Em 2022, mais de 700 acadêmicos e pesquisadores importantes por trás das principais empresas de Inteligência Artificial foram indagados sobre os riscos futuros da tecnologia. Metade deles afirmou que existe uma chance de 10% ou mais de extinção da raça humana (ou desempoderamento severo e permanente), e que sistemas de IA não deveriam se misturar com a vida de bilhões de pessoas num ritmo mais rápido do que as culturas são capazes de absorvê-los com segurança, sendo portanto imprescindível avançar com cautela e não se deixar guiar por uma corrida para dominar o mercado.
Geoffrey Hinton, conhecido como "o poderoso chefão da IA" no Google, disse com todas as letras que a sobrevivência da humanidade está ameaçada pelo avanço da tecnologia que ele ajudou a desenvolver. E são da mesma opinião o bilionário Elon Musk e mais de mil pesquisadores, especialistas e executivos do setor de tecnologia, que recomendam uma pausa de seis meses no desenvolvimento de novas ferramentas de IA.
O espectro da IA assombra a humanidade desde meados do século XX, mas até recentemente essa estava (ou parecia estar) mais para coisa de ficção do que a debates científicos sérios. É difícil para a nossa mente assimilar as novas capacidades do GPT-4 e ferramentas similares, e ainda mais difícil entender a velocidade exponencial com que essas ferramentas estão desenvolvendo recursos cada vez mais avançados e poderosos. A linguagem é o "sistema operacional" da cultura humana. Dela emergem o mito e as leis, os deuses e o dinheiro, a arte e a ciência, as amizades e as nações — e até mesmo o código computacional. Ao obter o domínio da linguagem, a IA se apodera da chave-mestra da civilização — dos cofres dos bancos aos santos sepulcros.
O que significaria para os humanos viver em um mundo onde um grande percentual de histórias, melodias, imagens, leis, políticas e ferramentas fossem moldadas por uma inteligência não humana, que sabe explorar com eficiência sobre-humana as fraquezas, preconceitos e vícios da mente humana, bem como criar relacionamentos íntimos com seres humanos? Em jogos como o xadrez, nenhum ser humano pode esperar vencer um computador. O que acontece quando a mesma coisa acontecer com a arte, a política e até a religião?
A inteligência artificial pode engolir tudo que produzimos ao longo dos séculos e nos transformar em meros espectadores ou peões de um jogo cósmico que não compreendemos, mas também pode nos elevar a novos patamares de criatividade e cooperação. A escolha é nossa — mas só se agirmos agora. A preocupação dos pesquisadores já é considerada por governos, como o dos Estados Unidos. A Casa Branca convocou chefes da Google, Microsoft e OpenAI, que opera o ChatGPT, para discutir com a vice-presidente Kamala Harris uso das tecnologias no curto e no longo prazos.
Com O Globo