estivesse ainda em campanha e como se não houvesse consequências para as suas próprias falas, por ele ter sido eleito presidente da República. Então, temos reações do mercado aos ataques dele à responsabilidade fiscal porque é o velho Lula acionando o seu discurso-padrão e suas frases feitos, que ele repete há 30 anos em completo desacordo com aquilo que vem sendo costurado como frente ampla", concluiu o jornalista.
 
Sobre a viagem do presidente eleito ao Egito no jatinho do fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde, Felipe relembrou a relação promíscua que Lula sempre teve uma com empresários, envolvendo interesses e mordomias. Agora, antes mesmo de tomar posse, ele já está viajando para no jatinho de um amigo que foi preso temporariamente pela PF, firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público e confessou o crime eleitoral de caixa 2 em um caso envolvendo a campanha do tucano José Serra ao Senado. 
 
Observação: "Júnior da Qualicorp", como o empresário José Seripieri Filho é mais conhecido, é amigo de longa data de Lula. Ele esteve presente no casamento do petista (com Janja) e tem bom trânsito pelas esferas do poder e entre ministros do STF. Foi a bordo de seu Gulfstream G600 que o presidente eleito e sua comitiva voaram rumo à COP27. A aeronave está registrada nos Estados Unidos em nome da empresa TVPX, que administra patrimônios em nome de seus clientes. A informação que eu tenho é que não é emprestado. O proprietário está indo junto. Ele também vai participar da COP e estão indo juntos no mesmo avião. Estão indo mais pessoas, ex-governador, lideranças políticas, ambientais, todos juntos”, disse Alckmin em entrevista a jornalistas em São Paulo. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa de Lula, mas a equipe do petista não deu detalhes sobre a “carona”.
 
Felipe destacou que foi exatamente a suspeita de ter recebido "presentes" de empresários que originou as duas principais investigações contra Lula na Lava-Jato, que expuseram ligações do petista com empreiteiros da OAS e da Odebrecht. "No momento em que está chegando ao poder, Lula ganha esse luxo, essa mordomia daqueles que também são interessados no poder. Agora, qualquer medida que o novo governo tomar e que gere um benefício direto ou indireto a esse empresário, como é que essa carona vai ser vista?", pergunta o jornalista.

Seria de bom alvitre que Lula evitasse aproveitar a lua de mel dos eleitos que ainda não assumiram para exagerar nos gastos públicos. Uma excepcionalidade que pode ser permanente, como a licença para gastar acima do teto, torna o remédio um veneno.