quinta-feira, 22 de junho de 2023

DIREITA IDENTITÁRIA

 

Os protestos de junho de 2013 permanecem um enigma a ser desvendado. Embora a gênese tenha sido a insatisfação da população com o aumento da tarifa do transporte público, os efeitos são diversos e seguem em processo de compreensão. Já o porquê de o país ter transitado de um presidencialismo de coalizão para uma rotina de colisões entre o Executivo e o Legislativo não é um mistério tão difícil de ser elucidado.
 
Predomina no Parlamento uma visão de mundo diferente da que prepondera no Planalto e sua área de influência. Não é um dado novo e, em governo eleito por um triz, trata-se de cenário mais que esperado.
 
Nos governos anteriores do PT, havia uma grande massa meio amorfa que prestava submissão ao Executivo. Devido à preferência pelas benesses do poder em curso, dedicava-se primordialmente ao exercício do fisiologismo. A prática continua em cartaz 
— e até mais agressiva num Congresso de poderes reforçados. Só que a ela se juntou o fator ideológico, e isso requer mudanças de procedimentos.
 
Se antes as negociações já precisavam ser feitas caso a caso, em geral mediante a concessão de alguma vantagem, agora é preciso levar em conta também o interesse do parlamentar em relação aos valores da respectiva base eleitoral. Por isso, se o governo insistir em pautas que não atendam ao quesito identitário, vai colecionar quantas derrotas forem as vezes em que tentar ignorar a existência dessa alteração no ambiente congressual.

ObservaçãoApós meses segurando o pagamento de emendas, o presidente-viajante liberou R$ 2,4 bilhões no início deste mês (a soma dos pagamentos de março, abril e maio não ultrapassou R$ 27 milhões). A liberação das emendas parlamentares é a principal demanda das lideranças do Congresso, principalmente da Câmara dos Deputados, onde o governo enfrentou maus momentos. O Ministério da Saúde é a pasta responsável por 98,83% das emendas pagas até o momento — até porque a pasta é a principal demanda do presidente da Câmara. Além da indicação de emendas, há cobranças de liberação de cargos — que até o momento estão represados na Casa Civil.

Triste Brasil.
 
Com Dora Kramer e Portal Metrópoles