domingo, 4 de fevereiro de 2024

ÀS VEZES É PRECISO MUDAR PARA TUDO FICAR IGUAL

 

Todo mundo mente. Uns mais, outros menos. De acordo com um estudo feito na Inglaterra, uma pessoa conta 3 mentiras, em média, durante uma simples conversa de 10 minutosPara alguns políticos, mentir é tão inevitável quanto respirar. Durante a durante a campanha de 2022, Lula prometeu não indicar amigo e advogado Cristiano Zanin para o STF. E mais: afirmou que faria "um governo de transição" e "passaria o bastão para gente mais nova", mas, ao saber que Joe Biden cogita disputar a reeleição, sentiu-se estimulado a concorrer ao quarto mandato.

Observação: Kertzman diz não saber se as pessoas eram mais ou menos mentirosas na época em que o escritor italiano Carlo Collodi criou o Pinóquio, nem se os políticos de outrora mentiam tanto quanto os de hoje, mas diz que só faltam o nariz e o corpo de madeira para o líder do mensalão se passar por Pinóquio 

Mal iniciamos 2023, a corrida eleitoral de 2026 começou. Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Michelle Bolsonaro, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Janja… À esquerda e à direita abundam nomes — o que seria saudável se não estivessem todos umbilicalmente atrelados a Lula e Bolsonaro

Não há razão para não surgirem lideranças políticas independentes desses dois satélites do mal. O Brasil é muito grande para continuar refém do atraso, e o número de eleitores que não votaram em nenhum dos dois comprova que é possível, sim, uma 'terceira via'. Mas sem uma agenda e um projeto verdadeiramente novo, em 2027 estaremos aqui repetindo mais uma vez essa mesma ladainha.

Lula parece não saber que a demanda do eleitorado é claramente de centro-direita, mas esse aspecto, traduzido nas eleições legislativas, revela outro problema ainda mais abrangente: o assim chamado "Brasil que trabalha e produz" rejeitou PT em várias oportunidades — a começar pelas ruas em 2013. O problema do xamã do PT é conquistar legitimidade para pacificar o país e superar seus maiores desafios — miséria, desigualdade e ignorância —, que continuam os mesmos há décadas. 

A maioria dos entrevistados pelo Datafolha condenaram o toma lá-dá-cá-instituído por Lula para obter apoio no Congresso, mas a pergunta que se coloca é: o que eles esperavam quando elegeram o pontífice pela terceira vez? 

Na campanha de 2018, Bolsonaro repudiou o que chamava de "velha política" e prometeu combater a corrupção e acabar com a reeleição. Eleito, amancebou-se com o Centrão para evitar que sua apoplexia golpista resultasse num processo de impeachment. Lula passou a campanha de 2022 defendendo alianças amplas contra Bolsonaro e criticando a entrega de grandes fatias do orçamento ao Centrão. Eleito, apoiou a recondução de Arthur Lira à presidência da Câmara e, ao compor seu ministério, privilegiou um "novo" Centrão. Mesmo assim, o governo continua enfrentando dificuldades para aprovar medidas provisórias importantes. 

No script empurrado por Bolsonaro para dentro do inquérito das joias sauditas, nada é o que parece ser. O depoente, que se apresentou ao delegado federal como um pobre-diabo e se acorrentou a mandamentos negativos, disse não saber do pacote que seu ministro trouxe para o Brasil nem o que levou seu ajudante de ordens e o então chefe da Receita Federal a tentarem reaver, no dia 29 dezembro de 2022, as joias apreendidas pelo Fisco.

O MPF farejou indícios de peculato e patrocínio de interesse privado nos atos do ex-presidente no caso da Muamba das ArábiasTambém chamou sua atenção o fato de Mauro Cid tentar desviar as joias para o acervo pessoal do chefe "através de uma aparente 'roupagem formal'" — maracutaia que só não se concretizou devido à "resistência" dos servidores da autarquia fiscal. De acordo com Fabio Wajngarten, a ex-primeira-dama deixou o estojo com joias exposto na cozinha do Alvorada por pelo menos dois dias. 

Fora do inquérito, Bolsonaro diz que faz e acontece; dentro dos autos, esforça-se para assegurar os dois objetivos estratégicos de seus defensores: colocar a culpa nos outros e não ser preso. Bolsonaro do depoimento lembra muito um personagem secundário da peça Júlio César, de Shakespeare.

Observação: Atiçados por Marco Antonio, os plebeus saíram à caça dos assassinos do imperador, mas esbarraram num cidadão pacato chamado Cinna. 'Matem-no, é um dos conspiradores!', gritou alguém. 'Não, é apenas Cinna, o poeta', retrucou outro alguém. E a sentença: 'Então, matem-no pelos maus versos'.

Mesmo inelegível, o capetão precisa ser punido. Tanto pelos crimes que cometeu durante sua abonável gestão quanto pelos maus versos.