quinta-feira, 27 de abril de 2023

AINDA SOBRE O ESQUELETO E AS ASSOMBRAÇÕES


Candidato à Presidência, Bolsonaro posava de ex-militar probo, de origem humilde, que defendia a família e comia pão com Leite Moça no café da manhã trajando uma patética camiseta pirata do Palmeiras e calçando chinelos RiderEleito, fingiu ser avesso ao uso de cartões corporativos, mas abasteceu a cozinha palaciana com camarões evisceradosbacalhau dessalgadofilé-mignon, picanhapaçoca, castanha de caju, lasanha, iogurte, pipoca de micro-ondas e bolacha recheada, além, é claro, de muito Leite Moça — em 2019 foram compradas 15 caixas em abril, 30 em outubro e 20 em dezembro. 

Ao longo da tenebrosa gestão do capetão, cartões corporativos bancaram viagens de lazer da então primeira dama, diárias de hotel para zero dois "trabalhar" em home office, combustível, alimentação e hospedagens nas famigeradas motociatas e outras despesas que tais. Para evitar que esse descalabro se prolongasse por mais quatro anos, os brasileiros reconduziram ao Planalto o dublê de ex-presidente e ex-presidiário que, a pretexto da destruição promovida pelo seu antecessor no Alvorada, se hospedou com a nova primeira-dama na suíte presidencial do hotel Meliá. No dia 18 de janeiro, as diárias já somavam mais de R$ 216 mil, e outros R$ 379.428 foram gastos na compra de mobília para a residência oficial da Presidência. De acordo com o Blog Vozes, só em janeiro o petista torrou R$ 500 mil em diárias e passagens de seguranças e assessores.

Observação: Até o final do mês, Lula completará 18 dos 120 dias iniciais de seu mandato no exterior, com quatro viagens, seis países e quase duas voltas ao mundo — um recorde desde a redemocratização. Sua viagem à China me trouxe à memória uma inspiradíssima manchete que o Planeta Diário publicou em 1988: DEPOIS DA CHINA, SARNEY IRÁ À MERDA.

Em vez de cuidar do próprio quintal, o descondenado-em-chefe — sabe-se lá se por ingenuidade ou megalomania — insiste em meter o nariz onde não é chamado, como fez ao se posicionar a favor da Rússia na guerra contra a Ucrânia. A obsessão de se tornar um líder internacional sem resolver as questões internas do país que governa é antiga, e foi estimulada por Barack Obama, que o classificou como "o cara" num evento internacional. Mas não demorou para que o presidente norte-americano se arrependesse: em entrevista a Pedro Bial, ele fez comentários negativos sobre Lula e relembrou que não tinha conhecimento das denúncias de corrupção quando fez o elogio.
  
Em Lisboa, o primeiro-casal tupiniquim se hospedou no Hotel Tivoli, que fica na área mais valorizada da capital portuguesa e é cercado por lojas de luxo, como Cartier, Gucci e Louis Vuitton. As diárias chegam a custar € 4.000 (cerca de R$ 22.000 na cotação atual), e a suíte presidencial, de 270 m², dispõe de closet, salas de estar e jantar, cozinha, banheiro com walk-in shower e banheira, além de dar acesso a mordomias exclusivas. 

Na sexta 21, Janja foi vista fazendo compras na loja da grife italiana Zegna, especializada em roupas masculinas. Indagada se havia comprado um presente para o marido, ela não respondeu, mas a chuva de críticas levou-a a postar no Twitter uma foto de Lula usando sua nova gravata de  170 (cerca de mil reais pelo câmbio atual).

Por falar dez vezes antes de pensar, Lula coleciona críticas em ambientes tão diversos quanto a Casa Branca e a casa do filho e se ocupa da tarefa de governar e de fazer oposição a si mesmo. O presidente diz não pensar em outra coisa que não ajudar os pobres, mas esbanja o dinheiro dos contribuintes com luxos e mordomias totalmente desnecessários. Se não há verba para cuidar da "fome", como diz sua excelência, como há verba para a decoração do Alvorada? Será que ele acha que está ajudando os pobres comprando (para uso pessoal e com dinheiro arrancado do pagador de impostos) um sofá de R$ 65 mil e uma cama de R$ 42 mil? 

Como bem disse J.R. Guzzo — que, neste caso específico, está coberto de razão —, trata-se de uma cena de deslumbramento hipócrita, brega e explícito. Num país de miseráveis (são 120 milhões de pessoas passando fome, segundo fontes do próprio governo), não faz o menor sentido torrar centenas de milhares de reais com mobília, diárias em hotéis caríssimos e outras frescuras.  
 
Desde que foi tirado da prisão por decreto do STF, safando-se da pena que cumpria por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula se convenceu de que é Deus. Hoje, transformado em presidente do Brasil, acha que é Deus elevado ao cubo, e vem dando sinais evidentes — e cada vez mais frequentes — de que deixou de perceber a existência de qualquer relação entre o que faz e o que seria a sua obrigação mínima de fazer como homem público.
 
Sem uma base consolidada, o presidente de turno vem sendo pressionado pela oposição, que já oficializou 7 pedidos de impeachment, 120 ações na PGR e quase 20 pedidos de informações no Congresso. E a situação deve piorar agora que a CPMI dos atos antidemocráticos for instalada (isso agora são favas contadas). Mesmo que ainda não haja
 condições políticas para se avançar com um pedido de impeachment, já se fala à boca pequena que, se continuar por esse caminho, Lula não durará muito tempo no cargo — ou, na pior das hipóteses, terminará o terceiro mandato regurgitando demagogia sobre escombros. 

Triste Brasil.