segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

VIAJANTES DO TEMPO (PARTE 3)

A VIDA É UM FILME QUE PRECISAMOS (VI)VER.

A Internet se popularizou entre usuários domésticos bem antes do advento das redes sociais e de buscadores como o Google oferecerem praticamente todo tipo de informação sobre praticamente qualquer coisa. 


Lá pela virada do século, fóruns de discussão em canais IRC (sistema de bate-papo baseado em texto) eram um "must", e foi num deles — chamado Artbell — que "TimeTravel_0" disse ser um soldado americano do ano de 2036 que fora incumbido de voltar a 1975 para adquirir um computador IBM 5100 — necessário, segundo ele, para depurar programas antigos e evitar o Efeito 2038. 

 

Observação: O IBM 5100 foi lançado em 1975 e retirado do mercado em 1982. O tal viajante disse ter voltado à época correta e conseguido um exemplar. Curiosamente, a Big Blue reconheceu que uma unidade dotada de uma rara interface — que permitiria ao programador acessar todos os códigos da empresa — havia desaparecido misteriosamente de seus depósitos. 

 

Durante mais de um ano, John Titor — esse era o nome do sujeito — detalhou seus deslocamentos temporais e fez revelações sobre o futuro. De acordo com ele, o CERN descobriria as bases para a viagem no tempo em 2001, e as máquinas do tempo, criadas para transportar pequenos objetos, seriam adaptadas para coisas grandes e seres humanos. O "viajante" chegou mesmo a postar diversos desenhos esquemáticos do projeto e uma foto de sua máquina — que chamou de "unidade de deslocamento no tempo de massa estacionária alimentada por duas singularidades duplamente positivas girando no topo".

 

A guerra civil que Titor profetizou para 2004 não aconteceu, a exemplo da Terceira Guerra Mundial — que teria início em 2015 e dividiria EUA em cinco países. Mas a "doença da vaca louca" aporrinhou pecuaristas nos anos seguintes, e a China realmente mandou um homem ao espaço em 2003. 


Após discorrer durante meses sobre a política norte-americana e assuntos como saúde e tecnologia, Titor desapareceu dos fóruns em março de 2001, deixando uma frase misteriosa ("traga uma lata de gasolina com você quando seu carro morrer na estrada") e uma miríade de perguntas sem respostas. 


Em 2009, o jornal britânico Daily Telegraph publicou uma matéria segundo a qual o tal viajante temporal era uma ficção criada pelos irmãos Larry e John Haber, respectivamente advogado e cientista da computação. Um detetive norte-americano encontrou um registro de marca com o nome de "John Titor Foundation", onde Larry era registrado como presidente, cuja sede não passava de uma caixa postal no estado da Flórida (EUA).

 

Para os teóricos da conspiração, as previsões não falharam, apenas deram a abertura temporal para que o viajante conseguisse corrigi-las a tempo de não ocorrerem. O próprio Titor avisou que alguns eventos poderiam não acontecer, pois o "modelo Everett-Wheeler da física quântica" estava certo: sua viagem ao passado criaria duas linhas do tempo — a original (vivida por ele) e outra, paralela, surgida após sua viagem ao passado.

 

Observação: Conhecido como "a interpretação de muitos mundos", o modelo em questão postula que todo resultado possível de uma decisão quântica na verdade ocorre em um "universo" paralelo" (de acordo com o "paradoxo do avô", se voltasse ao passado e matasse o próprio avô, o neto se tornaria uma pessoa diferente em outra linha temporal que não a dele (já que, na dele, ele não poderia existir). 

 

Talvez tudo isso não passe de uma fraude, mas, se for, quem a criou sabia muito bem do que estava falando. Até hoje, ninguém apareceu por aí dizendo ser o autor da brincadeira, e muitas questões levantadas por Titor jamais foram esclarecidas. 


Sites especializados surgiram para compilar as informações (em inglês) e analisar as falas do autoproclamando viajante temporal. A quem interessar possa, sugiro o John Titor Times, o John Titor’s Story e o Anomalies (que tem todas as postagens na íntegra).