terça-feira, 1 de novembro de 2022

O "DAY AFTER"


Depois de Bob Jeff, foi a vez de Carla Zambelli. O que espanta nos dois episódios é o desprezo a uma noção qualquer de proporção, de medida, de recato, de limite. Os caubóis do cercadinho perderam a prática do convívio com a vida real. São protagonistas de um enredo baseado no puritanismo armado, tão paradoxal quanto os roteiros de Hollywood. Enfim, segue o baile...

Lula, eleito com 60,3 milhões de votos, tornou-se o primeiro presidente a vencer três eleições diretas, e Bolsonaro, o primeiro a não conseguir se reeleger. Joe Biden parabenizou o petista menos de 40 minutos após a confirmação da vitória. Presidentes e primeiros-ministros de países como Portugal, Colômbia, México, Espanha, Cuba, Argentina e França também cumprimentaram o petista, mas, até a manhã de hoje, Bolsonaro continuava fechado em copas (enquanto ele não se manifesta, estradas são fechadas pelo menos 20 estados e no Distrito Federal).
 
Ontem, os aliados foram recebidos no Alvorada. No domingo, Bolsonaro acompanhou a apuração no palácio e os ministros eram informados, conforme chegavam, de que ele tinha ido dormir. Diante desse silêncio, alguns apoiadores do presidente reconheceram publicamente sua derrota e foram às redes sociais pedir serenidade.
 
Observação: Bolsonaro é o candidato que mais demorou a reconhecer o revés nas eleições. Derrotado por Lula em 2002, o tucano José Serra ligou para cumprimentar o petista por volta das 21h10. Em 2006, Alckmin parabenizou Lula às 21h30. Em 2010, Serra admitiu a derrota para Dilma duas horas e meia após o resultado. Em 2014, Aécio reconheceu a reeleição da presidanta às 21h30. Em 2018, no dia seguinte após a derrota, Haddad usou o Twitter para desejar sucesso a Bolsonaro.
 
Lula 
 tido, havido e reverenciado como o novo salvador da pátria  vai amargar forte oposição dentro e fora de um Congresso com "código de barras", orçamento secreto, toma-lá-dá-cá e coisa e tal. Não lhe basta o discurso de palanque. Será preciso fazer um movimento rumo ao centro — e até à direita, pois a pacificação do país não será tarefa fácil — e negociar com a barriga no balcão, já que o os parlamentares vão querer extrair todas as vantagens que o déficit público puder assegurar. 

Observação: Numa campanha marcada pela nulidade do debate eleitoral, Lula terceirizou ao apoio de economistas célebres à sua candidatura a garantia de uma ensejada austeridade com a gestão das finanças do país. Coube ao apoio dos ex-presidentes do BC Henrique Meirelles, Arminio Fraga e Pérsio Arida, além dos ex-ministros Pedro Malan e Edmar Bacha — além, claro, do vice Geraldo Alckmin — a esperança de um governo responsável e reformista. Mas não é o bastante. O presidente eleito precisa anunciar o quanto antes seu ministro da Fazenda, bem como uma reforma tributária e o compromisso de, caso revise a reforma trabalhista feita no governo Temer, não consolidar retrocessos em relação ao ambiente de negócios do país.
 
Josias de Souza apurou que um ministro do STF aconselhou lideranças do Centrão a "desembarcar de qualquer iniciativa que represente uma contestação golpista ao resultado das urnas". O togado teria dito que a corte está unificada em torno da defesa do resultado das eleições e "fechada" com o presidente do TSE. Ainda segundo o colunista, a resposta foi tranquilizadora, mas o Judiciário não tem uma expectativa positiva em relação a Bolsonaro. A conferir.

P. S. Minutos antes de eu fechar este post, Lauro Jardim publicou no Globo que Bolsonaro não vai contestar o resultado das urnas. Foi-lhe pedido que se pronuncie publicamente o quanto antes, para que "o país siga tranquilo o seu caminho". Pode até ser, mas parabenizar Lula pela vitória está fora de cogitação.
 
Triste Brasil.