segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O FIM DOS TEMPOS SEGUNDO SEI LÁ QUEM (PARTE 3)

INCÊNDIOS CAPAZES DE QUEIMAR MILHÕES DE HECTARES COMEÇAM COM UMA SIMPLES FAGULHA.
Depois de criar o céu, a Terra, o dia, a noite, e de dar nome aos bichos, às plantas e às coisas, Deus definiu as perplexidades e as situações inusitadas criando... Fernando Collor.
Com uma pena de oito anos e dez meses de reclusão a lhe pesar na lomba, o "Rei-Sol" fez uma aparição inesperada
 (Surpresa!) na cerimônia de posse do novo ministro da Justiça (Pasmo!), acomodou-se na fileira destinada a ex-presidentes (Assombro!) ao lado de Sarney, a quem já chamou de ladrão (Estupefação!), e a uma cadeira de distância de Alexandre de Moraes (Espanto!). Todos os oradores o ignoraram ao desfiar nomes em seus salamaleques; Lula e Lewandowski mencionaram Sarney e Moraes, fingindo não ver o personagem que se imiscuía entre eles.
Deveu-se a presença do futuro presidiário nos salões do Planalto à negligência do STF. Condenado em maio do ano passado, o ex-caçador de marajá de araque interpôs um recurso chamado tecnicamente de "embargo declaratório" — que não se presta a rediscutir o mérito do processo, mas apenas para reivindicar o esclarecimento de eventual contradição ou omissão na decisão. A PGR sustentou que o embargante tenta "reabrir a discussão da causa, promover rediscussão de premissas fáticas e provas, além de atacar, por meio de via indevida, os fundamentos do acórdão condenatório". 
O recurso já deveria ter indeferido e a execução da pena, iniciado, porém, numa evidência de que o crime é perto, mas a Justiça mora muito longe, o Supremo espera, espera, espera, espera...
Collor age como se desejasse reforçar com sua presença a crença segundo a qual, na política, nada se cria, nada se transforma, tudo se corrompe. 
Deus, como se sabe, está em toda parte. Mas deixou de ser full time desde que criou Collor.

Catástrofes naturais, asteroides, cometas, invasões alienígenas e guerras permeiam as previsões apocalípticas que os arautos do "juízo final" trombeteiam há milênios. Se dependesse dessa confraria de lunáticos, o mundo já teria acabado pelo menos treze vezes nos últimos trinta anos. 
 
Em 29 de abril de 1988, um fanático religioso de nome Leland Jensen previu que o cometa Halley seria puxado para a órbita da Terra, causando uma enorme destruição global (como foi dito no capítulo anterior, a passagem do cometa pela Terra havia ocorrido dois anos antes, de modo que, àquela altura, ele já estava bem longe no espaço. 

Em 26 de março de 1997, a aproximação do cometa Hale-Bopp gerou rumores de que uma nave alienígena vinha a reboque, e que a Nasa escondia a informação para evitar pânico. A história levou à criação da seita Heaven´s Gate, que dizia preparar os fiéis para o fim do mundo — no dia 29, trinta e nove sectários se suicidaram, esperando que suas almas fossem levadas pelos extraterrestres.  Além disso, interpretações duvidosas das centúrias de Nostradamus levaram os conspirólogos do apocalipse a alardear que o ano de 1999 "traria do céu o grande rei do terror”, mas as consequências não foram além do pânico que a notícia causou. 
 
No final do século XX, temia-se que os computadores enlouqueceriam quando os relógios saltassem de 23h59 de 31/12/99 para 00h00 de 01/01/00, pois o "00" seria interpretado como como uma volta a janeiro de 1900. Mas o "Bug do Milênio" foi "muito peido para pouca bosta". 
Foram gastos US$ 300 bilhões com medidas preventivas, e apenas umas poucas falhas foram registradas em terminais de ônibus na Austrália, em equipamentos de medição de radiação no Japão e em testes médicos na Inglaterra. 

Em Brasília, montou-se uma “sala de situação” do setor elétrico para lidar com eventuais distúrbios no fornecimento de energia; o então governador de São Paulo criou um site para acompanhar os efeitos da “catástrofe” (havia preocupação em áreas-chave, como saúde, segurança pública, transportes, recursos hídricos e administração penitenciária), e o prefeito da capital paulista colocou 2 700 funcionários da CET de prontidão no Réveillon, antevendo a possibilidade de panes em semáforos e congestionamentos anormais (quando os relógios deram meia-noite e nada de incomum aconteceu, os servidores foram desmobilizados e puderam curtir a virada do século, ainda que com algum atraso).
 
