sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O PALHAÇO SOMOS NÓS

 

Quatro anos atrás, num plebiscito travestido de eleição presidencial, sufragamos um dublê de mau militar e parlamentar medíocre para evitar que o fantoche de um ex-presidente presidiário fosse guindado ao Planalto. E deu no que deu. Há pouco mais de um mês, outorgamos ao retrocitado presidiário — ora convertido em descondenado e prestes a ser canonizado em vida — seu terceiro mandato, visando evitar que o escolhido em 2018 continuasse desgovernando esta banânia por mais quatro anos.


Observação: Falo "nós", mas deixo claro que não fui cúmplice desse desatino, e torço para que seja o último: considerando que o desempregado que deu certo já colheu sua septuagésima margarida nos jardins da existência... enfim... 

 

Como sói acontecer quando se abre a Caixa de Pandora — ou quando se liberta um efrite da garrafa —, a merda fede. Dias atrás, a 2ª turma do STF anulou as sentenças condenatórias proferidas pelo então juiz Sergio Moro contra o petista André Vargas (que chegou a ser vice-presidente da Câmara e está temporariamente sem mandato). À semelhança do que fez com Lula, as togas decidiram que a 13ª Vara Federal de Curitiba era territorialmente incompetente para julgar o caso de Vargas, que fora condenado por participar de um esquema de corrupção envolvendo contratos de publicidade com a Caixa e com o Ministério da Saúde. 


Observação: Em abril de 2022, a 5ª Turma do STJ negou por unanimidade o recurso apresentado pela defesa de Vargas; agora, por meio de nota, os advogados desse estrupício alardeiam que o STF "corrigiu um erro histórico". Pausa para as gargalhadas.

  

Era uma vez, num reino do faz-de-conta, um palhaço cujo poder de divertir as pessoas se tornou terapêutico. Todos que padeciam de tristezas agudas ou crônicas eram aconselhados pelo médico do reino a assistir ao espetáculo do histrião. Mas não há nada como o tempo para passar, e acabou que um desconhecido, tomado de profunda melancolia, procurou o bom doutor. Sem relutar, o esculápio receitou o circo como panaceia para quaisquer males daquela natureza. O paciente se levantou, olhou o médico nos olhos e disse: "A questão é que eu sou o palhaço".

 

Ou o Brasil defende seus valores e abomina os que chamam desonestidades flagrantes de espertezas políticas, ou continuará deitado eternamente em berço esplêndido, como o país do futuro que nunca chega e que tem um imenso passado pela frente.