segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

FRITO NA PRÓPRIA GORDURA

Antes de se refugiar na terra do Mickey Mouse, levou ao ar sua última transmissão ao vivo pelas redes sociais. "Eu busquei dentro das quatro linhas, dentro das leis, saída para isso aí", disse o ainda presidente, deixando nas entrelinhas que "isso aí" era posse de Lula. Em outro trecho, ele insinuou que faltou apoio para uma virada de mesa: "Certas medidas têm que ter apoio do Parlamento, do Supremo, de outros órgãos e instituições." Doze dias depois, cumprindo um mandado de busca e apreensão na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário da Segurança Pública do DF Anderson Torres, agentes da PF encontraram algo muito parecido com o esboço de um golpe

Tomada isoladamente, a minuta complica a situação de Torres na investigação sobre o Capitólio bolsonarista de 8 de janeiro; combinada com a live de final de ano, ela aproxima do ex-presidente o quebra-quebra que deixou um rastro de destruição no Congresso, no Planalto e no Supremo.
 
Ligando-se o decreto a episódios que marcaram o isolamento de Bolsonaro após a derrota na urnas, verifica-se que o ovo da serpente que destruiu as instalações dos três Poderes foi chocado no Alvorada. No final de novembro, após visitar seu chefe, o general Braga Netto, candidato a vice na chapa derrotada, disse a um grupo de bolsonaristas: "Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora". Um dia depois, Valdemar Costa Netto, mandachuva do PL, disse ter sido pressionado por Bolsonaro a ingressar com ação pedindo a invalidação de votos — que não só foi rejeitada como rendeu ao partido uma multa de R$ 22,9 milhões. 
 
Tudo somado e subtraído, fica claro que o "recolhimento" do capitão era apenas cenográfico. Ele operava no bunker do Alvorada para prolongar os acampamentos que pediam golpe no portão dos quartéis e articulava investidas contra a Justiça Eleitoral. As evidências estão documentadas em vídeos e folhas de papel. Nunca foi tão fácil investigar. E Alexandre de M
oraes está fritando Bolsonaro com a chama e a gordura que o próprio ex-presidente forneceu. Horas antes da consumação do infortúnio de Torres, preso na manhã do último sábado, o "mito" foi incluído no rol de investigados no inquérito sobre o Capitólio tupiniquim. Em menos de uma semana, a barbárie de 8 de janeiro caiu no colo do seu dono. 

Segundo Josias de Souza, o destino ofereceu a Bolsonaro a prerrogativa de definir o seu futuro, mas o ex-presidente exerceu com máxima plenitude a prerrogativa de desbravar seu próprio caminho para o inferno. E o fez em cinco lances:
 
1. Bolsonaro levou a mão à frigideira ao menosprezar a derrota.
 
2. Bolsonaro ligou o fogo ao fugir para Orlando, trocando o ritual da passagem da faixa presidencial pela companhia do Pateta.
 
3. Bolsonaro aumentou a chama ao incitar com sua dubiedade as falanges que invadiram os três Poderes.
 
4. Bolsonaro saltou para a beirada da frigideira ao compartilhar no Facebook, horas depois do quebra-quebra, um vídeo insinuando que a vitória de Lula foi uma fraude do TSE e do Supremo.
 
5. Bolsonaro foi empurrado para dentro do óleo quente do inquérito sobre o terrorismo bolsonarista graças a uma petição enviada ao STF pela PGR.