Observação: Os computadores dependem de um relógio interno para executar corretamente diversas tarefa, como verificar se sua conta de telefone venceu ou se está na hora de ligar a iluminação pública, por exemplo. Assim, achava-se que o famigerado bug faria os servidores das empresas de telefonia entenderem que você estaria devendo 100 anos de serviço, o que provavelmente resultaria na suspensão de sua linha e na cobrança de multas e juros que você não conseguiria pagar nem sem vivesse outros 100 anos. No caso das luzes, a cidade poderia ficar às escuras se o programa interpretasse que o dia seguinte não havia chegado — e ele jamais chegaria, a menos que alguém explicasse ao software que 00 é maior que 99. Em meados dos anos 1950, quando os primeiros mainframes foram criados, a quantidade de dados que eles eram capazes de armazenar caberia num prosaico disquete de 1,44 MB (tipo de mídia que só seria criada décadas depois). Portanto, escrever o ano com dois dígitos em vez de quatro representava uma economia colossal. Além disso, achava-se que os softwares de então seriam aposentados bem antes da virada do milênio — o que realmente aconteceu, só que ninguém levou em conta que os novos programas continuaram a registrar o ano com dois dígitos para manter compatibilidade com os antigos. 
 
Em 1986, Richard Noone publicou 5/5/2000 ICE: THE ULTIMATE DISASTER, no qual anotou que o fim do mundo decorreria de um alinhamento de planetas que cobrira a Antártida com uma camada de gelo de 5 quilômetros de espessura. Ninguém morreu congelado, mas o livro vendeu feito pão quente. Anos depois, o apresentador cristão de rádio e TV Harold Camping previu que uma série de terremotos assolaria o planeta em 21 de maio de 2011, e que somente 3% da população mundial iria para o céu. Quando a data passou, ele mudou a previsão para 21 de outubro e disse que em maio teria havido somente um “julgamento espiritual”.
 
Também em 2011 circulou pelo mundo o temor de que o "Arrebatamento" estava próximo, e que Jesus voltaria do Reino do Céu para resgatar os justos de alma pura e condenar os pecadores a serem governados pelo anticristo — que seria auxiliado por um falso profeta e a própria Besta do Apocalipse — e enfrentariam um caos que duraria sete anos. Depois desse período, Jesus voltaria com seu exército dos justos para instaurar a paz e reinar soberano por mil anos, quando finalmente ocorreria o Juízo Final. Pelo visto, o Messias decidiu seus planos!
 
Uma antiga crença Viking relacionada ao ciclo da vida, morte e renascimento preconizava que Odin, o principal deus do panteão nórdico, seria morto por um lobo gigante em fevereiro de 2014, quanto então o mundo acabaria e os dois únicos sobreviventes dariam início a uma nova civilização. Outra previsão apocalíptica, mas embasada em pesquisas científicas, alardeou que a Terra deixaria de girar em 16 de janeiro de 2013, causando furacões e terremotos que poriam fim à raça humana. 
 
De acordo com um artigo publicado na "Nature Geoscience" em janeiro do ano passado, o núcleo interno da Terra "quase parou de girar em 2009 e inverteu seu sentido de sua rotação". A matéria foi assinada por pelos cientistas Xiaodong Song e Yi Yang, da Universidade de Pequim, que pesquisam o fenômeno desde 1995. 

A rotação do núcleo interno é impulsionada pelo campo magnético gerado no núcleo externo e equilibrada pelos efeitos gravitacionais do manto. Para conduzir a pesquisa, Yang e Song analisaram ondas sísmicas de terremotos quase idênticos que atravessaram o núcleo interno da Terra seguindo trajetórias semelhantes desde a década de 1960. Ainda segundo os pesquisadores, "um ciclo de oscilação dura cerca de sete décadas", o que significa que o núcleo muda de direção aproximadamente a cada 35 anos.

Observação: Processadores de 32-bit deixarão de contar o tempo às 03h14 de 19 de janeiro de 2038. A partir daí os computadores deixarão de diferenciar 2038 de 1970 (o primeiro ano em que todos os sistemas atuais passaram a medir o tempo). Quando o limite de 2.147.483.647 segundos for atingido, as máquinas deixarão de computar os segundos seguintes, darão início a uma contagem negativa (de -2.147.483.647 até zero), deixarão de funcionar ou continuarão funcionando com a data incorreta. A boa notícia é que a Microsoft distribui versões de 64-bit para o Windows desde 2005, e o macOS opera exclusivamente em 64-bit desde 2011. Assim, chips de 32-bit serão coisa do passado em 2038, mas não se descarta a possibilidade de alguns dispositivos específicos sofrerem com o bug, especialmente em infraestruturas de ambientes industriais.