quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

FIM DE CONVERSA

 

Há muito tempo que políticos fisiológicos se beneficiam de verbas governamentais. Quando se fala no escambo imoral entre Executivo e Legislativo, logo vêm à mente escândalos como os do Mensalão e do PetrolãoAté aí, nenhuma novidade: PC Farias (pau-mandado de Fernando Collor) tentou implantar um esquema parecido no início dos anos 1990. Mas nunca se viu nada como o orçamento secreto, trazido a lume pelo jornalista Breno Pires, do jornal O Estado de S. Paulo.  

Sob FHC, uma seleta confraria de parlamentares recebeu uma bolada para aprovar a PEC da reeleição. Antes, a Petrobras havia frequentado o noticiário por conta de desvios originados em indicações políticas (o saudoso Ricardo Boechat ganhou prêmio com matérias sobre o tema). Mas o aperfeiçoamento da tecnologia da corrupção se deu sob Bolsonaro, com os presidentes da Câmara e do Senado distribuindo R$ 16 bilhões em emendas impossíveis de rastrear.
 
Eleito sob a promessa de dar fim ao "toma-lá-dá-cá", o "mito" dos otários abriu as portas para o Centrão, que, em troca de apoio, implantou o orçamento secreto. A maior parte dessa operação ficou a cargo de Arthur Lira, o presidente da Câmara cujos superpoderes permitem exigir de Lula cargos e apoio a interesses escusos em troca de "governabilidade".
 
STF considerou inconstitucional o famigerado "orçamento secreto", mas Arthur Lira continua tentando manter o fluxo de recursos de emendas. Caso o enfrente, Lula se arrisca a ganhar um gigantesco inimigo, que tem por trás de si um contingente considerável de deputados do Centrão

Antes de se mudar, Lula vai submeter  o Alvorada  residência oficial da Presidência da República  a um processo de "desbolsonarização", que inclui varreduras para detectar escutas. E o mesmo será feito no Palácio do Planalto e na Granja do Torto. Planeja-se inclusive uma exoneração em massa de ocupantes de cargos comissionados, de modo a evitar que bolsonaristas alojados em funções de confiança sobrevivam à troca de guarda. Nesse entretempo, o sumo pontífice do lulopetismo continuará morando (a custas do erário) no hotel onde está hospedado. 

Observação: Repete-se agora algo que marcou o início da gestão Bolsonaro: Em 2 de janeiro de 2019, o então chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni foi aos holofotes para anunciar a "despetização do governo". Iriam ao olho da rua, segundo ele, todos os comissionados. Os demitidos passariam por uma entrevista. Na primeira leva, foram ao olho da rua 300 servidores. Deu no que está dando.
 

O brasileiro mais maduro sente saudade do tempo em que as transições eram mais tranquilas. No livro Histórias de Presidentes, Isabel Lustosa detalha a transição de Campos Salles para Rodrigues Alves. Ana Gabriela, mulher de Salles, enviou uma carta a dona Catita, filha mais velha do viúvo Rodrigues Alves, em que passava informações valiosas: 

"Quanto à lavagem de roupa, penso que a senhora deve começar lavando a roupa fora, até poder ajuizar por si mesma se convém fazer esse serviço em casa. Se quiser, recomendarei a lavadeira que me serviu durante quatro anos. É muito séria, muito pontual, lava e engoma bem. Mora na ladeira do Ascurra e não em cortiço, o que é uma garantia."
 
Hoje, as primeiras-damas não se falam, e seus maridos lavam a roupa suja na frente das crianças.

Triste Brasil.