terça-feira, 20 de dezembro de 2022

HAJA DINHEIRO


Na fábula da caverna de Ali-Babá, 40 ladrões disputavam o butim. No próximo governo, serão quase 40 ministérios — que não vão caber na Esplanada. Faltam cadeiras no CCBB. O "governo de transição começou com 30, 50, 100, 300, 500, e agora já se fala em mais de 1000. 
 
Cada ministro tem chefe de gabinete e secretário-geral, que têm chefes disso, daquilo e daquilo outro — uma profusão de cargos em comissão de gente que não precisa fazer concurso porque é dos partidos que compõem o governo. E tudo isso é pago com dinheiro dos contribuintes — como ensinou Margaret Thatcher, "não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos".
 
Outro exemplo de malversação do dinheiro dos contribuintes é o Fundo Rotativo da Câmara Federal — um orçamento paralelo destinado a bancar despesas médicas dos deputados em hospitais de luxo. No atual mandato, um grupo de 9 deputados torrou R$ 7 milhões com consultas médicas e internações hospitalares. Teresa Nelma (PSDB-AL) gastou R$ 2 milhões num tratamento de câncer. e Damião Feliciano (PDT-PB), vítima da Covid, mais R$ 1,2 milhão. Célio Moura (PT-TO) torrou R$ 875 mil com contas resultantes de um acidente de automóvel. Em 2019, o ex-deputado e então presidente Jair Bolsonaro recebeu um ressarcimento de R$ 435 mil pelas cirurgias a que foi submetido devido ao atentado que sofreu durante a campanha presidencial.
 
Bolsonaro gastou R$ 4,5 milhões com cartões corporativos no auge da campanha pela reeleição. Foram mais R$ 3,3 milhões com diárias e passagens de seguranças e assessores nas viagens do presidente. Em quatro anos de mandato, as despesas somaram quase R$ 50 milhões — confira os gastos nas gestões de Lula e Dilma. 
 
Eleito presidente pela terceira vez — após uma breve estada na carceragem da PF em Curitiba — o desempregado que de certo viajou ao Egito para participar da COP27. E foi de carona no jatinho do fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde

Já os nobres senadores Rodrigo Pacheco e Randolfe Rodrigues tiveram as despesas com passagens e hospedagem (cerca de R$ 1 milhão) custeadas pela Confederação Nacional da Indústria, que promoveu eventos na conferência. O Senado pagou apenas as diárias, no valor de R$ 10 mil para Randolfe e R$ 12,7 mil para Pacheco, mas a viagem impactou os cofres públicos — foram gastos R$ 83 mil com o deslocamento de seguranças e assessores da equipe de apoio de Lula.
 
A esta altura da transição, aquela gente que sabe fazer conta, mas caiu no conto da frente ampla criada pelo PT, deve estar se perguntando: "Xi, e agora?". A única resposta que me ocorre neste momento é o trecho em que o personagem Quincas Borba, de Machado de Assis, explica a Rubião, que seria o herdeiro da sua fortuna, no que consiste a sua filosofia. 
 
Em Machado de Assis, o Humanitismo é sátira do Darwinismo. No mundo do PT, é realidade grosseira, falaciosa, demagógica, mas sempre realidade. O que os petistas fazem desde que cresceram e se multiplicaram é disputar ferozmente as batatas brasileiras, naquele nós-contra-eles inventado por nós, quer dizer por eles. Jair Bolsonaro e os seus desvairados só acrescentaram um ingrediente às batatas.
 
Pouco mais da metade dos eleitores achou que, de novo nas mãos do PT, as batatas voltariam a ter o ketchup da democracia. Aquela gente que sabe fazer conta e aderiu a essa ideia também achou, para logo descobrir — depois que as batatas foram entregues a Lula — que o ketchup era pouco e se acabou. Nada de batatas para ela, portanto. Só para aquela outra tribo que ora é nós, ora é eles, a depender das conveniências petistas e de si própria: o Centrão velho de guerra pelas batatas brasileiras.
 
O petismo é um humanitismo. Aquela gente que acreditou em frente ampla é Rubião. Que não acabe louca, ao ficar chupando o dedo à procura de algum ketchup, enquanto assiste ao vencedor levando embora todas as batatas.
 
Com Alexandre Garcia, Lucio Vaz e Mario Sabino